Gato volta para casa depois de três anos desaparecido; e esse não é um fato incomum
Carolina Werneck
09/05/2018 15:05
Para especialista, os gatos fogem porque o ambiente da rua se torna mais desafiador que o de dentro de casa. Foto: Unsplash
Foi em uma madrugada de 2015 que o gato Larry se envolveu em uma confusão na rua da casa em que morava, em São Carlos, no interior de São Paulo. Em seguida, desapareceu. O gato costumava dar umas escapadas de casa, mas naquele dia , Larry simplesmente não voltou.
Só reapareceu quase três anos depois, na tarde do último sábado (5), andando tranquilamente sobre o muro da casa que abandonou. Quem conta essa história de partidas e chegadas é Luana Carducci, 13, tutora de Larry. Foi ela quem tomou um susto quando deu de cara com o bicho voltando para casa como se nada tivesse acontecido.
“Ele veio andando pelo muro, bem calmo. Olhou para mim e começou a miar. Chamei o nome dele, ainda surpresa, e percebi que era ele pela manchinha abaixo do pescoço e a forma como ele estava”, conta a tutora. A família não entendeu absolutamente nada. Por onde andou, ninguém sabe.
o larry tinha sumido a uns 3 anos e a gente pensou que alguém tinha pegado ele mas aparentemente ele só foi viajar pelo mundo pic.twitter.com/160QVkuZ0T
Mas o mistério do longo desaparecimento e súbito retorno de Larry pode não ser tão grande assim. Para Fernando Félix, adestrador de animais da Eduque Meu Cão, é possível que o gato tenha tentado voltar para casa antes. “Foi feito um estudo colocando GPS na coleira de alguns gatos. O que se observou é que o gato, quando foge, escolhe uma região e explora aquela região. Então, provavelmente o Larry ficou ali perto de casa. Ele pode até mesmo ter tentado voltar algumas vezes e a janela estava fechada, ou algo assim e ele não conseguiu entrar.”
A teoria é corroborada pelo fato de que os gatos têm hábitos noturnos. Se Larry tentou uma reaproximação nesse período, é provável que não tenha sido notado pela família de Luana.
Naturalmente fujões
Histórias como a de Larry não são incomuns. Quando Luana compartilhou em sua conta no Twitter o que tinha acontecido com o gato, muita gente apareceu com narrativas parecidas. Mas por que os gatos gostam tanto de dar essas escapadas?
O gatos precisam “trabalhar” o instinto selvagem, diz o especialista. No cérebro do gato, ainda há a necessidade de caçar, se esconder, se proteger. “Então a parte de fora de casa acaba sendo mais interessante que a parte de dentro. O mundo é mais emocionante lá fora. O gato consegue brigar, se relacionar com outros gatos e tudo mais”, explica Félix.
Larry, por exemplo, já vinha dando sinais de que preferia a liberdade das ruas à tranquilidade do lar. “Ele ficava muito pouco em casa. Saía e só voltava para comer e dormir. Às vezes ele não voltava porque ficava em um mato do outro lado da rua. Era onde a maioria dos gatos ficava”, conta Luana.
Pode ser que, em seus anos de vida errante, Larry tenha até mesmo formado uma família, como avalia Félix. “Ele provavelmente formou um grupo, constituiu família ou algo assim. Aí, em um momento em que estava passando ali por perto, resolver dar uma conferida nas coisas.” Ou seja, o gato realmente seguiu o baile, como dizem. Nem ligou para o sofrimento de Luana, que já estava acostumada a ter o parceiro deitado aos pés da cama enquanto ela dormia.
Para Félix, a primeira recomendação para quem quer evitar as fugas é colocar telas nas janelas. Além disso, o enriquecimento do ambiente em que o gato vive é fundamental. “É preciso preparar o ambiente para que o gato se divirta sozinho. Lugares em que ele possa subir, como prateleiras, brinquedinhos atrás dos quais ele possa correr. O ideal é não deixar que o gato fique entediado.”
O adestrador explica que não há um treinamento específico para impedir as fugas. O mais próximo disso é criar um trauma no bichinho. Mas esse tipo de prática não é recomendável porque o trauma sempre precisa estar associado a alguns fatores. “Eu posso ensiná-lo a não pular janelas, mas ele vai desenvolver um medo enorme de todas as janelas, então não vale a pena”, avalia.
Muito defendida por quem quer manter os fujões em casa, a castração nem sempre resolve o problema. “Ela ajuda porque diminui os impulsos sexuais. O gato fica com menos vontade de sair, caso as saídas sejam para cruzar, defender território e coisas assim. Mas, se seu gato estiver entediado, a castração ajuda muito pouco, porque o gato não vive menos por ser castrado”, afirma o especialista.
Meu gato voltou, e agora?
Se seu gato passou tempos desaparecido e te pegou desprevenido com um retorno triunfal, nada de pânico. A primeira medida é levá-lo a um veterinário para garantir que está tudo em ordem com a saúde do dissimulado. “Ele pode estar contaminado com parasitas, bactérias, fungos. Então é bom checar tudo para tratar qualquer problema o quanto antes”, diz Félix.
Luana conta que Larry estava mais gordinho que antes, mas sua saúde estava impecável. “Nós o levamos para checar se estava tudo realmente bem e, por incrível que pareça, está! Ele conseguiu se manter por três anos, enquanto eu estava triste.”
Depois do check up inicial, além de curtir a companhia do parceiro dado como perdido, outras medidas são necessárias. “Na rua ele passou muito tempo trabalhando duro para sobreviver. Então, se ele deixar de trabalhar duro, ele pode entrar em depressão. Por isso, para gatos que já fugiram é ainda mais importante o enriquecimento do ambiente. Nada muito complexo. É uma boa ideia, por exemplo, instalar uma prateleira no alto da parede, a uns dois metros de altura. E aí, embaixo dela, fazer uma coluna com cordinha de sisal enrolada em um cano de PVC. Só com isso o bicho já fica bem mais tranquilo”, aconselha Félix.