Saúde e Bem-Estar

A hora de cuidar deles

Jennifer Koppe
30/10/2006 00:46
jenniferk@gazetadopovo.com.br
Para os pais, não é fácil perder a autonomia e ter de depender dos outros para continuar vivendo. Já para os filhos, é ainda mais difícil compreender a inversão de papéis e perceber que aquele que foi seu porto seguro agora está precisando de ajuda.
Milhares de famílias enfrentam essa mesma situação. Quando os pais sofrem de alguma doença degenerativa como o mal de Alzheimer ou se tornam dependentes por causa das limitações naturais do processo de envelhecimento, quase sempre cabe aos filhos, ou a pelo menos um dos filhos, assumir os cuidados e se responsabilizar pela saúde e bemestar de quem lhe deu a vida.
Ter um cuidador é fundamental para o doente. No caso de uma doença degenerativa, não dá para esperar sinais de recuperação ou de melhora, mas se o cuidador, além de ter amor pelo familiar, estiver bem preparado, pode melhorar a qualidade de vida dele e proporcionar momentos de alegria e prazer.
O problema é que ser o cuidador principal de alguém é uma tarefa extremamente desgastante. Dependendo da idade ou do avanço da doença, a pessoa se torna totalmente dependente e precisa de auxílio a todo momento. “O cuidador se vê perdido diante das decisões e das dificuldades que precisa enfrentar. Existe a sobrecarga financeira, de ter de arcar com o custo dos tratamentos e da medicação; a emocional, por ver o ente querido fragilizado; a física, dar banho, trocar a fralda, carregar o peso de uma pessoa adulta; e a psicológica, pois é muito complicado ter de lidar com quem não compreende que você está ali para ajudá-lo”, enumera o médico Rodolfo Augusto Pedrão, geriatra do Hospital das Clínicas do Paraná e do Hospital Ecoville.
A professora Adalnice Lima Passos, 56 anos, ficou responsável por cuidar do pai Adhail, que morreu há dois anos com 79 anos. Para ela, o mais difícil de toda a experiência foi perceber que o pai não tinha mais condições de se autogerenciar. “Tive que pedir uma procuração para poder organizar a sua vida. Foi duro para ele aceitar essa incapacidade”, conta. Os momentos de intimidade também foram constrangedores. “Tive que dar banho, trocá-lo. Antes, eu não tinha esse tipo de relação com o meu pai.”
Muitos cuidadores acabam abdicando de sua vida pessoal para se dedicar integralmente ao paciente. Abandonam o trabalho, a família e os cuidados com si mesmo. Este isolamento, aliado a alta de carga de estresse física e emocional pode levar à depressão. É a chamada síndrome do cuidador. “Quando essa pessoa está diante do doente, se depara com a possibilidade da perda. Muitos sentimentos são despertados dentro dela. Sentimentos como o desamparo, a culpa e a frustração”, explica a neuropsicóloga Samanta Blattes da Rocha, do Hospital Ecoville.
Serviço: Edélsio Alves Júlio (gerontólogo), fone (41) 3236-1717 / Samanta Blattes da Rocha (neuropsicóloga), fone (41) 3029-9540.