Saúde e Bem-Estar

Cuidado com idoso vai além da técnica

Érika Busani
08/05/2006 00:43
erikab@gazetadopovo.com.br
A rotina da casa do aposentado Artemio Marin, 84 anos, mudou há poucas semanas. Doente, com dificuldade de locomoção, sempre recebeu cuidados da própria família. “Quando ele tem as crises, fica debilitado. Ele é pesado e estava cada vez mais difícil, principalmente para minha mãe”, conta a filha Chistiane, 38 anos. Dona Edevirge tem 83 e resistiu, mas acabou cedendo à idéia de contratar ocasionalmente um cuidador.
Foi aí que entrou José Domingos, 45. Ele, que já havia trabalhado voluntariamente em um asilo, hoje presta serviço de cuidador. “Aquilo me cativou. Gosto de pensar que mais tarde, se eu precisar, posso ter alguém que vai me acolher.” Quanto aos pré-requisitos para a função, Domingos responde: “tem de gostar, ter paciência, carinho para trabalhar nisso.”
É justamente a linha de pensamento do neurogeriatra curitibano Paulo Leite. “Um cuidador displicente, que não dê muita atenção, piora muito a condição psicológica do idoso. Já um profissional adequado, que saiba lidar com os conflitos, tenha boa vontade e proporcione carinho pode ajudar enormemente na evolução do paciente.”
Mas como achar um profissional adequado, com as características humanas necessárias somadas ao conhecimento técnico, também importante nesses casos? Não é missão das mais fáceis. Algumas agências de empregos indicam cuidadores, mas não treinam nem se responsabilizam “por atos de terceiros”, conforme uma empresa do ramo consultada pela reportagem informou. A única garantia que se dá é a conferência de três referências fornecidas pelo candidato ao emprego. Ou seja, coisa que qualquer um pode fazer, sem precisar pagar 80% do primeiro salário do contratado à agência.
“Não existe uma formação bem definida”, lamenta Leite. Auxiliares ou técnicos em enfermagem têm noções de atendimento, mas não recebem treinamento para lidar com idosos, salvo raras exceções. “A pessoa precisa ter boa vontade, responsabilidade. É muito individual.” A indicação do médico, no hospital ou mesmo de conhecidos é o caminho mais usado por quem precisa desse tipo de serviço.
Vale ressaltar que há vários níveis de cuidados com idosos. Alguns precisam mais de uma companhia por estarem solitários, mas não têm qualquer dependência – às vezes apenas tomam remédios em horários definidos. Nesse caso, um vizinho ou amigo pode fazer as vezes de “dama de companhia”. Outros, necessitam de leve ajuda para se locomover ou comer, por exemplo. Com boa vontade, ainda dá para ser o parente ou conhecido sem instrução técnica. A partir daí, quando é preciso cuidados como trocar fralda, dar banho e prestar socorro em situações de emergência, o treinamento é indispensável. Por fim, para os que precisam de cuidados invasivos como injeções ou alimentação intra-venosa, apenas enfermeiros estão habilitados.
Serviço: Cuidar & Companhia, fone 4002-4499 / Paulo Leite (neurogeriatra), fone (41) 3027-3930.