Saúde e Bem-Estar

Diferentes visões sobre o envelhecimento

Érika Busani, e-mail erikab@gazetadopovo.com.br
03/06/2007 20:01
“Nunca serei velho. Para mim, a velhice começa 15 anos depois da idade em que eu estiver”, disse o milionário norte-americano Bernard Baruch, que morreu aos 95 anos. A idade que importa é a do espírito, diria outro. Afinal, em que idade realmente envelhecemos?
Ao que parece, tudo depende do passar do tempo. Explico: para os mais jovens (de 16 a 24 anos), 66 anos e 3 meses, em média, é o momento da chegada à velhice. Quem tem de 25 a 59 anos é mais benevolente, adiando a data para os 68 anos e 11 meses. E quem já passou dos 60, empurra mais um pouco, para os 70 anos e 7 meses. Ou seja, se você tem 20, pode achar 50 o fim da vida, mas se já está chegando perto do meio século, prefere negociar mais uns anos com sua consciência.
Os números são resultados da pesquisa “Idosos no Brasil – Vivências, Desafios e Expectativas na 3.ª Idade”, realizada em abril pela Fundação Perseu Abramo e pelo Sesc, que traçou a percepção da população sobre a chegada da velhice.
E ela não é das melhores. Noventa por cento dos não idosos e 88% dos idosos associam essa fase com aspectos negativos, como doença, debilidade física, desânimo e perda da vontade de viver. Mas a visão depreciativa parece se aplicar mais aos outros, já que 53% dos maiores de 60 anos não se sentem idosos e se dizem satisfeitos ou felizes (48%), com disposição para seus afazeres (29%), com ânimo e vontade de viver (27%).
Se fizermos a mesma pergunta a profissionais de diversas áreas, as respostas até que se parecem – o que vale mesmo, para a maioria, é a maneira com que se encara a vida – mas algumas respostas chegam a ser cruéis.
É o caso do relato do que acontece com nosso esqueleto e com a nossa musculatura. “A partir dos 30 anos, só perdemos em termos de ossos e músculos”, afirma o geriatra José Mário Tupiná Machado, chefe do Serviço de Geriatria do Hospital Cajuru. Quer saber de uma pior? Lá vai: “Em termos endócrinos, o pico máximo de vitalidade e saúde é aos 25 anos”, diz o também geriatra Paulo Luiz Honaiser.
Mas vamos nos acalmar. Apesar dos dados, nenhum dos dois associa a idade cronológica – a ligada ao tempo – ao envelhecimento propriamente dito. Ambos dão mais importância ao que chamam idade biológica, que é a vitalidade dos nossos órgãos. E não adianta querer fazer contas, porque cada um deles envelhece em velocidades diferentes, de maneira individual.
E o que fazemos até os 30, conforme Machado, é determinante para nosso futuro. “O jovem deveria fazer uma poupança de saúde. Se chegar aos 30 com massa óssea e muscular ótimas, vai ter muito para preservar.”
Mesmo depois dessa idade, nunca é tarde para retardar o envelhecimento. “Mesmo depois dos 100 anos, mudar o estilo de vida – como parar de fumar, mudar a alimentação ou espantar o sedentarismo – traz repercussões positivas para a saúde.”
Há ainda o aspecto emocional, de como nos relacionamos com o passar dos anos. “A melhor idade é aquela que a gente tem. Há pessoas que vivem no passado, outras no futuro. Mas o que passou, passou… E o futuro, será que vai chegar? Envelhecer é se encantar com aquilo que se está vivendo, é muito rico”, assegura o filósofo clínico Darcy Antonio Nichetti.
Esse entusiasmo pela vida assegura um item fundamental para uma velhice satisfatória: a vontade de evoluir, de não parar no tempo. “Ser um idoso que continua crescendo é ser um idoso revolucionário, porque a sociedade quer que eles se acomodem”, opina a psicoterapeuta Renate Vicente, professora da PUCPR. “A velhice é uma grande oportunidade de resgatar o prazer na vida, se desfazer do preconceito, se libertar dos julgos sociais. Mas poucas pessoas aproveitam isso”, observa.
Já que começamos com uma frase, terminemos com outra (essa do músico, filósofo, teólogo, médico, missionário e ganhador do Prêmio Nobel da Paz Albert Schweitzer): “Os anos enrugam a pele, mas renunciar ao entusiasmo faz enrugar a alma”.