Saúde e Bem-Estar

Idosos no volante…

Danielle Brito
01/04/2007 19:12
dbrito@gazetadopovo.com.br
Sem falsa modéstia, o empresário Udo Fernando Heller, 73 anos, diz se sentir professor dos motoristas mais jovens que, segundo ele, contribuem para transformar o trânsito em um caos. No dia-a-dia, Heller dirige um carro novo, mas para passear não dispensa o impecável Studebaker 1928, que adquiriu em 1952. O carro impõe respeito e provoca admiração. Quando está com ele, o empresário não sente o estigma que muitos idosos têm ao dirigir. Cabelo branco e direção defensiva – devagar e, muitas vezes indecisa – geralmente são o gatilho para xingamentos e ultrapassagens raivosas de motoristas mais jovens. “De fato observamos que a partir de uma certa idade os reflexos diminuem. Existem duas situações: a normal e outra, de emergência, que depende dos reflexos para evitar acidentes. Quanto menos reflexo, mais probabilidade de acidentes”, diz o especialista em medicina de tráfego Benny Camlot, perito do Detran/PR.
O Conselho Nacional de Trânsito não restringe a idade para dirigir. Mas condutores com mais de 65 anos têm de renovar o exame de aptidão física e mental a cada cinco anos.
Conforme Camlot, geralmente o idoso dirige de forma defensiva justamente por causa da diminuição dos reflexos e da mobilidade. Medicamentos como antidepressivos também restringiriam a habilidade ao guiar. “Com a perda da noção de lateralidade, muitos dirigem no meio da pista, ocupando mais espaço do que deveriam”, exemplifica.
Quando a família ou o próprio idoso percebe que há algum tipo de alteração fisiológica ou neurofisiológica, o ideal é que o motorista passe por uma avaliação para que seja considerado apto ou não para dirigir. “O que acontece é que a maioria das pessoas não nos procura. Os que não têm família não procuram nunca”, diz o médico.
Ao contrário do que se imagina, pessoas mais velhas não provocam mais acidentes do que as mais jovens. De acordo com dados do Denatran, em 2005, 21.645 condutores com mais de 60 anos estiveram envolvidos em acidentes de trânsito com vítimas, frente a 213.850 motoristas na faixa etária entre 30 e 59 anos. Dos acidentes ocorridos no ano, 46% dos envolvidos tinham menos de 29 anos. Segundo Camlot, a incidência é menor por três motivos: geralmente a família fiscaliza as saídas, os idosos dirigem por menor espaço de tempo e por causa da postura defensiva.
Os números batem com a disposição das seguradoras de veículos em premiar a prudência dos mais velhos. “Devido à menor exposição a sinistros, basicamente em função de maturidade na condução do veículo e menor exposição em locais visados a roubo, o preço do seguro é menor para os mais velhos quando comparamos com o seguro para jovens”, confirma o diretor de produtos da Liberty Seguros, Paulo Umeki.
Em breve, o Detran-PR vai receber um simulador para testar com mais precisão os reflexos de motoristas, principalmente deficientes físicos e idosos. “Hoje tudo o que se faz é estático, não se sabe como a pessoa vai se portar numa emergência. O simulador cria as condições da rua”, explica Benny Camlot.