Saúde e Bem-Estar

Agora os ninhos estão cheios demais

Amanda Milléo
30/03/2015 23:02
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Sair da casa dos pais e deixar para trás um sentimento de tristeza e quadros depressivos em quem fica está cada vez menos comum. Não que mães e pais estejam “vacinados” contra a síndrome do ninho vazio, mas porque nos últimos anos os filhos têm abandonado a casa cada vez mais tarde, gerando outras angústias. A psicóloga e doutora em psicologia clínica pela Universidade de São Paulo, Regina Gorodscy, assinala que essa reviravolta tem criado outra síndrome: a do ninho cheio, que pode exaurir e trazer inquietações diferentes a pais e mães.
A síndrome do ninho vazio tem passado por uma revolução?
O tema do ninho vazio foi descrito há 20 anos. Muita coisa mudou de lá para cá. Uma que os filhos não estão saindo como antes de casa, não gerando quadros depressivos pelo esvaziamento que os pais sentem ao serem “abandonados”. Por outro lado, a mulher deixou de ser apenas voltada ao lar. Por este motivo elas tendem hoje a sofrer menos com o “abandono” dos filhos, por estarem inseridas no mercado de trabalho. Muita coisa mudou e ela acaba nem mesmo tendo tempo de sentir o ninho vazio.
Este prolongamento fez surgir então a síndrome do ninho cheio?
Sim. A falta de emprego, a crise econômica, a vontade de seguir estudando têm feito com que o jovem fique mais tempo dentro de casa, revirando a síndrome. E isso pode gerar outro tipo de comportamento, mais voltado para a exaustão dos pais pela permanência dos jovens em casa e pelo prolongamento da dependência financeira, que no passado estariam quase na idade de se aposentar.
O perfil dos filhos mudou?
Conheço casos de pessoas de quase 40 anos que ainda são muito dependentes dos pais, que se comportam como adolescentes e vivem com eles. Isso aumentou muito nos últimos anos. As pessoas fazem faculdade, pós-graduação, uma porção de cursos e continuam na casa dos pais, às vezes dependendo deles financeiramente. Ou mesmo saem, se casam, mas o casamento se desfaz e eles voltam à morar com os pais, às vezes até mesmo trazendo os filhos. Isso acontece mais com a população masculina.
Para aqueles que ainda sentem a síndrome do ninho vazio, o uso de novos meios de comunicação e aplicativos tem ajudado a reduzir os quadros depressivos?
Isso resolve muito. Fizemos pesquisas com pais que tinham filhos no Japão e o que eles mais falavam era que conversavam mais com os filhos agora utilizando aplicativos como o whatsapp e programas como o skype do que antes, morando na mesma casa.