Saúde e Bem-Estar

O início do resto de nossas vidas

Larissa Jedyn
31/07/2005 23:20
Se você está se poupando para quando a aposentadoria chegar, é melhor tirar da cabeça a velha idéia de viver de pijama, chinelos e o controle remoto na mão. Uma nova vida pode estar prestes a começar, sem chefes, sem cartão para bater, com os filhos criados e histórias para contar. Tendo em vista o aumento na expectativa de vida, muita gente tem aproveitado o período em que as capacidades ainda estão em pleno vapor para produzir mais.
Segundo Yara Lúcia Mazzotti Bulgacov, criadora do projeto Integrar da Universidade Federal do Paraná, que trabalha com a comunidade da terceira idade, quando se pensa em aposentadoria, dois mecanismos psicológicos surgem imediatamente: o primeiro deles é a idealização do projeto e a expectativa de que as coisas vão se resolver quando chegar a aposentadoria, de forma a justificar a falta de organização no dia-a-dia; e o segundo é a negação, já que, junto com a aposentadoria, vêm atreladas idéias de morte, doenças e fim de vida. Mas, aos poucos, esse comportamento vem sendo substituído por outro mais consciente que considera a continuidade da carreira como uma realidade e o planejamento como meio para chegar até ela.
Cada vez mais se vê aposentados voltando ao mercado de trabalho no mesmo segmento, outros buscando empregos para complementar a renda e outros ainda apostando em um novo ramo. “Produtividade depois da aposentadoria não é competitividade com os mais jovens. Essa é a chance de ir atrás de outros campos, de criar novas possibilida-des. O mais interessante é ver pessoas de 75, 80 anos construindo, cheias de pique, de sonho. Sonho é vida”, comenta o personal life coaching Luiz Antônio de Souza Neto.
Para chegar a isso, ele lembra que é necessário manter um bom padrão de saúde física e mental. Fora isso, Souza Neto recomenda livrar-se dos preconceitos e aprender a lidar com a percepção do envelhecer: o que importa é sentir-se jovem e descobrir suas potencialidades. “A gente enxerga o mundo conforme as lentes que usa. Se a lente usada for dedicada a descobrir coisas boas, as oportunidades saltam aos olhos, dá-se mais crédito à riqueza interior.”
A professora Odete de Paula, 57 anos, se recusou a parar depois da aposentadoria. Levar luz a jovens e adultos tornou-se missão de vida. “Sou professora desde os 16. Sempre fui idealista e por isso não via como parar depois da aposentadoria. Quando saiu o benefício, fiz um novo concurso no Estado e continuo na educação. Agora, 13 anos depois, continuo trabalhando, me especializando, sendo útil, e isso me deixa muito feliz”, comenta ela, que trabalha no Centro Estadual de Educação Básica de Jovens e Adultos, no Sesi CIC, e faz trabalho voluntário na Igreja Provisão e Vida. “Dou aulas para pessoas de 17 a 81 anos. Eles vêm com a auto-estima baixa, cheios de vergonha, achando que estamos fazendo um favor. Mas antes de tudo estamos fazendo Justiça, pois é direito do cidadão escrever sua própria história.” Ela, que se emociona ao lembrar dos progressos dos alunos, ensinou também sua própria mãe a ler e a escrever. “Foi uma grande alegria para ela que queria ler as matérias assinadas pelo meu irmão jornalista.”