Saúde e Bem-Estar

Seis décadas de uma Maria

Adriano Justino
03/06/2007 20:11
Aos 20
Maria Resende Bandeira casou aos 17 anos – coisa comum na época. Entre os 20 e os 30 anos, além de cuidar da casa, dos três filhos e do marido, lavava e passava roupas para complementar a renda da família. Também trabalhou em um posto de saúde – no tempo da popular barriga d’água, ou esquistossomose – atendendo mães e crianças . A vida tranqüila da cidade de interior – ela morava em Jataizinho – não se refletia na da espevitada moça. “Eu era atrevida. Não sabia fazer nada, me convidavam e eu ia”, conta, ao falar da breve experiência no posto de puericultura da cidade.
O melhor da idade: “Eu era nova, tinha disposição para tudo, saúde”.
Aos 30
A vida continuava em ritmo acelerado. Maria terminou o “ginásio” junto com o filho do meio, formou-se professora e começou a lecionar. “Trabalhava mais com alfabetização, me dava bem com crianças.”
O melhor da idade: “Estamos no auge da saúde, da disposição. Também temos mais maturidade, quando somos mais novos, fazemos muitas coisas sem pensar”.
Aos 40
Foi uma época difícil na vida da professora. O marido adoeceu, passou seis anos na cadeira de rodas, e a brava Maria cuidava dele, dos afazeres domésticos, trabalhava e equilibrava o orçamento apertado. Os primeiros netos foram uma alegria. Aos 48 anos, perdeu o marido, um baque na vida de Maria.
O melhor da idade: “Os filhos já estavam criados, me davam uma mão”.
Aos 50
Foi quase uma década de calmaria na agitada vida de Maria. Aos 54, passou a morar sozinha. Aposentou-se e usou seu dinheiro para viajar pelo Brasil, de excursão. Mas a aposentadoria pesou: “Me sentia inútil, parece que não tinha nada pra fazer”. Mas também aproveitou para tirar o relógio do braço. “Não queria mais saber de correria.” Já perto dos 60, dona Maria foi morar com a filha mais velha. “Cuidava das crianças, fazia o serviço da casa, cozinhava”, conta.
O melhor da idade: “Não somos broto, mas ainda temos disposição para trabalhar. Foi uma época boa”.
Aos 60
As dificuldades financeiras do genro representaram outra virada na vida. A família veio para a capital e Maria acompanhou, apesar de não gostar do frio e sentir muita saudade de quem ficou por lá. A situação financeira que era confortável de repente mudou e a lutadora Maria cuidava da casa e dos netos e ajudava com sua aposentadoria para a filha e o genro poderem se reerguer.
O melhor da idade: “Levantava cedo, trabalhava o dia todo e não cansava, ainda tinha disposição”.
Aos 70
O primeiro bisneto, João Vitor, renovou o ânimo da bisavó Maria. “Pensei que, com essa idade, não ia nem conseguir pegá-lo no colo. Mas parece que renasci. Fazia de tudo: dava banho, trocava fralda.” Foi ela quem ensinou o menino a ler, aos 5 anos. Maria hoje tem 78 anos e só nos últimos começou a sentir o peso da idade. “Agora estou me achando velha, mas também não me sinto tão acabada, tenho disposição graças a Deus.” E não entrega os pontos: a responsabilidade do café da manhã – ela continua acordando cedo – é dela, assim como o almoço e o jantar. E as lições de João Vitor também é ela quem acompanha.
O melhor da idade: “Não tenho mais preocupações, os filhos e netos estão criados, é tudo gente boa, trabalhadora e honesta”.