Saúde e Bem-Estar

Vovó já dizia…

Adriana Czelusniak - adrianacz@gazetadopovo.com.br
29/03/2009 03:08
O terreno perfumado com a mistura de aromas das especiarias é dividido entre Zuzana Angélica Pavilak, 91 anos, e a filha, a manicure Maria Aparecida Silva, 39 anos. Maria aprendeu desde pequena a valorizar o potencial daquelas plantas que cresciam no quintal. “Cresci vendo minha mãe ajudar as pessoas. Sempre que os doentes não conseguiam se tratar com os médicos, procuravam a gente”, lembra.
A matriarca aprendeu suas receitas caseiras na adolescência, depois que deixou o sítio em que morava em São João do Triunfo e veio trabalhar no armazém da família. Hoje, vê com orgulho a filha assumindo seu posto e espera que as netinhas sigam pelo mesmo caminho. “Se elas quiserem aprender vou ensinar”, diz ela.
Tradição em risco
Apesar de não ser a realidade em todos os bairros de Curitiba, na Vila Fanny, onde dona Zuzana mora, é comum encontrar outras pessoas que ainda acreditam na vantagem de se ter uma farmácia verde em casa. A engenheira florestal Michele Ottmann, mestre e doutoranda em Agronomia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), fez um levantamento dos quintais de três regiões de Curitiba. Entre outras coisas, ela descobriu que as pessoas que mantêm a tradição são mulheres com mais de 40 anos. “Os mais jovens não se interessam, não têm tempo. Eles preferem cimentar a terra para não ter trabalho e perdem todo o potencial daquele espaço”, afirma.
Entre chás, sucos e pastas
Mesmo com futuro incerto, já que o conhecimento popular tem perdido força ao longo do tempo, as vantagens das receitas caseiras são reconhecidas por diferentes especialidades médicas. Com 50 anos de carreira, o dermatologista Luis Carlos Pereira diz que já vivenciou muitos benefícios alcançados com essas práticas. “São conhecimentos antigos que podem ter uso imediato, quando há falta de outros medicamentos, e que não trazem problemas ou reações alérgicas”, afirma.
Também defensora da farmácia natural, a farmacêutica bioquímica Nilce Nazareno da Fonte, doutora em Agronomia e professora de Farmacognosia da UFPR, explica que, antes de seguir aquele bom e velho conselho da vovó, é preciso informar-se sobre os reais benefícios trazidos por cada substância ou produto. “Se é uma receita caseira tradicional, ou seja, se são várias gerações de pessoas utilizando aquele conhecimento ao longo da história, então é algo confiável”, diz. Por outro lado, se a receita é apenas uma informação popular, correm-se riscos, pois pode ser apenas uma leitura equivocada do conhecimento tradicional. A nutricionista Maria Emilia Suplicy reconhece que, mesmo sem ter a explicação científica específica, já se rendeu ao poder das ervas. “Minha mãe ensinou que tomar chá de boldo faz bem para o estômago, por exemplo. E eu sigo a tradição”, conta.