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Casamento e filhos não faziam parte dos planos da socióloga e assessora de marketing Elisabeth Baptista Bittar, 44 anos. A vida profissional era prioridade e os problemas de coluna que levaram médicos a contra-indicar uma gestação também pesavam. Três anos após se casar com o guia de turismo internacional Clóvis Bittar Neto, 38, eles decidiram ser pais.
Beth tinha 39 anos e sabia que já estava em uma idade-limite. Exames mostraram problemas com o casal, que partiu imediatamente para a inseminação artificial. Foram quatro, com um aborto. “Fiquei desmotivada e parei por um tempo. Aos 42, pensei: ‘agora é tudo ou nada’.” A primeira fertilização in vitro deu certo e hoje a família curte a pequena Lara, de 1 ano e 4 meses e o casal até pensa em outra tentativa.
Com a ajuda da ciência – e do bolso, porque apesar de já ter barateado, um tratamento desses tem alto custo – a história de Beth teve seu final feliz, mas nem sempre é assim. Os casais empurram a decisão de ter filhos cada vez para mais tarde, em nome da carreira e da sonhada estabilidade financeira. Estabelecem um padrão alto de vida e de consumo e transferem essas “necessidades” para a educação e criação dos filhos: é a escola cara, as aulas de inglês e esportes, a roupa de marca.
Nesse ritmo, dificilmente se rendem à vontade de ter mais de um. Ou não têm mais tempo hábil. “As mulheres têm consciência de que podem e devem ter filhos quando quiserem. O problema é que, infelizmente, a natureza não acompanhou as mudanças sociais”, diz a ginecologista curitibana Claudete Reggiani, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana.
Ela lembra que a taxa de fecundidade feminina – chance de engravidar dentro de cada período fértil – atinge seu máximo em torno dos 24 anos, quando é de 25%. Aos 30, diminui um pouco e aos 35 cai acentuadamente, chegando a apenas 3% aos 40 anos.
O estilo de vida atual também não ajuda. Hábitos pouco saudáveis como abusar de álcool e drogas – ilícitas ou não – ter uma vida sedentária e alimentar-se mal podem interferir na fertilidade, assim como a obesidade, o estresse e as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). “Nosso organismo entende a fertilidade como algo supérfluo. Em qualquer situação que se sinta agredido, como em períodos muito estressantes, concentra a energia para ativar outros órgãos e a fertilidade diminui para preservar a saúde”, diz o ginecologista Karam Abou Saab, responsável pelo Serviço de Reprodução Humana do Hospital de Clínicas e professor da disciplina na Universidade Federal do Paraná.
Não que hábito e estilo de vida afetem a todos os casais, mas aqueles que já enfrentam algum tipo de dificuldade na hora da concepção podem ser prejudicados. “A mudança no estilo de vida pode melhorar a qualidade e prolongar a fertilidade, em alguns meses ou até um ou dois anos, é difícil medir”, diz Saab. Nas próximas páginas saiba como as escolhas de vida podem afetar sua fertilidade e o que fazer para melhorar suas chances.
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