Saúde e Bem-Estar

Como as grávidas podem enfrentar a “patrulha” de outras mães

Amanda Milléo
26/09/2015 15:05
Querida mamãe, a partir do momento que você se descobriu grávida, entrou em um clubinho. Cheio de regras, essa verdadeira irmandade exige que se escolha as opções mais naturais para você e para o futuro bebê. São aceitos apenas a amamentação por leite materno, parto normal e fraldas de pano. Esqueça as papinhas industrializadas e nem pense em colocar na escolinha antes do pequeno criar um vínculo. Se não fizer tudo isso, será categorizada de irresponsável, egoísta e péssima mãe.
O parágrafo anterior é um bom exemplo da pressão que muitas futuras mães sofrem a partir do momento que anunciam a gravidez. É normal que todo mundo queira o melhor para a criança que ainda não nasceu. Mas familiares, amigos e outras mães chegam a compor um regime “tirano”. No Reino Unido, as defensoras do uso exclusivo de leite materno receberam o apelido de “breastapo”, uma junção de breast, seio em inglês, com Gestapo, polícia secreta alemã durante o regime nazista.
“Existe uma enorme pressão para a amamentação por leite materno, por todos os benefícios do leite, mas as mulheres são levadas a acreditar que será uma etapa natural e fácil. Nem sempre é assim. Quando a mãe não consegue ou não quer, ela se sente culpada e triste por não oferecer o que, segundo foi dito a ela, é o melhor alimento para o seu bebê”, afirma a médica pediatra britânica, Ella Rachamin, autora do site Be Ready to Parent, em entrevista por e-mail.
Liberdade de escolha
Leite materno é apenas um aspecto. Tudo, na realidade, se resume ao direito da mãe em ter diferentes opções e escolher aquilo que achar melhor, de acordo com Ellie Cannon, médica britânica e autora do livro Keep Calm: The New Mum’s Manual (Fique Calma: O Novo Manual da Mamãe, em tradução livre). “Gostaria de ver uma sociedade onde fossem oferecidas às mulheres gestantes todas as informações e possibilidades, dando a elas escolhas reais. A ideia de que ‘o leite materno é o melhor’ e ‘o leite em pó é terrível’ é uma noção que deveria desaparecer. Leite materno é o melhor, mas o leite em pó é muito bom também”, diz Ellie, por e-mail.
Repense o que você considera “perfeito”
Cada filho acredita que sua mãe é a melhor mãe. Logo, a maternidade “ideal” é subjetiva. Existem mulheres que são resistentes à ideia de ser uma mãe abnegada, com um amor incomensurável, que coloca as necessidades dos filhos acima das delas, e isso não é um problema.
“Há uma multiplicidade nas formas de acolher e esse discurso da mãe perfeita gera muita culpa. Se as mães precisam cumprir o imperativo de seis meses de leite materno exclusivo, onde ficam os interesses da mãe quando ela projeta uma carreira profissional? Será que não fica muito pesado para ela? Será que isso influencia as mulheres a não terem mais filhos ou a protelarem a chegada deles?”, questiona Carin Klein, pesquisadora em temas de maternidade pela Unisinos e doutora em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
A pressão social sobre ser a melhor mãe pode respingar no mercado de trabalho. No artigo “A subjetivação da mãe naturalista como modelo: a maternidade como efeito das pedagogias culturais”, a pesquisadora e doutora em Educação pela Universidade Federal de Pernambuco, Karina Alves, sugere uma possível volta das mulheres a casa para atender ao aumento das tarefas cotidianas que o discurso do natural prega. “(…) muitas francesas estariam optando por abrir mão da vida profissional e da carreira em nome de atender aos novos predicados que esticaram para mais os indicadores que definem uma boa mãe e aumentam a complexidade da função maternal”, explica o texto, publicado na Revista Periódicus na edição do período de novembro/2014 a abril/2015.
“Voltamos ao discurso de que se a mãe é feliz assim, em casa, que seja. Se é feliz fora de casa, que seja. O que a gente precisa analisar é como a linguagem, a cultura atuam produzindo determinados sujeitos e que efeitos isso traz na vida dessas pessoas. Precisamos saber quais efeitos o discurso do natural traz às decisões da mulher”, complementa Carin.