Saúde e Bem-Estar

O parto emocional

Adriano Justino
01/10/2007 01:05
Para a mãe, o parto é um ritual de passagem: “Tornar-se mãe é uma mudança psicológica importante. O tempo do trabalho de parto é um rito que insere o aspecto psicológico, torna a maternidade real”, explica a psicanalista Madalena Becker de Lima, que trabalhou durante oito anos em uma maternidade. “O parto é um trabalho conjunto da mãe e do bebê e isso tem um simbolismo muito forte”, completa.
Para o bebê, as contrações são importantes sinais para o nascimento. Na cesárea, ele é retirado abruptamente e não pode ficar no peito da mãe, que precisa ser suturada.
Ao delegar decisões importantes sobre o nascimento de seu bebê a instituições e médicos, a mulher sofreu um processo de “desempoderamento”, conforme o obstetra, ginecologista e homeopata Ricardo Herbert Jones, de Porto Alegre. “Ele é parte de um modelo da sociedade contemporânea que considera corpo feminino como máquina, e uma máquina defeituosa.”
“A mãe fica frustrada quando é expropriada do direito de dar à luz. Na cesárea, quem dá à luz é o médico”, complementa a enfermeira-obstetriz Marília Largura, que participa de grupos pelo parto humanizado e atende a partos domiciliares em Brasília.
“Alguns estudos relacionam a depressão pós-parto com a ausência de suporte adequado à mulher no parto”, alerta Jones. “A sociedade contemporânea e urbana isola mulheres em multidões, sem o amparo que recebiam das comunidade em que estavam inseridas antigamente.”
Para a psicanalista e doula Maria Juracy Aires, até a analgesia solicitada pela mulher na hora do parto “não se restringe à dor física, mas também às dores do medo, da insegurança, da solidão”. É preciso que as parturientes acreditem que são capazes. “A mulher é preparada para o parto normal, tem dispositivos biológicos, hormonais, emocionais, psicológicos adequados para ter seu bebê”, completa a psicanalista. (EB)