A cesárea sempre foi apontada como fator de risco para o desenvolvimento da depressão pós-parto. Mas não há consenso de que a via de parto seja a responsável pela condição, de acordo com artigo publicado recentemente por pesquisadores brasileiros na revista Debates em Psiquiatria.
Essa percepção vem de pesquisas internacionais sobre o tema, diz um dos autores, o psiquiatra Amaury Cantilino. “Na Europa e na América do Norte, a maior parte das cesáreas é feita em casos de emergência. Pode ser que a situação faça a grávida enxergar o parto como ameaçador para ela e o bebê”, professor do Departamento de Neuropsiquiatria da UFPE. Complicações no nascimento, mudança repentina da via de parto e outras frustrações seriam fatores mais influentes do que o parto ter sido cesariana ou normal.
Outras causas
A condição psicológica da mulher na gestação, como ansiedade, causada pela falta de apoio da família e do companheiro ou por ser uma gravidez indesejada, interferem. Mas a instabilidade emocional antes da gravidez também conta: irritabilidade extrema durante a TPM, em um nível que prejudique o dia a dia, é um dos agravantes. Depois que o bebê nasce, a privação do sono, causada por crianças que acordam muitas vezes, torna-se fator de risco.
Outros mitos
Bebês grandes devem nascer de cesárea
Nem sempre. A cesariana pode ser necessária se o bebê for macrossômico, condição causada pela diabete gestacional. Isso faz com que o peso dele se localize mais nos ombros e às vezes ele não desce pelo canal vaginal.
Cordão umbilical enrolado indica cesárea
Não é indicação em todos os casos. Como a visualização por imagem é precisa, é possível saber quantas vezes o cordão está enrolado. O cordão leva oxigenação para o bebê, mas ele tem uma reserva boa, que pode ser controlada durante o parto.
Parto normal sempre demora mais
Não necessariamente. Em boas circunstâncias, ele dura de zero a seis horas. Não se pode confundir a dor das cólicas, necessárias para a dilatação, com o trabalho de parto. O parto do primeiro filho pode ser mais demorado.
O parto vaginal sempre causa incontinência urinária
Pode acontecer, mas não é uma implicação direta. A incontinência está relacionada a um parto incompatível e um pré-natal sem cuidados. Se a paciente fizer um bom preparo, com exercícios de fisioterapia, terá o períneo fortalecido e não vai desregular o relaxamento e a contração da bexiga.
Fontes: Paulo Mallmann, ginecologista e obstetra do Centro de Apoio às Mulheres e ao Casal Grávido.