Saúde e Bem-Estar

Recém-nascidos, recém-operados

Marcio Renato dos Santos - marcior@gazetadopovo.com.br
31/01/2010 02:04
O dia 19 de agosto do ano passado foi de muita alegria para eles. Yugo chegou ao mundo, de forma prematura com 30 semanas de gestação, mas aparentemente saudável. Doze dias depois, o pediatra que atendia o recém-nascido solicitou um exame, suspeitando que Yugo tivesse algum problema cardíaco. A suspeita tinha fundamento. Ele pesava 950 gramas quando foi internado. O cirurgião Leonardo Mulinari conta que Yugo tinha uma infecção na válvula cardíaca e a cirurgia era a única solução, uma vez que nenhum antibiótico seria capaz de resolver o problema.
Os pais foram avisados de que havia risco de morte. Mas a melhora só seria possível se a operação fosse realizada. O casal não hesitou e o menino foi para a cirurgia no Hospital Pequeno Príncipe, uma referência nacional em Medicina pediátrica.
A operação durou mais de quatro horas e, em meio aos vários procedimentos médicos, durante 30 minutos o coração e o pulmão de Yugo ficaram parados. Trata-se da circulação extracorpórea, situação em que uma máquina assume, provisoriamente, as funções do coração e do pulmão.
O caso de Yugo foi complicado, mas a situação, operação em recém-nascido ou criança é um procedimento relativamente normal. Por ano, apenas no Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba, são realizadas aproximadamente 700 cirurgias, o que dá uma média de 50 por mês.
Tiyomi e Ferreira respiram aliviados, longe das horas intermináveis e assustadoras de operação do filho. “É realmente muito difícil traduzir em palavras o sofrimento pelo qual eu e meu marido passamos durante aquelas quatro horas de cirurgia”, desabafa Tiyomi.
Depois da operação, muito bem-sucedida, o bebê permaneceu 60 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal do Pequeno Príncipe e ainda mais três semanas em um quarto do hospital, onde poderia ser atendido rápida e eficientemente se houvesse alguma situação de risco. Somente após essa temporada é que Yugo retornou para a casa.
Hoje é uma criança tranquila e saudável, o grande motivo de brilho nos olhos dos pais e também do irmão, Kenzo, de 3 anos.
Quanto antes, melhor
O cirurgião cardíaco Leonardo Mulinari, do Hospital Pequeno Príncipe, conta que Yugo foi o menor paciente (na ocasião, com 950 gramas) a ser submetido no hospital a um procedimento tão complexo, em que coração e pulmão foram “desligados”. O médico explica que o sucesso da operação, bem como a de outros pequenos pacientes, é resultado do acesso a recursos tecnológicos de ponta, um hospital bem equipado e, sobretudo, uma equipe bem preparada.
Cesar C. Sabbaga, chefe do serviço de cirurgia pediátrica do Hospital Pequeno Príncipe, diz que quanto mais cedo a operação, maior a chance de recuperação. Com a evolução dos métodos de diagnóstico, é possível identificar, com precisão, má-formação e outros problemas que podem ser corrigidos com cirurgias.
Mas não apenas as chamadas cirurgias de alto risco que são realizadas cotidianamente, geralmente ligadas à questão cardíaca, ou neurológica. Há também as de baixo risco que, como o nome sugere, são menos complexas e o paciente entra e sai do hospital no mesmo dia.
Em atividade desde 1966, com mais de 40 mil cirurgias no currículo, Sabbaga constata o avanço da Medicina. “Hoje é seguro operar crianças”, diz.