Tempo para amar: idosos se conhecem e se apaixonam em centro de longevidade
Patrícia Sankari
11/03/2024 20:13
Eveline e Logan, no dia de seu casamento, que contou com a presença de familiares e amigos.
Foi numa festa em celebração ao Dia de São João que os caminhos de Logan Ritchie e Eveline de Almeida se cruzaram. Ele, conhecido por sua pontualidade, timidez e discrição. Ela com sua alma vibrante e pouco afeita a horários. Nenhum dos dois esperava encontrar o amor novamente, mas ela decidiu chamá-lo para dançar e isso bastou para que tudo mudasse. Era 7 de julho de 2023.
A primeira dança não durou muito, pois Logan se sentiu tonto. Os dois foram, então, se sentar. Juntos. Ali, compartilharam risadas e histórias, e descobriram interesses em comum, selando o início de uma promissora história de amor.
Para ela acontecer, no entanto, o universo – ou destino? – precisou conspirar a favor. Primeiro, o escocês Logan veio morar no Brasil. Aos 87 anos, depois de passar muitos anos em Portugal, em junho de 2022, ele escolheu o centro de longevidade Elissa Village, localizado em Campina Grande do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba, como seu novo lar. A decisão foi incentivada pelo desejo de uma vida despreocupada, dada sua paixão por frequentes viagens à Europa. Afinal, no local, podia ter a independência que queria, sem dispensar os cuidados que estava buscando.
Um ano depois, Eveline, de 78 anos, decidiu se mudar para o Elissa devido à solidão que sentia. Ela ansiava por companhia e pela oportunidade de se envolver em atividades como jogos de cartas e rotinas diárias com pessoas da mesma faixa etária. No início, sentia falta de seu jardim e queria passar os fins de semana em casa, mas os acontecimentos que seguiram sua chegada no local fizeram-na mudar de ideia.
“Olha, foi obra do destino. Eu, agora, mais do que nunca, acredito em destino. Eu vim visitar o Elissa e vi o Logan sentado em uma mesa no cantinho sozinho, e pensei: ‘Que pessoa interessante!’. Ali, já me despertou algo. Mas, sou divorciada há mais de 25 anos e disse: ‘Não, né? Não dá. Fica até feio! Como que eu vou falar para os meus filhos que vou voltar a namorar?’. Aí, eu deixei passar”, conta Eveline.
Foi então que, em sua primeira semana no local, teve a festa de São João. “Fui na festa e já tinha me enturmado com todo mundo. Eu estava querendo dançar. Vi o Logan sentado sozinho e pensei: ‘Vou chamar ele’. E ali começou tudo”, lembra. “No meio da dança, eu fiquei um pouco tonto, porque meu equilíbrio não é bom. Ela me levou para o lado e a gente ficou conversando. No dia seguinte, eu já agarrei ela”, brinca Logan. “Dei um abraço e passamos o dia nos abraçando e nos beijando”.
“Eu me encantei com ele, ele se encantou comigo. Foi uma coisa devastadora”, revela Eveline.
No dia seguinte à festa, eles almoçaram e jantaram juntos. Um dia depois, ele tomou a frente e pediu ela em namoro. “Eu aceitei na hora”, conta Eveline. No terceiro dia, os dois foram jantar juntos, e ele a surpreendeu com um pedido de casamento.
Inicialmente, ela pensou que ele estava brincando, questionando o fato de propor casamento no terceiro encontro. “Eu já estava com a ficha dele inteira. Sabia que ele não dava bola pra ninguém, que não tinha namorado ninguém. Então, aceitei e pensei: ‘Já que ele está brincando comigo, eu quero brincar também’, e retruquei: ‘Já que você quer casar comigo, tudo bem, quando?’. E aí foi isso tudo. Eu ainda não sei como eu tive coragem”, ri.
“Eu não estava nem procurando, ela também não. Mas, de repente, nós nos conhecemos, cada um gostou do outro e aí a gente evoluiu. Ela gostou e eu gostei e chegamos nesse ponto agora [casados]”.
A benção dos filhos
No início, a rapidez com que as coisas evoluíram fez os filhos de Eveline se assustarem. “Tanto que, quando ela contou que ia casar, eu brinquei dizendo que se fosse ao contrário ela ia ficar: ‘Como que você já está casando?’. Mas eu entendo que aqui [noElissa Village] é muito intenso, porque eles convivem todos os dias, estão todos os dias juntos”, afirma o filho Diego de Almeida Fadel.
Segundo ele, o objetivo de levá-la para o centro de longevidade foi o de trazer conforto para ela. Ele nunca imaginou que a mãe, aos 78 anos, iria se apaixonar e casar novamente. “Ela veio com: ‘Conheci um escocês que praticamente me deu uma rasteira, meu coração começou a palpitar’, toda animada. Nós ficamos felizes por ela. Vimos a mudança no comportamento, na felicidade”, diz.
“Agora adoram o Logan”, conta Eveline. “Eu estou muito feliz, minha vida mudou, eu não me interesso mais em voltar para a minha casa”.
Para a filha de Logan, Susan Ritchie, também foi uma grande surpresa. Ela estava viajando quando recebeu um telefonema do pai informando que tinha conhecido alguém. Viúvo há pouco mais de três anos, ninguém imaginou que ele encontraria o amor novamente.
Ao voltar de viagem, a filha fez questão de ir conhecer Eveline e ficou muito feliz com o relacionamento dos dois. “Foi tudo muito rápido e foi o que pegou todo mundo de surpresa, mas, pela idade deles, eles acharam que tinha que ser rápido mesmo, então a gente apoia. Nós só queremos a felicidade deles. Ele está parecendo um adolescente, está feliz da vida. Ter um amor na vida é tudo de bom”, diz Susan.
A vida de casados
“Tenho uma companheira que me acompanha em tudo, tudo, tudo. E isso é muito melhor do que fazer sozinho. Essa foi a coisa que eu mais gostei”.
Logan Ritchie
Cinco meses depois de se conhecerem, os dois se casaram em uma festa planejada em 12 dias, no mesmo salão onde dançaram pela primeira vez, com a presença de familiares e amigos. Na hora de decidir como seria a vida de casados, concordaram em seguir morando no Elissa Village. “Ele disse que gostava daqui e eu também, então sugeri que alugássemos dois quartos que fossem grudados e abrissemos a porta que tem entre eles”, explica.
Como em qualquer outro relacionamento, eles têm seus conflitos. “Eu gosto de fazer tudo pelo relógio, sou extremamente pontual e ela é absolutamente não pontual, não é pontual em nada. Eu tenho que me acostumar ou então mudar ela – mas acho que não vou conseguir mudar ela”, ri Logan. “É, eu não sou muito pontual, e disso ele reclama. Mas ele já está acostumado, está até atrasando também”, completa Eveline.
Mas as pequenas divergências cotidianas não superam a lealdade mútua e o companheirismo desenvolvido desde a primeira dança. “Tenho uma companheira que me acompanha em tudo, tudo, tudo. E isso é muito melhor do que fazer sozinho. Essa foi a coisa que eu mais gostei”, conta ele. “Nós somos eternos adolescentes. Ninguém fica velho, só se faz de velho. Aquele amor à vida, o amor de homem e mulher, sempre está dentro do coração, e feliz é quem se entrega a um amor desse”, finaliza ela.
“Nós somos eternos adolescentes. Ninguém fica velho, só se faz de velho. Aquele amor à vida, o amor de homem e mulher, sempre está dentro do coração, e feliz é quem se entrega a um amor desse”.