É como se o tempo parasse. Isso é o que dizem os homens e as mulheres de mais de 60 anos que optaram por colocar o corpo em movimento. O mergulho na piscina, o aquecimento na pista de corrida ou na academia são o passaporte para uma vida mais saudável e que nada tem a ver com o que sempre se ouviu sobre envelhecimento.
Maria Lenk, a maior nadadora que o Brasil já conheceu, praticou o esporte até o último dia dos seus 92 anos e é modelo para muitas pessoas que não dão vez ao sedentarismo nem medem o passar dos anos na busca por qualidade de vida. O bancário aposentado Davi Kaviski, de 90 anos que o diga. Os dois, a propósito, já figuraram entre os dez melhores nadadores de sua categoria pela Federação Internacional de Natação (Fina).
Os benefícios para quem faz essa escolha são compensadores. Entre eles estão a melhora do sistema cardiorrespiratório, a diminuição dos riscos de doenças crônicas e o aumento da disposição, do equilíbrio e do convívio social. O primeiro passo é escolher uma atividade que seja prazerosa.
"A produção hormonal de serotonina e dopamina, motivada pela prática de exercícios, ativa a oxigenação do cérebro e promove melhoras no corpo todo: diminui a pressão arterial, o colesterol, fortalece a musculatura, evitando o risco de queda, e chega a dispensar o uso de remédios para hipertensos e diabéticos moderados", explica a presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Silvia Pereira.
Adotar uma vida mais dinâmica acaba prevenindo vários males. "A perda de massa muscular e a diminuição do metabolismo, que leva ao aumento da gordura corporal, são os dois grandes vilões que podem ser combatidos", alerta o educador físico Thiago José Farias.
Para Rubens Fraga Júnior, membro da Sociedade Americana de Geriatria, os idosos podem e devem, em qualquer momento da vida, incorporar atividades físicas a sua rotina, para torná-la mais saudável e independente. E para os ociosos, um aviso: "Nunca é tarde demais para tornar-se fisicamente ativo".
Corpo e mente
As vantagens não se limitam à parte fisiológica. Há também os ganhos psicológicos e sociais. O professor do curso de extensão para a terceira idade da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Cloves Rossi, considera que a prática de esportes ativa a memória, a linguagem e a percepção do indivíduo. "Além disso, tira o idoso da solidão, espanta a depressão e fortalece sua rede social de apoio", complementa.
O estresse da rotina do empresário Amildo Giacometti foi amenizado pela prática de exercícios físicos. Aos 20 anos, ele rompeu um tendão, fato que o obrigou a frequentar a academia. Por lá, ele pratica, diariamente, musculação, aeróbica, pilates e ioga. "Eu era um cara nervoso e a combinação dessas atividades me ajudou a desenvolver a consciência corporal aliada ao equilíbrio emocional."
O coordenador do curso de psicologia da PUCPR, Naim Akel Filho, diz que o combate ao estresse contínuo é um dos principais benefícios das atividades físicas. "Elas devem ser periódicas, e causar prazer para o corpo e para a mente, a fim de evitar o nervosismo", diz.
Giacometti, hoje com 72 anos, diz que, de todas as atividades, não abriria mão do pilates e da ioga. "Com elas, trilho o caminho do autoconhecimento. Melhoram a postura e a flexibilidade e me tornam mais calmo e feliz", ressalta.
Estilo de Vida | 3:38
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Família saúde
Vítima da síndrome de Guillán Barré, doença que afeta o sistema nervoso, o empresário Sérgio Milarski perdeu a força e o movimento das pernas em 2003. Mal poderia imaginar que, nove anos depois, ele se tornaria um atleta de destaque nas maratonas locais. "Minha maior conquista foi ter superado esse momento difícil. A corrida teve papel fundamental nesse processo e, aos 63 anos, sou exemplo para meus filhos e netos."
O esporte fez tanta diferença na vida de Milarski, que sua esposa, Sônia Terezinha Milarski, de 62 anos, rendeu-se à prática e é sua parceira na hora de vestir o tênis de corrida. "A atividade física também serviu para unir a família, que é quase toda de corredores", conta a pedagoga.
Junto do educador físico Thiago José Farias, o casal elaborou um plano de atividades gradual, que começou com caminhadas. Sobre a evolução do treinamento, o preparador conta que Milarski participa de meias maratonas (21,1 km), e Sônia, após emagrecer 10 kg, já corre nas provas de 10 km. "Nosso próximo desafio será a São Silvestre", arremata Sônia.
Independência
O professor de Hapkido Hong Soon Kang, 69 anos, mais conhecido como mestre Kang, é a maior autoridade da luta no Brasil. A arte marcial, baseada na defesa pessoal, foi trazida da Coreia do Sul, o seu país de origem. Kang se dedica às lutas há 33 anos e, em 1979, mudou-se para Curitiba, onde administra uma academia que leva o seu nome. "As artes marciais promovem pessoas mais fortes e preparadas para os perigos do dia a dia", afirma Kang.
Segundo a assessora da Associação dos Idosos do Brasil, Marli Fernandes de Assis, o esporte prepara idosos mais independentes e prontos para encarar os desafios do cotidiano, desde as atividades domésticas mais simples até a mobilidade na cidade.
A volta por baixo dágua
O bancário aposentado Davi Kaviski é nosso exemplo mais longevo de superação. Ele começou a nadar aos 76 anos e se diz mais satisfeito com a vida hoje aos 90 em todos os sentidos. Nas competições master, Kaviski não tem concorrentes na sua categoria, até os 95 anos. O seu maior desafio é superar próprios limites. A prova de que tem conseguido é que ele coleciona 369 medalhas de ouro. Mas seu maior orgulho é ter uma saúde de ferro. "Não me lembro da última vez que fiquei doente", confessa.
Sua colega de raia, a paulistana Silvana Fontana, de 67 anos, ficou viúva e encontrou debaixo dágua uma nova motivação para viver. Na fachada da academia Amaral, onde treina todos os dias, lê-se "natação: para o bebê e para o vovô". Segundo o educador físico, Célio Amaral, proprietário do estabelecimento, o objetivo da escola é promover pessoas mais saudáveis, e, sobretudo, mais felizes, independentemente da idade.
"Comecei a nadar aos 55, após me espelhar na minha filha, que é atleta, e observar que as pessoas da minha idade também são capazes", ressalta. A nadadora diz que sua autoestima aumentou muito. "Fiz muitos amigos e participo de competições em todo o Brasil, e também no exterior." Energia não falta. "Meu objetivo é nadar pelos próximos vinte anos", afirma.
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Serviço:
Academia Amaral, Rua Joaquim da Silva Sampaio, 303, Mercês, (41) 3335-4343. Academia Kang, Rua São Francisco, 26, Centro (41) 9919 1310.