Moda e beleza

Mês das noivas: estilistas apostam nos vestidos plus size

The New York Times
01/05/2018 08:00
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Josefina Rodriguez prova modelo do designer Justin Alexander. "É sensacional saber que o vestido é do meu tamanho" comemorou a noiva. Foto: Rebecca Smeyne/The New York Times. | NYT

Em um sábado de fevereiro passado, reinava a confusão na RK Bridal, em Manhattan, com noivas fazendo fila para experimentar vestidos, consultoras correndo pela loja com apetrechos de costura para alterações, mães aflitas preocupadas com as filhas.
Na verdade, as principais atrações não eram as noivas, mas os vestidos em exibição naquele dia: seis modelos novinhos (de um total de quinze) criados por Justin Alexander especialmente para as mulheres curvilíneas que usam da numeração 48 para cima.
O estilista estava presente para exibir os novos trabalhos e promover sua campanha “Be You” (“Seja Você”).
O designer Justin Alexander com a cliente Josefina Rodriguez. Foto: Rebecca Smeyne/The New York Times.
O designer Justin Alexander com a cliente Josefina Rodriguez. Foto: Rebecca Smeyne/The New York Times.

“Uma garota plus size não quer ficar limitada à escolha de um ou dois modelos tradicionais; ela quer moda, quer detalhes interessantes, mas não pode nem experimentar porque não há nada no mercado. Desenvolvi uma coleção bem diversa, com opções de corpete ajustado e saia evasê, decote em formato de coração, muito paetê. Quero que todas as mulheres que entrem na minha loja possam encontrar o vestido de seus sonhos.”

Alívio

Essa limitação há tempos atormenta Josefina Rodriguez. Em busca de ajuda, ela chegou à RK Bridal com a mãe, a irmã, a melhor amiga e a madrinha a tiracolo.
“Tenho um problema sério com o meu peso. Só de pensar em provar vestidos já fico ansiosa”, confessa.
A assistente social de 25 anos de Bronxville, Nova York, foi à RK Bridal depois de ver o anúncio do desfile em uma revista especializada, e queria aproveitar a chance de conhecer Alexander. “É um alívio saber que ninguém aqui vai me dizer, ´Vamos ver o que podemos fazer. Não sei se temos a sua numeração´.”
“It’s amazing and surreal to know something is going to fit and is in my size,”  says Josefina Rodriguez, in the dress she decided to buy in New York, Feb. 17, 2018. After years of being ignored, curvy brides are now finding more choices in wedding dresses as new fashion lines are rolling out. (Rebecca Smeyne/The New York Times)
“It’s amazing and surreal to know something is going to fit and is in my size,” says Josefina Rodriguez, in the dress she decided to buy in New York, Feb. 17, 2018. After years of being ignored, curvy brides are now finding more choices in wedding dresses as new fashion lines are rolling out. (Rebecca Smeyne/The New York Times)
A mãe da moça, Josefa Rodriguez, 64 anos, desabafa: “Já está mais do que na hora de os estilistas pensarem nas noivas plus size. É uma maravilha ter alguém como Alexander. Veja você, minha filha é baixinha e cheia das curvas, ou seja, duas complicações. A família inteira, aliás, é assim”.

Mais opções

Alexander é apenas um entre vários estilistas que começaram a criar coleções para as noivas avantajadas: em março, Don O-Neill, da Theia, lançou a Theia Curve Collection, com venda exclusiva na Lovely Bride, boutique especializada com 14 endereços espalhados pelos EUA. Na verdade, a loja passou a oferecer várias grifes plus size depois de divulgar a iniciativa de valorização de todos os tipos de corpo.
A fundadora Lanie List revela que vinha se sentindo frustrada com a falta de opções para as noivas maiores. “Não tínhamos numerações grandes porque os lojistas nunca pressionaram as confecções. No ano passado, porém, cansamos de não ter opções independentes para aquelas que querem um visual chique e descolado sem ser conservador demais.”
List entrou em contato com a Theia para saber se a grife estaria interessada em oferecer os modelos mais populares como coleção cápsula para numeração acima de 48; a resposta foi positiva.

“É uma necessidade que foi se tornando mais premente ao longo dos anos. Os estilistas em geral simplesmente ignoravam os números maiores. Eu me solidarizo com as mulheres que têm que ouvir que não são suficientemente magras ou bonitas”, afirma O-Neill.

Seus vestidos chamam a atenção graças ao material elástico, ao caimento impecável, mas confortável, e aos bordados primorosos. Tirando a subida do decote das costas para dar mais suporte e algumas alterações nos detalhes, poucas modificações foram necessárias para a criação da coleção.

Mudanças são simples, diz estilista

Alexander, reconhecido por sua inspiração vintage e detalhes progressistas, também fez mudanças mínimas. “O padrão dos nossos vestidos geralmente é o mesmo, seja em 36 ou 46. Para os números maiores talvez seja preciso reforçar ou ampliar algumas áreas, como o quadril ou a manga. O forro é de uma malha que beneficia a noiva plus size, pois adere e segura as curvas”, explica ele.
Apresentações dos vestidos — como o que foi realizado recentemente na RK Bridal se tornaram praticamente grupos focais. “Os estilistas estão percebendo que há uma parte relegada do mercado. Criando um desfile como esse, oferecemos às lojas a oportunidade de vender vestidos que normalmente nem teriam. Ao mesmo tempo, estamos aprendendo muito com a noiva plus size, em termos do que ela quer e do caimento”, diz Alexander.

Zona de conforto

Há tempos os lojistas se mostram temerosos em relação a produtos novos, preferindo ficar com os estilos que sabem que vão esgotar mais rápido. “Como estilista, estamos sempre tentando inovar e causar na passarela, mas exibo 25 vestidos e acabo produzindo uns doze porque as lojas não se mostram interessadas em investir nos outros”, confessa O-Neill.
Com isso, são as consumidoras que têm que brigar pelas mudanças. “O plus size na passarela nada mais é que uma necessidade motivada pela consumidora, e não uma tendência. Até agora havia lojas que ou forneciam para a noiva média, ou para as plus size; não existiam muitas que ofereciam as duas opções”, prossegue.

Provas mais confortáveis

Alexander conta que vem trabalhando com lojistas para criar programas que reconheçam as necessidades da mulher que usa numeração maior e façam da prova um processo mais conveniente. “As plus size ou têm que tentar se espremer para caber em algo que não lhes serve, ou ficar só imaginando como ficaria com a roupa. Nem eu me sentia bem com isso, muito menos elas.”
Rodriguez ficou feliz com as opções que a filha encontrou na RK Bridal.

“É um momento superimportante. Ela está se sentindo bonita em uma peça que achou que nem poderia experimentar porque não teria seu número. Alexander está falando ao corpo dela como ninguém conseguiu antes”, vibra.

Na verdade, no fim do dia Josefina se viu com um problema maior do que de manhã, quando chegou: em vez de ficar com medo de não encontrar nada, ela se apaixonou por dois modelos. Pela primeira vez na vida, seu problema era escolher o estilo, e não o tamanho. (Acabou decidindo pelo de renda metálica com rabo de sereia e saia em camadas, número 50, que custa cerca de US$2,3 mil, cerca de R$ 7,9 mil).
“É sensacional, quase surreal, saber que o vestido vai me servir e que é do meu tamanho. Antes não tinha opção nenhuma, mas agora não tenho que sair daqui de mãos abanando“, comemora a moça, caminhando orgulhosa pelo corredor da loja, com um buquê falso na mão e véu na cabeça, sob os aplausos, lágrimas e fotos da família e das amigas.
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