Moda e beleza

O paranaense que trocou a engenharia pela moda e fez o vestido de noiva da esposa

Marina Mori
09/07/2018 16:56
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Fotos: Letícia Akemi / Gazeta do Povo | Leticia Akemi

Desmontar carrinhos movidos a controle remoto para transformá-los em aviões. Esta era uma das brincadeiras de infância favoritas do paranaense Lucas Araújo, de 21 anos. Depois de passar anos com chavinhas de fenda e miniaturas de automóveis em mãos, mal teve dúvidas quando chegou a época do vestibular, há três anos.
Inscreveu-se para engenharia mecânica, sem pensar duas vezes. Passou. E abandonou o curso ao fim do primeiro período para aprender design de moda. Ao que tudo indica, encontrou sua profissão: bastaram poucos meses entre tecidos e agulhas para que conseguisse costurar o vestido de noiva da própria esposa.
“Quando eu conto isso, as pessoas ficam olhando para a minha cara sem saber o que falar”, diz, sorrindo, o jovem nascido em Araucária, Região Metropolitana de Curitiba. Sua imagem é quase paradoxal.
A timidez, combinada ao típico sotaque puxado de quem toma “leite quente”, parece destoar dos cabelos castanhos penteados num topete impecável, da camisa social e dos sapatos estilo oxford. Praticamente uma versão paranaense das referências masculinas encontradas no Pinterest.
De estudante de engenharia a designer de moda. Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo
De estudante de engenharia a designer de moda. Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo
Para comprovar que ele alinhavou e bordou cada pedaço do vestido da esposa, Kevylin, 19, Lucas tem as fotos do casamento – realizado há pouco mais de um ano – sempre salvas no celular. “Nós fomos juntos comprar os tecidos no Boqueirão. Ela me mostrou a foto do modelo que queria e eu fiz”, explica.
Segundo o estudante de moda, a noiva não se importou com a superstição de esconder o vestido até o dia do casamento. Lucas fez os moldes no papel e finalizou a peça no corpo de Kevylin, em um processo conhecido como moulage. Ao todo, a confecção levou dois meses. “A gente trabalhava de duas a três horas por dia”, conta o jovem costureiro.
Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo
Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo
Quando Kevylin viu o vestido pronto, esqueceu até as alfinetadas que levou enquanto Lucas bordava os apliques de renda na manga de tule. “Foi tão emocionante. Nunca pensei que viveria essa experiência na vida”, diz a noiva.
O costureiro também se surpreendeu com o resultado – aquele fora, afinal, seu primeiro vestido de casamento costurado do início ao fim. “Fiz com bastante carinho, foi muito especial”.
Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo
Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo

Da engenharia para a moda

A mudança inusitada não aconteceu devido a uma paixão pela costura. Lucas precisava de dinheiro para pagar a mensalidade da faculdade e nenhum estágio de engenharia pagava o suficiente. O caminho mais fácil foi ajudar a mãe em seu atelier de moda festa.
Sem saber ao certo o que era o que no meio de agulhas e rendas, o jovem logo se viu bordando canutilhos e miçangas em um vestido bordô. Foi seu primeiro contato com a costura. “Fiquei duas horas fazendo e nem vi o tempo passar. Achei o máximo“, conta.
Depois que foi aprovado no “teste”, Lucas passou à máquina de costura. Não parou mais. Decidiu que gostava mesmo era de fazer roupas, não cálculos. Trocou de curso, aprendeu sobre os grandes nomes da moda e hoje alinhava, pouco a pouco, sua carreira. Trabalha como monitor nas disciplinas de costura e também em dois ateliers de moda festa. Sua maior inspiração é o italiano Valentino. “Gosto do olhar dele e do modo como ele é perfeccionista”.
Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo
Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo

Quem foi que disse que homem não pode costurar?

Lucas sabia que a mudança não seria fácil. Embora tenha tido total apoio dos pais e do irmão mais novo, ele conta que tios e primos ainda acham “um pouco esquisito”.
O estilista nem se importa. Sabe que não existe profissão “de homem” ou “de mulher” – basta que a pessoa escolha o que gosta de fazer e o faça bem feito. Quando alguém insiste no julgamento, ele se vale da história. “É uma grande burrice, já que a costura, na verdade, começou com homens”, diz. Ele faz referência aos alfaiates, que dominavam o ofício desde o início do século 13, e continua: “o homem não precisa trabalhar no ‘brutal’ para mostrar que é homem.”
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