Antes de tudo, acho que é melhor contar como vim parar neste mundo. Minha mãe foi abandonada num momento muito difícil para uma cachorra. Na verdade, muito difícil para qualquer fêmea, de qualquer espécie. Era janeiro e ela estava esperando filhotes. Apesar da indiferença de muitas pessoas, ela contou com a bondade de outras. Essas pessoas alimentavam e acarinhavam a minha mãe, diziam para ela que tudo ia ficar bem. E construíram um abrigo para ela ter os filhotes.
Foi então que eu nasci! Bem, não só eu, além de mim vieram ao mundo mais três cachorrinhos, duas “meninas” e outro “menino”. Eu ainda era bem pequenininho, mas lembro de ela contando como era sua vida antes de aparecermos, no tal lugar chamado “lar-doce-lar”. Lá ela tinha coberta nos dias frios, não faltava comida e água. Tinha até um carinho! E a minha mãe cuidava do quintal, precisa ver, ela é forte e tem cara de brava (mas é só a cara!). Mas quando ela ficou prenhe, foi abandonada, justamente na hora em que mais precisava. Talvez isso fosse diferente se os seus donos a tivessem castrado, os humanos dizem até que há programas bem bacanas de castração para quem não pode arcar com tantas despesas e que isso evita, além de filhotes indesejados, doenças como o câncer de mama nas cachorras. Mas agora, com quatro bocas para alimentar, o jeito é olhar para frente, não é mesmo?
Mesmo com nós quatro bem pequenos, muitas pessoas queriam destruir a casa em que morávamos, sempre davam fim nos nossos potes de água e comida que alguns humanos colocavam pra gente. Até que fomos “resgatados” pelo pessoal do Tomba Latas. Mas eles dizem que não foi fácil fazer isso. Tinha que ter vaga em hotel, alguém que buscasse, além de pagar as despesas que damos. Acho até que foi por isso que os donos da minha mãe a abandonaram. É triste, mas muitas pessoas não pensam que um animal é para vida toda, que é preciso cuidar dele e não vê-lo como um objeto, enfim, não têm consciência do que muitos humanos chamam de posse responsável.
Ainda bem que existem lugares que fazem hospedagem de cachorros abandonados para eles não ficarem nas ruas. Onde os cachorros se recuperam e ficam fortes para serem vacinados, esterilizados e depois encaminhados para doação. Por falar nisso, vocês sabiam que muita gente prefere adotar um cachorrinho a comprar um? E é com isso que estamos contando.
Neste novo lar recebemos – além de comida, abrigo e carinho – nossos nomes. Uma das tias do Tomba disse que a mamãe parecia uma porquinha e passaram a chamá-la de Piggy, como a dos Muppets, os famosos bonecos. E nós, filhotes, fomos na onda.
Tinha o Gonzo, meu irmão menor. Um dia ele foi ficando fraquinho, fraquinho e virou estrelinha no céu de São Francisco. Ficamos muito tristes…
Tem a Camila. Ela é a segunda menor e é muito chorona. Vive reclamando disso e daquilo e quer ir onde nós, os grandões, vamos. Vocês que tem irmãos menores sabem muito bem do que eu estou falando.
Tem a Piggy Junior, que é uma mandona só porque se parece mais com a mamãe.
E tem, finalmente, o mais bonitão e charmoso da ninhada, Caco – que, por acaso, sou eu! Eu sou um incompreendido, só porque falo demais. Sempre me mandam ficar quieto.
Nós crescemos bastante, mas no hotelzinho onde estávamos pegamos uma doença chamada parvovirose. E por isso ficamos esse tempo todo sem poder tomar vacina e sem sermos castrados, em observação. Como é triste e difícil a nossa vida, estamos sempre lutando para sobreviver! Mas olha só como crescemos!
Para ficarmos longe da doença, o pessoal do Tomba pediu lar temporário para a gente, que é quando uma pessoa não pode adotar, mas fica um tempinho com o cachorro até ele ficar bom. Quem nos recebeu foi a Tia Elisa, que é muito querida e deixou um quarto só para nós.
Esta é a nossa história, apesar de novinhos já enfrentamos muitos obstáculos. E a luta não acaba por aqui! Nesta segunda-feira, 12, nós três fomos levados para a clínica veterinária, não estávamos bem, por causa da parvovirose. Eu, que sou mais forte, acabei voltando para casa, mas minhas irmãs continuam internadas.
Fiquei sabendo elas estão estáveis, mas fraquinhas. Vamos torcer por elas, né? Bem, daqui uns dias eu volto para contar mais sobre a nossa história. Mas, antes de ir, vou fazer uma pergunta para todos: vocês já pensaram como pequenos gestos são capazes de evitar grandes sofrimentos? Até a próxima!
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