Mas manter a saúde do animal e a ordem da casinha é um desafio para os donos que optam por alojar os cães no quintal ou jardim.
“Quando ainda são filhotes, é necessário que sejam estabelecidas regras e que o dono ensine quais são os limites. A principal forma de fazer isso é colocar barreiras físicas (grades ou muros) nas áreas que ele não pode ocupar e estabelecer um local fixo para as atividades cotidianas”, afirma o médico veterinário Rodrigo Friesen, especialista em animais de companhia e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Na opinião do profissional, a melhor opção é construir um canil, que será o espaço exclusivo do cão, onde ele terá cama, comida e área para descansar. “Não pode ser tratado como uma prisão. O ideal é que ele fique solto a maior parte do dia”, diz ele. A outra opção, segundo Friesen, é reservar uma área coberta, na garagem ou varanda, para o cão. “O importante é que o local seja limpo e seco.”
A arquiteta Gisele Busmayer projetou um canil durante a construção de sua casa. O espaço, de 4 metros quadrados, é totalmente integrado ao paisagismo da área externa. Neste local, George, um terra nova de 7 anos, fica preso apenas em dias de festa ou quando está sendo feita a limpeza da piscina e do jardim. “No dia a dia, ele fica livre para usar o canil ou andar no jardim, onde tem um local para fazer xixi e brinquedos e ossinhos para se divertir”, diz.
A empresária Yael Andreguetto, que tinha casa e jardim prontos quando comprou a dobermann Jade, hoje com 8 anos, pediu ajuda para projetar um canil confortável. “Os criadores, donos dos pais de Jade, sugeriram um canil com área gramada a céu aberto e área calçada coberta”, diz. Jade convive com a golden retriever Mel, de 6 anos. “Como eu imaginava ter outro cão de grande porte, fiz o canil com duas casas.”
A recomendação para quem tem dois ou mais animais é separar os utensílios para alimentação e o espaço para descanso de cada um. “Quando ficam juntos durante as refeições, pode haver briga”, afirma Ferdinando Niederheitmann, da Clínica Veterinária Curitiba, médico veterinário de Jade e Mel.
Para ele, o principal benefício da vida em área externa é a possibilidade de tomar sol com mais frequência, para “eliminar eventuais bactérias e favorecer a ossificação pela indução à produção de vitaminas (A e D).”
Um amplo espaço, no entanto, não supre a necessidade de passeios e, principalmente, da atenção dos donos. “O hábito de passear, ao menos um vez ao dia, deve ser mantido tanto para os cães que vivem em apartamento quanto para os que moram na área externa. É um momento de carinho, importante para a relação entre cão e dono”, afirma Friesen.
Não é apenas quem dispõe de quintal que pode ter um espaço exclusivo para o cão. Em apartamentos com terraços ou grandes sacadas é possível fazer um canil proporcional à área e ao tamanho do cão. “Mas é preciso ter muita atenção com a segurança, colocando telas resistentes nos parapeitos das sacadas”, diz Niederheitmann.
Projeto
A exemplo do que fez Yael, seguir conselhos antes de construir uma casa ou canil para os bichinhos é a melhor solução. “Toda construção exige um projeto que defina o tamanho, localização e estrutura da obra, além da quantidade de material”, diz a arquiteta Luiza Kaimoto.
Segundo ela, a melhor posição de um canil é virado em direção ao leste, para receber insolação durante a manhã. “É preciso também pensar na drenagem do quintal, impedindo que fortes chuvas provoquem alagamentos.”
O etólogo (especialista em comportamento animal) Bruno Tausz, diz que casas muito pequenas aumentam o estresse dos cães. “Dentro da casa o animal deve conseguir ficar em pé, deitar e se virar confortavelmente”, diz ele, que é presidente do Conselho de Cinologia da Confederação Brasileira de Cinofilia.
Tausz lembra ainda da necessidade de, ao projetar o abrigo para um filhote, considerar o tamanho que ele ficará na fase adulta.
Na escolha de materiais, as arquitetas sugerem o concreto, que favorece a manutenção da temperatura. Pode-se comprar casas pré-fabricadas, de bloco de concreto. “Uma casa, para um cão de grande porte, custará em torno de R$ 500, com a mão de obra”, diz Luiza.
A madeira pode ser usada, mas exige mais manutenção e o uso de impermeabilizante, que evita o apodrecimento. “O acabamento precisa ser impecável, para que o cão não se machuque com farpas ou pregos”, afirma Gisele.
Há ainda diversos tipos de casas de plástico, que podem ser usadas desde que tenham boa circulação de ar, teto alto e que o cão não consiga tirá-la do lugar. “Alguns animais podem desenvolver dermatites ao entrar em contato com o polipropileno”, diz Friesen.
Na cobertura da casa de concreto ou de madeira, estrutura de madeira e telhas de barro garantem conforto térmico e acústico. Uma área fora da casa, onde ficarão a água e o alimento do cão, também deve ser coberta.
O piso não pode ser muito áspero, para evitar a formação de calos nas patas; e não pode ser excessivamente liso, pois o cão pode escorregar e se machucar. “Piso cerâmico com antiderrapante na área coberta e uma faixa com grama é o ideal”, afirma Tausz.
De acordo com o etólogo, o contato exclusivo com superfícies lisas pode agravar a dor nos casos de displasia coxofemural (doença genética caracterizada pela má-formação da articulação entre o fêmur e a bacia, que provoca inflamações).
A área de descanso de Scott, um golden retriever de 1 ano, é um modelo de limpeza e conforto. Um estrado de madeira serve de cama, para que o animal não fique em contato direto com o piso, que pode estar molhado e desconfortável. As cobertas de lã, que são fontes para perpetuar o ciclo da pulga, foram eliminadas. Mas o principal investimento está no sistema de esgoto, semelhante ao do vaso sanitário.
“Não jogar as fezes no lixo comum foi a grande preocupação quando projetamos o canil”, diz Marcelo Picolli, dono de Scott. Os dejetos são varridos duas vezes por dia para uma vala, ligada à rede de esgoto.
Casa sem cheiro
A limpeza da casa de Scott é complementada com o uso de água abundante e detergente neutro, uma vez ao dia. Para facilitar, há uma torneira instalada dentro do canil.
“A cada 15 dias é recomendada a desinfecção com cloro, sem que o cão esteja no canil”, diz Niederheitmann. Com o uso de água fervente nas paredes e piso, é possível eliminar carrapatos e pulgas.
Seguir todas as especificações para um canil perfeito custa entre R$ 1,2 mil e R$ 2 mil, de acordo com a arquiteta Gisele Busmayer, que projetou o canil na casa de Picolli.
Para fazer o canil para Jade e Mel, Yael gastou cerca de R$ 1,5 mil e não se arrepende. “É um bom investimento, pois o improviso seria ruim para elas, que ficariam em um ambiente inadequado, e também para o paisagismo da casa, que teria seu visual comprometido”, diz.
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