Animais na rua são uma questão de saúde pública e o seu controle passa necessariamente pelo engajamento da comunidade. Esta é a opinião da médica veterinária Rita de Cássia Garcia, que esteve, no mês passado, dando palestra no Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-PR). Ela assinala que, para aumentar o controle da população, castração e identificação não são suficientes.
Quais são as principais causas do abandono?
Acredito que faltam políticas públicas de sensibilização e educação da população, problemas comportamentais e, ainda, a falta de recursos financeiros de muitas famílias.
Como diminuir o número de bichos nas ruas?
Fazendo recolhimento seletivo, identificando o animal que está oferecendo risco real para a saúde pública. Depois, recuperando a saúde deles. A etapa seguinte envolve reabilitação, ressocialização e educação do bicho. Por último, são feitos testes de comportamento para avaliar se ele pode ser reintroduzido no ambiente.
O que significa humanizar o trato com os animais?
Antigamente os bichos não importavam para as pessoas, que enxergavam a saúde humana sem avaliar todo o contexto. Por isso ficamos tantos anos trabalhando apenas na captura e eliminação dos animais. Hoje, quando se fala em humanização, reconhecemos os bichos como importantes na vida do coletivo, da família e da cidade.
No Brasil ocorre essa humanização da saúde?
Em 2005, as primeiras prefeituras começaram a trabalhar com a questão de castração dos animais e, cinco anos depois, este trabalho está sendo desenvolvido em centenas de cidades. Mas o processo é demorado e trabalhoso. Não existe fórmula mágica. São necessárias várias ações, envolvendo especialistas de diversas áreas. O grande desafio é modificar a forma de trabalhar com a saúde. Precisamos construir um programa junto com a comunidade.
Por que é tão importante envolver a população neste trabalho?
Porque assim você dá poder e conhecimento permitindo que ela participe, que ajude na transformação do espaço e exija mudanças. O importante é que os programas municipais tenham continuidade, o que vem ocorrendo atualmente.
Qual a importância da castração no controle populacional?
Para os donos de cães a ideia de castrar o animal pode parecer não muito agradável. Os meus são castrados. É importante que a população entenda que aquele animal que está na rua, na grande maioria das vezes, teve um lar. Além disso, um bicho no cio está sendo regido por hormônios. Eles são capazes de pular muros e portões com lanças e podem ir parar na rua. Aquele animal que não foi castrado passa a ser um problema.
Investir mais recursos na castração resolveria o problema?
Não dá para só castrar ou só colocar microchips. É preciso investir simultaneamente em várias áreas, mas com inteligência. Devem ser avaliados os custos e o orçamento pensando no cenário em que estamos inseridos. A gente tem de regionalizar as ações de controle animal. Em determinada cidade pode ser mais importante investir no registro e identificação, já em outra, na castração. Mas a partir do momento em que você reconhece o animal todo o trabalho é facilitado. Nós não queremos identificar o animal e, sim, saber quem é o responsável por ele.
De que forma Curitiba pode trabalhar para resolver os problemas de saúde e controle da população de cães e gatos?
Se Curitiba conseguisse colocar os microchips em todos os cães nos próximos dois ou três anos, tivesse um bom programa de castração e fossem ensinadas essas questões de saúde nas escolas, certamente mais da metade dos problemas de saúde pública relacionados aos animais seriam resolvidos.
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