Usar o doce de leite argentino se tornou tradição nos casamentos de Curitiba, segundo a doceira especialista em bem-casados, Lia Drews. Em São Paulo, encontra-se mais o bem-casado com base de leite condensado, enquanto no Rio de Janeiro, os ingredientes portugueses falam mais alto. “No Rio, ainda usam muito bem-casado com recheio de ovos moles, bem português! Como lá foi a capital do país, o açúcar branco era muito caro, restrito aos mais ricos, e como o pão de ló é português, a gente deduz que a origem seja portuguesa, embora nos casamentos lusitanos atuais não exista esse tipo de doce”, explica Lia.
A pesquisadora da influência da gastronomia de Portugal no Brasil, Uiara Martins, confirma: não há os bem-casados que conhecemos nos casamentos portugueses atuais. “Estudei na tese de mestrado e tenho algumas publicações sobre a influência da gastronomia portuguesa no Brasil, mas nunca encontrei nada referente ao bem-casado. Uma colega trabalha com casamentos em Portugal e também nunca viu esse tipo de doce. Acredito que possa ter influência portuguesa, mas fruto das imigrações do século 20, pelos ingredientes que leva”, afirma Uiara.
Originalmente, o bem-casado é um doce ritual, preparado pelos convidados, caráter perdido com o tempo.
As metades da massa, diz a instrutora de confeitaria no Senac Curitiba, Celizet Kamei, simbolizam a aliança do casal, unida pelo doce do amor.
O bem-nascido dá boas-vindas ao bebê; o bem-vivido celebra as debutantes; e há até os dirigidos a funcionários, em busca de fortuna, diz Celizet.
Há uma versão do doce da cidade gaúcha, reconhecida como patrimônio imaterial, de massa mais grossa, mais recheada e banhada em glacê, diz a pesquisadora Maria Leticia Ferreira.