
As negras só ganhavam nas categorias de comédia e minissérie. Viola levou o prêmio por sua atuação como Annalise Keating em How To Get Away With Murder, que retorna para uma segunda temporada. (Foto: Divulgação/ABC)
A atriz Viola Davis fez história neste domingo (20). Estrela da série How to Get Away with Murder, a atriz é a primeira negra a ganhar o Emmy na categoria “série dramática” na história da premiação.
Ao longo das 67 edições do Emmy Awards, somente atrizes brancas levaram o prêmio. As negras só ganhavam nas categorias de comédia e minissérie. Essa foi também a primeira edição em que duas negras disputavam melhor atriz: Viola concorreu com Taraji P. Henson, de Empire.

Claire Danes, de Homeland, Tatiana Maslany, de Orphan Black, Elizabeth Moss de Mad Men e Robin Right de House of Cards também concorriam à estatueta.
Em seu discurso de agradecimento, Viola lembrou outras atrizes negras que ganharam e disputaram prêmios -e foram, muitas vezes, preteridas pela indústria do entretenimento. “A única coisa que separa mulheres de cor de qualquer outra pessoa é oportunidade. Não se ganha esse prêmio sem um papel”, disse Viola, emocionada. A plateia foi às lágrimas.
Outras duas atrizes negras também foram contempladas com Emmys esta noite: Regina King, como atriz coadjuvante de minissérie ou telefilme por American Crime e Uzo Aduba, como Melhor atriz coadjuvante em série dramática por Orange Is the New Black.
A segunda temporada do drama estrelado por Viola estreia nesta quinta-feira (24) nos EUA. No Brasil, How to Get Away With Murder é exibida pelo canal Sony.
Papéis que não existem
Viola Davis deu visibilidade a uma questão que cerca o mercado televisivo desde sempre: a falta de oportunidade para mulheres negras. Em um discurso emocionante, na noite do último domingo, após se tornar a primeira negra a ganhar o Emmy de melhor atriz em série dramática em 67 anos, Viola disse o que precisava ser dito: “A única coisa que separa as mulheres negras de qualquer outra pessoa é oportunidade. Você não pode ganhar um Emmy por papéis que simplesmente não existem”, discursou.
O mundo aplaudiu as palavras da atriz, premiada por sua interpretação como a professora e advogada Annalise Keating da série How To Get Away With Murder (HTGAWM) . Muito além dos elogios, agora o problema está posto para ser discutido.
“Vitórias como a de Viola representam um marco na história da indústria televisiva, não apenas para as atrizes negras, mas para toda e qualquer minoria que ainda não é justamente representada, especialmente no primetime (horário nobre) da TV aberta americana”, afirma Sheron Neves, professora da ESPM, especializada em storytelling e transmídia.
Quais são as atrizes negras protagonistas de séries americanas atualmente? Além de Viola, há Kerry Washington (Scandal), Nicole Beharie (Sleep Hollow) e Taraji P. Henson (Empire) – que disputou o Emmy com Viola. Ainda é muito pouco. Recente pesquisa feita pelo Center for the Study of Women in Television and Film aponta que a diversidade de raças na TV dos Estados Unidos está a milhas de distância do ideal: 78% das personagens femininas no primetime são caucasianas, enquanto apenas 13% são negras e 4% são latinas. Outros números reforçam a reclamação de Viola. O Relatório Anual da Diversidade em Hollywood de 2015 mostra que, no biênio 2012-2013, apenas 6,5% das atrações de TV foram protagonizadas por não brancos. Ainda assim, há avanços.
“Como tudo em cultura e entretenimento, a premiação a Viola não é um elemento isolado. Tem que ser entendida no contexto de um mercado que, neste ano, está colhendo sucessos com temáticas e elencos negros. Séries como Power, Empire e Ballers são destaque. Uma das produtoras de TV mais poderosas, hoje, é Shonda Rhimes, mulher e negra, criadora de Grey’s Anatomy, HTGAWM e Scandal”, contextualiza a jornalista Ana Maria Bahiana, da Associação de Correspondentes Estrangeiros de Hollywood, responsável pelo Globo de Ouro, que sentencia: “Creio que o caminho está aberto, e é irreversível”.
Tão aberto que o Emmy premiou outras duas atrizes negras: Regina King, coadjuvante de minissérie por American Crime, e Uzo Aduba, coadjuvante em drama por Orange Is the New Black.
No Brasil, realidade é bem semelhante
Se no mercado americano as mulheres negras ainda brigam por espaço, no Brasil não é diferente. Taís Araújo, que ontem retornou à TV estrelando a série Mister Brau ao lado do marido, o ator Lázaro Ramos, é um dos ícones. Foi a primeira negra a protagonizar uma novela – em Xica da Silva, na extinta Manchete, em 1996, e depois no horário nobre da Globo em Viver a Vida (2009). Há pouco, Camila Pitanga interpretou a mocinha da recém-encerrada Babilônia. Mas os papéis de destaque – sem entrar nas tramas paralelas – são quase inexistentes. Nesse sentido, Mister Brau é um avanço.
“É uma série do horário nobre cujos protagonistas são negros. Em termos de afirmação, de talentos e de protagonismo, é algo bem importante”, afirma o cineasta gaúcho Jorge Furtado, que assina o roteiro final.
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