Arte em Curitiba

Além das paredes do museu: projeto do MON quebra fronteiras para aproximar arte e público

Patrícia Sankari
10/06/2024 12:23
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“Ao Redor de uma Árvore”, de Gustavo Utrabo, uma das primeiras obras do projeto. | Leo Flores

Interatividade e proximidade. São esses os dois pilares que sustentam o “MON Sem Paredes”, projeto do Museu Oscar Niemeyer que passou a ocupar os jardins do museu, aberto à população, com obras de grandes artistas.
A ideia existia antes da pandemia de covid-19, mas foi em meio aos desafios da época que a necessidade de estreitar os laços entre a comunidade e a arte se tornou ainda mais premente.
“Identificamos o potencial de sensibilizar as pessoas que, por diversos motivos, sentem-se distantes do universo museológico. Queríamos tornar a arte mais acessível, mais democrática. Então, a ideia foi, efetivamente, romper o nosso limite físico, abraçando a população, levando a arte como uma forma de convite. No sentido de ‘venham, porque dentro do museu tem muito mais’”,
explica a diretora-presidente do MON, Juliana Vosnika.
Porém, diante da crise sanitária, o pontapé inicial veio somente em 2023, com a instalação de duas obras: “Semeador” e “Ao Redor de uma Árvore”. A primeira é um percurso elevado do solo que conecta o museu ao jardim. Esse caminho leva à “Ao Redor de uma Árvore”, constituída por uma armação metálica com degraus que envolve o tronco de uma árvore. Ambas são criações do arquiteto paranaense Gustavo Utrabo.
“Maca”, de Alexandre Vogler.
“Maca”, de Alexandre Vogler.
Na sequência, vieram as fotos impressas em cetim e expostas nas árvores do jardim, da artista Mariana Palma. E, então, mais artistas demonstraram interesse em participar, fazendo com que o projeto crescesse orgânica e gradativamente. Em um ano, ele saiu de três obras, em sua primeira edição, para doze, na segunda.
Entre os artistas que aderiram à proposta está a portuguesa Joana Vasconcelos, que, desde novembro de 2023, ocupa a parte interna do museu com a exposição “Extravagâncias” – sua maior exposição individual no Brasil. Ela contribuiu com a obra “Tè Danzante”, uma enorme estrutura em ferro forjado no formato de um bule de chá, decorada com vegetação (jasmins), que convida as pessoas a interagirem e se divertirem. Essa colaboração, junto com outras iniciativas, transformou o ambiente externo do museu em um espaço familiar e acolhedor para todas as idades.
Para selecionar as obras, o projeto conta com o curador Marc Pottier, conhecido por sua atuação em projetos que integram arte a espaços públicos. “Meu papel [em diferentes projetos] realmente é trabalhar em espaços abertos e convidar os artistas a criar um diálogo com esses espaços”, explica.
Parte da obra "Trepa-trepa", de Narcélio Grud.
Parte da obra "Trepa-trepa", de Narcélio Grud.
“Quando a Juliana me convidou para participar do núcleo curatorial do MON, imediatamente concordei que seria muito bom utilizar os jardins do museu. Porque lá está sempre cheio de pessoas e é comum ter pessoas ‘tímidas’ em relação ao museu", afirma.
"Então, é essencial colocar as obras no caminho do público em geral para que eles entendam que a arte não é reservada para a elite, que a arte é para todos”,
completa.
Com sua expertise e sensibilidade artística, Pottier ajudou a moldar a identidade do projeto e a criar uma experiência envolvente para os visitantes. “É uma mistura de criar uma coleção e, ao mesmo tempo, dar oportunidades para artistas mostrarem suas obras. A ideia é sempre apresentar obras interativas, que possam ser apreciadas por qualquer geração, desde pessoas mais idosas até crianças”, conta o curador.
“Confesso que o maior desafio é lidar com tantos artistas talentosos e ter que fazer escolhas, afinal, há muitos artistas qualificados no mercado. Seria possível realizar uma exposição gigantesca, com uma coleção de centenas de obras de arte”.

Espaço infantil

A partir das interações com as primeiras obras dispostas no jardim, os responsáveis pelo projeto perceberam a necessidade de criar um espaço que também fosse atrativo para as crianças – algo como um parquinho, com as obras de arte como brinquedos.
Assim, para a segunda edição do MON Sem Paredes, inaugurada em março de 2024, esculturas interativas foram cuidadosamente concebidas especialmente para o espaço ou adaptadas para esse contexto.
O espaço conta com doze obras interativas.
O espaço conta com doze obras interativas.
“Com essa abordagem, começaram a surgir trabalhos de artistas como Artur Lescher, Narcélio Grud e Rômmulo Conceição, que criaram obras com as quais as pessoas efetivamente interagem. Como o “Caleidoscópio”, o “Giroscópio” (obras em que o visitante experimenta girar sobre seu próprio eixo) e o “Trepa-trepa”. Dessa forma, atraímos as crianças e transmitimos uma mensagem de arte, sempre com foco no con- ceito de interatividade”, explica Juliana.
Ela ainda destaca o “Pequeno Colecionador”, um projeto de criação de brinquedos feito pelos artistas Artur Lescher, Mariane Klettenhofer e Paula Azevedo, que se dedica a refletir sobre a arte e a experiência do brincar em suas diversas formas, histórias e culturas. A proposta, já existente, foi adaptada para ocupar os espaços externos do museu. “Com isso, o artista Narcélio Grud também começou a desenvolver obras de arte baseadas em brinquedos existentes. Uma delas é a série de obras ‘Sempre em Pé’, que utiliza como principal base estética o brinquedo João Teimoso, de uma maneira que ressignifica alguns brinquedos e os transforma em obras de arte”.

Preservação e impacto

As obras foram todas pensadas para o público brincar e se sentir mais próximo do museu.
As obras foram todas pensadas para o público brincar e se sentir mais próximo do museu.
Como as obras do projeto ficam a céu aberto e estão em constante uso por quem frequenta o Parcão, a equipe do museu enfrenta o desafio constante de garantir a preservação e a funcionalidade delas.
Juliana explica que, embora a equipe tenha implementado medidas de controle e orientação, como placas informativas e restrições de idade, é inevitável que alguns trabalhos sofram danos ou desgaste devido ao uso excessivo ou inadequado. Isso requer uma manutenção constante e atenta por parte dequipe do museu para garantir que todas as obras permaneçam acessíveis e em boas condições para os visitantes.
“Giroscópio” e “Caleidoscópio”, de Artur Lescher
“Giroscópio” e “Caleidoscópio”, de Artur Lescher
Mesmo com esses desafios, o projeto tem sido um sucesso. Embora não haja números específicos para mensurar o impacto direto das esculturas interativas na visitação do museu, segundo ela, a presença dessas obras tem certamente contribuído para uma experiência mais dinâmica e envolvente para os visitantes de todas as idades.
Por isso, o objetivo é manter o projeto dinâmico e em constante evolução, com a introdução regular de novas obras e experiências. Juliana ainda adianta que o segundo semestre reserva surpresas emocionantes com a chegada de novas obras que seguirão a linha de interatividade e inovação que define o “MON Sem Paredes”.