Curitiba é uma cidade marcada por símbolos urbanos que não apenas definem sua identidade, mas também moldam a experiência de quem a visita. Na pesquisa "Curitiba pelos olhos de quem a vive", realizada pela Pinó em comemoração aos 332 anos da cidade, ficou claro que esses ícones são muito mais do que simples pontos turísticos; eles são representações de um modo de viver, da história e da inovação que permeiam a capital paranaense.
Entre os símbolos mais representativos, o Jardim Botânico se destaca, sendo eleito por 45,9% dos curitibanos como o maior ícone representativo da cidade. Seu design inspirado no Palácio de Cristal de Londres e sua grande estufa de vidro atraem visitantes de todas as partes do mundo, representando um símbolo da preocupação de Curitiba com a natureza. A pesquisa apontou ainda que 85,5% dos respondentes colocam o Jardim Botânico no topo da lista dos pontos turísticos imperdíveis para quem visita Curitiba pela primeira vez.
Além dele, outros espaços e obras também são destacados como símbolos representativos de Curitiba. O Museu Oscar Niemeyer (MON), com 20% de indicações, as estações-tubo (10%) e a Ópera de Arame (8,7%) são apenas alguns dos locais que figuram no imaginário coletivo curitibano.
Estações-tubo: a mobilidade como identidade urbana
As estações-tubo, ícones do mobiliário urbano de Curitiba, nasceram em 1991, resultado das transformações do sistema de mobilidade da cidade, que viria a se tornar exemplo mundial. Mesmo com as mudanças e atualizações no modelo curitibano, elas permanecem como símbolo da eficiência e da integração do transporte.
Estação Tubo de Curitiba. Foto: Divulgação / Site da Prefeitura de Curitiba
O arquiteto e urbanista Felipe Guerra, sócio do escritório Jaime Lerner Arquitetos Associados, explica que as estações-tubo não eram apenas paradas de ônibus, “mas o símbolo de um sistema de mobilidade integrado”.
“Assim como os parques não eram apenas áreas verdes, eram soluções inteligentes para drenagem. E a Ópera de Arame e a Pedreira Paulo Leminski não eram só espaços culturais, mas requalificações de antigas feridas urbanas, como pedreiras e lixões abandonados. O sistema de transporte foi revolucionário quando criado há 50 anos, e continua sendo referência mundial. Hoje, há mais cidades no mundo operando com BRT do que com metrô, e Curitiba foi a pioneira nisso”, completa.
A herança de Jaime Lerner na arquitetura
É impossível falar sobre os símbolos de Curitiba sem mencionar a herança deixada pelo urbanista e ex-prefeito Jaime Lerner. Obras como a Ópera de Arame e a Universidade Livre do Meio Ambiente (Unilivre) são exemplos de como a cidade se reinventou por meio da arquitetura.
Domingos Bongestabs, arquiteto parceiro de Jaime Lerner, destaca a beleza e originalidade das obras curitibanas, que se tornaram marcos internacionais da arquitetura e urbanismo. “Os símbolos criados por Lerner e sua equipe se destacam na paisagem e foram criados em um contexto que valorizava a arquitetura curitibana em nível nacional”, diz.
“São obras associadas ao sucesso do planejamento urbano da cidade e amplamente divulgadas pela mídia, reforçando suas imagens e as incluindo no roteiro turístico da Curitiba que expandia as opções de lazer urbano de seus habitantes”, pontua.
A especialista em gestão urbana Manoela Jazar, professora do Centro Universitário Internacional Uninter, lembra que a identidade de Curitiba foi cuidadosamente construída ao longo de décadas e, se até hoje ela ainda é fortemente representada por estes símbolos, é porque as narrativas que envolvem esses espaços foram muito bem construídas.
“É muito impressionante perceber que projetos pontuais com mais de 30 anos ainda atuam como uma plataforma estruturante para o desenvolvimento econômico e turístico da cidade. Esses marcos urbanos são tão fortes que o simbolismo é referência imediata para visitantes e investimentos; trata-se de uma economia urbana profundamente vinculada ao reconhecimento internacional e nacional desses ícones.”
Para Felipe Guerra, o trabalho de Lerner não impactou apenas a arquitetura da cidade - moldou um jeito de viver e de se relacionar com o espaço urbano. “A cultura urbana de Curitiba passou a ser marcada por valores como simplicidade, funcionalidade, criatividade e sustentabilidade. Lerner sempre dizia que ‘a cidade não é o problema, é a solução’ - e ele provava isso com cada projeto que entregava. Essa crença transformou a forma como o curitibano se via e como o mundo passou a enxergar Curitiba: como um lugar onde ideias se transformam em ação, onde inovação e afeto andam juntos”, explica.
Universidade Livre do Meio Ambiente. Foto: Nani Gois/SMCS ARQUIVO
O futuro dos símbolos de Curitiba
Quais são os próximos passos para que Curitiba se torne ainda mais icônica? Para Felipe Guerra, o maior símbolo que Curitiba pode construir neste momento não é algo novo, mas sim a capacidade de requalificar, atualizar e modernizar com inteligência aquilo que já é tão emblemático.
Para ele, se Jaime Lerner estivesse à frente do planejamento de Curitiba hoje, provavelmente não proporia uma obra monumental. “Ele acreditava na potência da simplicidade, na força de uma ideia bem executada. Era um mestre em criar gestos urbanos que, mesmo pequenos, geravam grandes transformações. Para ele, o impacto não vinha do tamanho da obra, mas da sua capacidade de tocar as pessoas e de transformar a dinâmica da cidade. Atualizar não significa destruir ou apagar a identidade - significa respeitar a história e fazer com que ela siga viva, relevante e funcional.”
Já para Manoela Jazar, a inovação urbana em Curitiba deve reconhecer e valorizar a sua história e cultura como base, mas ainda há espaço para o novo. “Diante do legado deixado por Lerner e sua equipe, o desafio do planejamento agora é, para além de somente sustentar essas identidades históricas, promover novas intervenções, com a mesma capacidade de manter o dinamismo e o interesse turístico e comercial”, comenta.
Próxima parada: os refúgios verdes da cidade
Para quem deseja continuar explorando a beleza e os encantos de Curitiba, a terceira e última reportagem da nossa série vai falar sobre os parques da cidade, que, de acordo com a nossa pesquisa, são os destinos preferidos dos curitibanos e os mais recomendados para os visitantes. 94,2% dos respondentes apontaram os espaços verdes como atrativos imperdíveis. Não perca as informações sobre os locais que fazem da cidade um verdadeiro paraíso urbano!