Em sua próxima passagem pelo Centro Cívico, quando estiver próximo ao Palácio 29 de Março, estique o passeio alguns metros até a entrada do subsolo, na rua Lysimaco Ferreira da Costa. Entre no prédio por ali e siga pelo corredor até a área de convivência, logo antes da recepção. É neste ponto que você vai encontrar um alegre mural pintado em dezembro de 2023 pela artista Kamylla Flores.
Composto por 14 pontos turísticos – o Jardim Botânico no centro, rodeado por Teatro Guaíra, Parque Tanguá, Memorial da Imigração Germânica, a Torre da Telepar e a Ópera de Arame, entre
outros –, a obra é uma óbvia homenagem à cidade e foi encomendada para tornar mais acolhedor o espaço de convivência onde se encontra, que, com bancos e floreiras, traz um pouco da Rua XV de Novembro, a Rua das Flores, para dentro da sede da prefeitura.
A sugestão de trabalhar com pontos turísticos partiu, de acordo com Kamylla, da própria prefeitura. “Eles me passaram uma lista com pontos turísticos mais importantes, de mais destaque, e me deixaram livre para criar”, conta. Ela, então, decidiu fazer uma composição. “Fui trabalhando as formas de cada ponto e os encaixando. Trabalhei todo o layout em escala de cinza – todos os meus processos são feitos [primeiro] em preto e branco ou escala de cinza –, depois trabalhei as cores”.
Para atingir o objetivo de dar vida ao espaço e, ao mesmo tempo, criar uma obra que fosse sóbria o suficiente para conversar com o ambiente em que está inserida – a sede da prefeitura –, a artista optou por tons de azul, coral e verde, principalmente. “O mural tem um tom mais neutro, mas ainda traz cores”, diz. Outra “função” que as cores cumprem é a de trazer sensação de unidade à obra.
Completam o mural alguns detalhes que dão um toque a mais de curitibanice a ele: quatro pés de araucária, árvore símbolo do Paraná, uma capivara, animal que se tornou símbolo da capital paranaense, e, para representar o famoso tempo curitibano, algumas nuvens – uma das quais vem acompanhada de chuva.
Dos desenhos na infância ao muralismo
O mural do Palácio 29 de Março é o segundo assinado por Kamylla em um equipamento público. O primeiro está na parede externa da entrada da Casa da Mulher Brasileira, no Cabral, e foi pintado há pouco mais de um ano, em março de 2023.
“A prefeitura estava procurando uma arte no estilo daquela com que eu trabalho, com a proposta de trabalhar a diversidade de mulheres [que trabalham e são atendidas ali]”, lembra.
Por ficar de frente para a rua em uma região de grande circulação de pessoas – a Casa da Mulher Brasileira é visível da Av. Paraná (que do Centro ao Terminal do Cabral se chama Av. João Gualberto), onde passam os ônibus biarticulados da linha Santa Cândida/ Capão Raso, entre outros –, o trabalho rendeu visibilidade à artista, que, desde 2018, já se dedicava aos murais. “Comecei oficialmente em 2018, quando me formei em design gráfico. Quando comecei, ainda estava muito em alta o lettering, então iniciei nessa estética e depois isso mudou”, conta.
O lettering foi descoberto por ela ao longo da graduação, em uma palestra com outra designer e muralista curitibana, Cris Pagnoncelli. O amor pelo desenho e pela ilustração, porém, vem desde a infância, passada em Ponta Grossa, onde nasceu, e em Palmeira, ambas na região dos Campos Gerais.
“Sempre ilustrei, antes mesmo de entrar na faculdade”, conta. “Quando eu tinha uns 12 anos, meu pai viu um desenho meu e disse: ‘A gente precisa investir nisso’. Foi meu primeiro incentivo”. O plano passou a ser tentar uma carreira que envolvesse desenho, mas, a princípio, Kamylla conhecia apenas a área de arquitetura. “Essa era a minha primeira opção de curso”.
Foi só depois de não passar no vestibular que ela descobriu o design gráfico. Foi para cursá-lo no UniCuritiba que ela se mudou para a capital, onde vive e atua até hoje – embora não se restrinja a ela.
Hoje, Kamylla trabalha tanto com design e ilustração digital quanto com os murais. “Meu trabalho é uma fusão entre o design e a arte. Acho que consigo trabalhar as duas coisas e esse é meu diferencial”, afirma. Outra característica que destaca é o trabalho que desenvolve com cores.
Sobre o espaço que conquistou na parede do Palácio 29 de Março e da Casa da Mulher Brasileira, o sentimento, para ela, é de orgulho. “Fico feliz de ser uma mulher artista ocupando lugares em Curitiba, de estar mostrando que sou mulher e estou pintando e que tem várias outras mulheres artistas aqui e em todo o Brasil”, explica. “Isso é bem importante e espero que cada vez mais mulheres ocupem esses espaços também”.