Em tempos de compras com um clique e entregas no mesmo dia, manter livrarias físicas de portas abertas parece um desafio quase romântico. Ainda assim, Curitiba abriga mais de 550 estabelecimentos voltados ao comércio de livros, segundo levantamento do
Mapa de Empresas. Em meio à digitalização das vendas, elas resistem — e não apenas por saudosismo.
Segundo a professora Edna Cicmanec, especialista em comportamento do consumidor da FAE Curitiba, o comércio virtual realmente domina parte do cenário: “Com o dropshipping, os preços competitivos e a conveniência, o e-commerce se torna uma opção muito atraente”. Não à toa, as livrarias exclusivamente virtuais já representam mais de 30% do faturamento total do mercado editorial brasileiro, de acordo com a pesquisa da Nielsen em parceria com a Câmara Brasileira do Livro.
Experiência para além da venda
Mas se por um lado a lógica da eficiência reina na internet, por outro, segundo o estudo, o contato físico com os livros continua sendo valorizado: 40% dos consumidores ainda preferem comprar em lojas físicas — e mais da metade deles diz que gosta de ver e folhear o livro antes de levar. É essa experiência sensorial e afetiva que muitos leitores continuam buscando.
Para atrair esse público, especialmente os mais jovens, livrarias curitibanas têm apostado em espaços híbridos — combinando livros, cafés, pequenos eventos e curadoria refinada. “Tem gente que vem até para tirar uma foto para o Instagram, mas acaba descobrindo um autor novo”, conta o livreiro Thiago Tizzot.
Curadoria como diferencial
Mais do que variedade, as livrarias de rua oferecem um filtro cuidadoso. “A curadoria vai além do que os algoritmos sugerem. Aqui, o leitor entra em contato com obras que talvez nunca encontrasse sozinho”, explica Thiago. Essa seleção personalizada, que leva em conta o perfil do público, torna-se um diferencial competitivo diante da avalanche de títulos disponíveis online.
A empresária Barbara Tanaka, que comanda um espaço que une livraria, café e selo editorial no Centro da cidade, vê na crise de circulação uma oportunidade de transformação. “Existe uma necessidade de ressignificar o Centro, e a livraria quer ser parte desse movimento”, afirma. Segundo ela, apesar da predominância de autoras entre os títulos mais vendidos, o objetivo é manter o catálogo equilibrado, sempre atento ao que os leitores buscam.
Entre desafios e reinvenções, as livrarias de rua seguem sendo mais do que pontos de venda: são espaços de encontro, descoberta e pausa. Em uma rotina cada vez mais acelerada, elas lembram que, às vezes, parar diante de uma estante é tudo o que a gente precisa para se reconectar — com a cidade, com uma história e com nós mesmos.