Por Palhaço Rosenvelt (Eduardo Roosevelt), Hospital Infantil
O rosto dela e a transformação de sua máscara de assustar visitantes, um sorriso que não sai da minha cabeça. Nós entramos naquele quarto e vimos: pela esquerda, uma mãe muito séria; pela direita, um pai retraído; e, ao meio, sentada na cama, lá estava ela com seus cabelos loirinhos parecendo serem feitos de fios de ouro.
Chamamos a atenção e a cada passo a frente tínhamos que recuar dois. Pensei:
— Mas que garotinha exigente...
Nada do que fazíamos parecia ter efeito, quando lembrei que em um dos meus bolsos havia a máquina de fazer “BUM”. Enquanto eu a pegava do meu bolso, seus olhos acompanhavam os movimentos das minhas mãos. Vi quando seu rosto mudou e disparou um:
— BOLINHA DE SABÃO!
Gelei! Coração saiu cantando pneu.
Foi assim que me senti, pois já estava quase desistindo, me afundando no drama e na decepção de não entender aquele olhar.
Fiz a maior bola de sabão que já consegui fazer. Ela parou, olhou aquela enorme e brilhante esfera, encheu bem seus pulmões e colocou para fora um incrível sopro e... BUUM!
Estourou! Arremessou os dois palhaços bem longe, o quarto foi tomado por risos, gargalhadas e nos envolvemos naquele jogo de desviar das bolhas explosivas dela. No entanto, em poucos minutos o tempo parou...diante de nós vimos aquele olhar mudar de novo, nossa jogadora entrou em uma parada respiratória. Movimentos involuntários tomaram seu corpo engolindo o momento, os olhos perderam-se dentro de si e nós também.
Ficamos ali, uma dupla de palhaços congelados no tempo. O relógio sem ponteiros, assustado, e nós ali em pé, olhando, calados, suspensos. Enquanto aguardávamos o fim do procedimento e dos cuidados médicos, na mesma proporção que a pequena menina voltava a respirar normalmente, nós também íamos retornando gradativamente com ela.
Junto com as nossas bolhas e a máquina de fazer BUUM, o tempo voltou a correr normalmente e ela sorriu para mais uma gigante bolha, soprando-a novamente e, com o poder incrível da explosão, nos arremessou para fora do quarto.
Leia mais uma história do livro "Encontros, risos e outras molduras: um breve retrato da arte da palhaçaria em hospitais": Física
Colunistas
Enquete
Animal