Por Palhaço Rosenvelt (Eduardo Roosevelt)
Vimos um pai palhaço dar um beijo na testa da sua filha que acabara de nascer, porque ele precisava entrar quarto a quarto e encontrar com outros filhos e filhas lá no hospital. Vimos um palhaço segurar o arrebento de ver um garotinho na UTI, que tinha a mesma idade de seu filho.
Vimos pais nos corredores sustentando os braços de suas espo- sas que iam de encontro aos seus pequeninos e pequeninas no leito logo à frente.
Enquanto isso, ao mesmo tempo, vimos um pai médico correr para o quarto 404 e o vimos sair logo depois com aquela mãe e seu filho – dessa vez ficou tudo bem, ufa!
Vimos pais passarem noites sem dormir, saindo do trabalho para ajudar as esposas que madrugaram à noite e passaram também o dia embalando, cheias de dores e em processo de cura e recuperação.
Vimos pais e mães segurarem as mãos dos filhos, dizendo que já voltariam, mesmo sabendo que não era verdade e o que ficaria seria somente a saudade.
Vimos a firmeza e a dor no peito daquele que, para dar suporte à mãe que acabou de saber que seu pequenino partiu, anulou-se completamente, só até a hora de ensopar o nosso jaleco e borrar a nossa maquiagem com dignidade.
Vimos o pai que não está presente lá no hospital porque os remédios são muitos caros e ele precisou arrumar mais um emprego no terceiro turno para conseguir dar conta, enquanto sua esposa toma como moradia a cadeira acolchoada no leito junto com o filho.
Vimos o pai que assumiu todas as demandas da casa, a sua e a da esposa, para que ela possa se recuperar da cesárea.
Vimos o pai que também dá “vistinho” no caderno de anotações da professora. Vimos pais que demoraram para perceber a importância que tinham e que conseguiram recomeçar do zero e construir uma nova história.
Embora muitas vezes invisíveis, impulsionados por estatísticas opostas ao que se pretende ser, a gente vê e se questiona, diante da memória dos encontros que tivemos com Enzo, João, Lucas, Juninho e tantos outros que encontramos ainda tão pequenos e vulneráveis, recebendo cuidado e tanto acolhimento, e que um dia vão crescer.
Que homens será que vão ser?
Leia mais uma história do livro "Encontros, risos e outras molduras: um breve retrato da arte da palhaçaria em hospitais": Covidina.
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