Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) afeta até 5% das crianças, de acordo com a Sociedade Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA).
Com menos de um metro de altura e apenas 4 anos de idade, A.S.* dita as regras quando não gosta de algo: “não quero assim!”. Ao mesmo tempo, a menina conta diversas histórias, acena para os coleguinhas que passam no corredor, fala “hi” para a professora de inglês e tenta se equilibrar na calçada como se estivesse numa corda bamba. Hiperativa? Não, somente uma criança falante, conquistadora e completamente saudável, garante o pai R.S.*.
Em contrapartida A.A.*, 10 anos, é estudiosa e serena, presta atenção a todos os comandos e responde prontamente apenas o que lhe é perguntado. Mas nem sempre foi assim, afirma L.C., mãe da menina: “a escola deu o alerta de que ela não conseguia acompanhar as lições, tinha problemas de relacionamento com os colegas e não deixava ninguém estudar”. A solução encontrada foi buscar ajuda de um psicólogo e de um neurologista, que diagnosticaram o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).
O TDAH afeta até 5% das crianças, de acordo com a Sociedade Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), sendo a desatenção e a hiperatividade/impulsividade os sintomas principais. Porém, na infância e adolescência, é relativamente comum ter dificuldade com regras e limites. Então, como diferenciar o distúrbio de uma característica comportamental?
Diagnóstico
Para a neuropediatra Ana Chrystina Crippa, essa distinção é difícil para a família, devendo-se procurar ajuda especializada. Mas, é importante notar alguns sinais: “a desatenção, que pode resultar em baixo rendimento escolar; os prejuízos sociais, quando a criança estraga a brincadeira por não assimilar as regras, por exemplo; e a hiperatividade, que a faz não parar quieta um minuto sequer”, expõe Ana.
Além disso, apresentar agitação motora excessiva, incapacidade de se envolver em uma atividade por tempo prolongado, responder antes de concluírem a pergunta, interromper conversas ou falar demais são outros pontos levantados pela mestre em psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Thaise Löhr-Tacla.
Por meio de um questionário construído pela American Psychiatric Association – que disponibilizamos na página ao lado – é possível reconhecer alguns sintomas primários do TDAH em crianças (o teste é diferente para detectar indícios em adultos). Porém, ele serve apenas como ponto de partida, pois o diagnóstico preciso só pode ser feito por um profissional especializado.
Tratamento
A psicoterapia, a pedagogia e a medicação à base de Metilfenidato devem ser trabalhados em conjunto, de acordo com a neuropediatra. A Ritalina e o Concerta – que geram polêmica por terem se popularizado, nos últimos anos, entre estudantes sem TDAH que buscam aumentar seu rendimento em provas e concursos – são os remédios mais utilizados.
Há dois anos, A.A. passou a tomar Ritalina e mudou muito de comportamento. “Antes ela ia mal na escola, e agora tem notas boas e maior capacidade de concentração. A relação com os coleguinhas também melhorou muito. Agora ela é mais aceita”, relata a mãe.
Muitas crianças com o transtorno são discriminadas e mal compreendidas. Segundo a psicóloga, isso pode comprometer a autoestima devido às críticas frequentes, daí a importância de se receber tratamento adequado. “Muitos pais têm filhos em situação semelhante e não aceitam, não procuram ajuda. Mas o TDAH existe, é real, e buscar assistência médica é fundamental para o bem de nossos filhos”, alerta a mãe de A.A..
QUESTIONÁRIO
Construído pela American Psychiatric Association, o questionário revela alguns sintomas primários do TDAH em crianças. Porém, serve apenas como ponto de partida, pois o diagnóstico preciso só pode ser feito por um profissional especializado. Para cada item, escolha: “nem um pouco”; “só um pouco”; “bastante” ou “demais”:
1. Não consegue prestar muita atenção a detalhes ou comete erros nos trabalhos da escola ou tarefas por descuido.
2. Tem dificuldade em manter a atenção em tarefas ou atividades de lazer.
3. Parece não estar ouvindo quando se fala diretamente com ele.
4. Não segue instruções até o fim ou não termina deveres de escola, tarefas ou obrigações.
5. Tem dificuldade para organizar tarefas e atividades.
6. Evita, não gosta ou se envolve contra a vontade em tarefas que exigem esforço mental prolongado.
7. Perde coisas necessárias para atividades (brinquedos, deveres da escola, lápis ou livros, por exemplo).
8. Se distrai com estímulos externos.
9. É esquecido em atividades do dia-a-dia.
10. Mexe com as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira.
11. Sai do lugar na sala de aula ou em outras situações em que se espera que fique sentado.
12. Corre de um lado para outro ou sobe demais nas coisas em situações em que isto é inapropriado.
13. Tem dificuldade em brincar ou se envolver em atividades de lazer de forma calma.
14. Não para ou frequentemente está a “mil por hora”.
15. Fala em excesso.
16. Responde as perguntas de forma precipitada antes delas terem sido terminadas.
17. Tem dificuldade de esperar sua vez.
18. Interrompe os outros ou se intromete (em conversas ou jogos, por exemplo).
Como avaliar
Se existem pelo menos 12 itens marcados como “bastante” ou “demais”, os sintomas de desatenção e/ou hiperatividade e impulsividade estão acima do esperado de uma criança ou adolescente. Neste caso, procure um neurologista ou um psiquiatra.
* Os nomes dos personagens entrevistados foram mantidos em segredo.