Saúde e Bem-Estar

Gole que desce quadrado

Érika Busani
13/02/2006 00:01
erikab@gazetadopovo.com.br
Era uma festa de adolescentes, com todos os amigos de escola, realizada em um clube. Iria apenas até as 23 horas e as garotas seriam levadas pelos pais de uma e buscadas pelos da outra. Maria* e Roberto* ficaram tranqüilos. Depois de deixar as meninas e vê-las entrar, o pai foi para casa. Eles não viram quando a filha Adriana*, de 14 anos, saiu com a turma para comprar bebida alcoólica que foi adicionada ao refrigerante de dois litros – mistura que os adolescentes denominam “tubão”.
O choque veio com o telefonema do presidente do clube pedindo aos pais para buscar a menina, que nem conseguia ficar em pé. Sucederam-se vergonha, preocupação, decepção, raiva. Deparar-se com o primeiro – pelo menos que você saiba – porre de um filho não costuma ser uma experiência das mais agradáveis.
Uma história cada vez mais comum na vida dos pais de adolescentes. Vinte anos atrás, pessoas com 40 anos de idade eram as que mais procuravam internação por alcoolismo na Clínica Quinta do Sol, em Curitiba. Hoje, essa média já baixou, chegando perto dos 20 anos, conforme a psicóloga Tamara Marussig, especialista em dependência química. Não é à-toa. O álcool é uma droga socialmente aceita, propagada e até incentivada. Muitos pais nem vêem problemas quando seus filhos de 12, 13 anos começam a beber, ou os de 17, 18 tomam seguidos porres e muita gente ainda insiste em fazer crianças pequenas tomar cerveja “só para ver sua carinha”.
Para quem se identificou, o psiquiatra Fernando Sielski, especialista em dependência química e presidente da Junta Nacional de Alcoólicos Anônimos do Brasil, adverte que pesquisas já demonstraram que, quanto mais cedo a criança tem contato com o álcool, maiores suas chances de tornar-se dependente.
É claro que nem todo contato com álcool vai se tornar um problema. Tamara aconselha aos pais que prestem atenção em que circunstâncias a bebedeira ocorreu, ou seja, como está a vida do adolescente no momento: sua rotina, as notas na escola, suas amizades.”Quanto pior é a situação, mais indícios que o jovem está precisando de ajuda”, diz. Mas se tudo vai bem, pode ser apenas um sinal de experimentação, natural da idade. Para Adriana*, foi o segundo caso. A mãe conta que a menina ficou muito envergonhada com a situação, que não se repetiu. “A gente imagina que não vá acontecer tão cedo novamente”, torce.