Saúde e Bem-Estar

Içami Tiba tornou educação de filhos um tema acessível

Luisa Nucada
03/08/2015 16:00
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O equilíbrio entre amor e autoridade foi um dos grandes ensinamentos do psiquiatra. (Foto: Hugo Harada/Agência de Notícias Gazeta do Povo.)
O psiquiatra e educador Içami Tiba, palestrante e autor de mais de 30 livros, morreu no domingo (2), aos 74 anos, deixando um legado inegável para pais de crianças e adolescentes. Com sua mais célebre obra, “Quem ama, educa!”, de 2002, Tiba levantou a bandeira da retomada dos limites na educação dos filhos. Com didatismo e linguagem compreensível, defendeu o equilíbrio entre amor e autoridade.
“Nós viemos de um tempo em que educação era tratada de forma muito teórica e inacessível aos pais, ou você era um especialista da área ou não tinha como buscar recursos. Içami Tiba tornou esses conhecimentos acessíveis, pegou um material denso, de anos de pesquisa, e transformou numa linguagem que todo mundo conseguia entender”, diz a psicóloga e pedagoga Jeanine Rolim, palestrante, consultora, escritora e parecerista na área da educação.
De acordo com ela, democratizar informações sobre educação de crianças e adolescentes foi um mérito de Tiba que merece ser destacado. “Um pai e uma mãe podem entrar numa rede de hipermercados e encontrar um livro dele na prateleira. Isso é de extrema importância, pois grande parte da população não entra em uma livraria, não tem gosto pela leitura.”
A linguagem palatável, que ele expunha também em suas palestras, contribuiu para sua popularidade e para a difusão de suas ideias. “Geralmente, médicos psiquiatras têm uma linguagem rebuscada, complexa. Ele, não. Falava de forma acessível em palestras para pais em grupos escolares”, conta Jeanine.
Limites
O resgate da disciplina na educação dos filhos foi uma das grandes bandeiras de Tiba. “O livro ‘Quem ama, educa!’ puxa pela retomada dos limites, pelo equilíbrio entre amor e autoridade. Fala-se muito nisso hoje, mas na época em que ele publicou não era um assunto popular, abordado sob uma perspectiva coletiva. Não tinha livros para os pais, não tinha material disponível, a educação dos filhos era uma coisa da família, um terreno intocável.”
O resgate da disciplina, temática que Tiba ajudou a trazer à tona, foi algo muito criticado no começo dos anos 2000, conta a psicóloga: “Muitos disseram que seria um retrocesso, seria voltar à educação tradicional”. No entanto, a falta de limites de crianças e adolescentes acabou mostrando que educar com amor e autoridade era o melhor dos caminhos, afirma ela.
Atemporal
Segundo Jeanine, as lições de Tiba em seu mais célebre livro continuam atuais. “É uma obra que recomendo, faz 13 anos que foi lançada e continua pertinente. Na América Latina, seguimos os passos da educação americana, com os valores do consumismo exacerbado e da permissividade, muito típicos do padrão da educação nos Estados Unidos. É uma fala [a de Içami Tiba] na contramão do sistema. Para aquela mãe que nunca diz ‘não’, para o pai queridão, ele falou ‘Alto lá, não é assim que vai funcionar’.”
A contribuição de Tiba também se destaca, diz a psicóloga, porque ele reuniu ensinamentos da psiquiatria, campo da medicina, e do psicodrama – abordagem da psicologia que usa elementos da dramaturgia para trabalhar o sofrimento psicológico do paciente.
Estudioso da psique humana, Tiba defendeu uma educação mais regrada, com limites, pregando o equilíbrio entre autoridade e afeto.