Saúde e Bem-Estar
Especialistas de diversas áreas condenam a prática, cada vez mais comum, das crianças dormirem com os pais. Os prejuízos podem ir desde o desenvolvimento da auto-estima e alergias até a futuros problemas de sono.
Crianças adoram ir para a cama dos pais. E muitos pais também fazem questão de ter seus filhotes bem pertinho, seja por comodismo ou solidão. “A seu favor, o adulto às vezes submete a criança a algo que ela não tem maturidade para decidir”, alerta a pedagoga Danielle Marques Vieira, professora da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP).
Assim como ela, a maioria dos especialistas são contra a prática – chamada cosleeping nos Estados Unidos. “Até os seis meses de vida do bebê, há duas correntes. Uma defende que a presença dos pais no mesmo ambiente acalmaria a criança. Outra, que, mesmo o bebê, já teria condições de dormir no quarto dele”, afirma a psicóloga Ana Paola Lopes Lubi, mestre em Psicologia da Infância e da Adolescência e professora do Centro Universitário Positivo (UnicenP). “A partir dos seis meses, é praticamente unânime que a criança deve dormir em seu quarto”, completa.
Um dos motivos apontados é o reflexo no futuro: aprender a dormir sozinho na infância é preventivo de distúrbios de sono na vida adulta. Do ponto de vista da Psicologia, torna mais fácil o processo de diferenciação da criança e o início da formação de sua identidade. Ao perceber que dá conta de dormir sozinho – tanto na hora em que vai para a cama quanto durante a madrugada, quando tem pequenos despertares –, o pequeno cresce em autoconfiança e auto-estima. Ou seja, em segurança. Não quer dizer que uma criança que dorme com os pais seja, necessariamente, insegura. Mas estabelecer o espaço dela é dar-lhe oportunidade para desenvolver segurança e independência.
Ácaros
Também tem o lado da saúde, pouco lembrado por quem discute o assunto, segundo o pediatra Carlos Eduardo Gubert. “A cama dos pais não é o lugar mais higiênico do mundo”, diz. Ele explica que nossa pele descama, atraindo ácaros, o que pode desencadear crises alérgicas nas crianças suscetíveis. Além disso, há o cheiro dos pais, que também pode influenciar no quadro.
Doenças causadas por vírus e bactérias são outro problema. Uma distância menor que um metro aumenta muito a chance de transmissão. Muitas vezes uma doença que se manifestou com um quadro leve no adulto, na criança pode ser mais complicada.
E ao dormir na cama dos pais, a criança pode não ter um sono profundo, influenciando até em seu crescimento. “Ela esbarra nos pais, se mexe, fala, às vezes ronca e tosse. Ela pode acordar ou ter o sono mais superficial. Se não passar pelas fases três e quatro do sono, não libera hormônio de crescimento”, diz o médico.
Aos pais que recorrem à questão do afeto para manter os filhos em suas camas, Gubert tem a resposta na ponta da língua: “Amor e carinho a gente dá para o filho enquanto ele está acordado. Brincando com ele, rolando no chão, ensinando as coisas da vida. Dormindo, ninguém recebe amor e carinho”.
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