Eu invejo as pessoas que muito antes de terem um filho já sabem que nome darão a ele. Elas têm o mesmo tipo de tranqüilidade daqueles que desde criança sonham seguir determinada profissão: fazem uma escolha convicta, não perdem tempo cogitando uma série de alternativas e questionando se realmente fizeram a opção correta.
Escolher o nome do bebê é, na minha opinião, a primeira grande responsabilidade que os pais assumem com a criança. A gente escolhe, eles carregam para a vida inteira. Para não errar, os indecisos responsáveis passam a considerar ene variáveis que afetariam a opinião do rebento a respeito do próprio nome. Afinal, ninguém quer ser questionado a certa altura da vida com um “Você tinha de me dar esse maldito nome?”.
Pensando em poupar meu filho (e a nós mesmos de ter trabalho dobrado), eu e meu marido combinamos de imediato que ele teria um só nome, nada de nome do meio. Quem tem dois nomes (excluo aqui os nomes compostos) sabe que o segundo nome só serve para gerar brincadeira entre amigos ou para ser chamado só por ele, no caso de a escolha do primeiro nome ter sido mais infeliz. Tomada essa decisão, tudo que nos restou foram dúvidas.
Ter só dúvidas é terrível. Tem horas em que você começa a achar tudo quanto é nome que vem à cabeça perfeito. Em outros momentos, nada serve. Enquanto isso, a gravidez vai passando, você já sabe o sexo do bebê e todo mundo que você encontra pergunta qual vai ser o nome. Para responder, você primeiro tem de eliminar os nomes dos priminhos de seu filho, para não causar mal-estar na família. Tem de lembrar que certos nomes lindos acabam virando apelidos – eu não vejo graça em escolher o nome de José para todo mundo chamar meu filho de Zé.
E quando a gente resolve relacionar os nomes às pessoas que já os carregam? Fica estranho pensar que, por mais bonito que seja, aquele nome te faz lembrar de uma pessoa muito chata ou desprovida de qualquer atrativo estético. Checar aqueles livrinhos de significado de nomes também pode ser fatal. Qual a emoção de saber que Marcelo significa pequeno martelo?
Quanto mais você pensa, parece que mais difícil vai ficando. Chega a um ponto em que você esquece o fator que fez com que desistisse de uma opção e volte a colocá-la em sua lista de cogitações. O melhor é focar a decisão em um determinado grupo de nomes e esquecer que as outras alternativas existem. Fiz isso usando um raciocínio que eu trazia comigo desde os tempos da escola: nome que começa com as primeiras letras do alfabeto é roubada. Explico porque: os primeiros da lista de chamada são aqueles que certamente terão de fazer apresentação oral de pesquisas (nem sempre dá tempo para que todos da turma sejam chamados), volta e meia têm de responder perguntas no meio da aula e, no caso dos professores mais chatos, são aqueles que levam falta se chegam atrasados no meio da chamada, enquanto a Zulmira, que chegou na mesma hora, tem a presença garantida.
O raciocínio pode ser bobo, mas pelo menos tem fundamento. E realmente ajudou, considerando que existem muito menos opções de P a Z do que de A a J. Calculadas todas as variáveis, Vitor acabou sendo o nome escolhido. Vitor que está bem no fim da lista de chamada, que é curto demais para ganhar diminutivos, que ninguém da família tinha como primeiro nome e que, ainda por cima, significa vitorioso, conquistador. Bom nome. Mas não duvido que, mesmo depois de uma escolha tão criteriosa, um dia ele me venha reclamar de sempre ser o último a responder a lista de presenças.
Patrícia Künzel, repórter de Economia, resolveu economizar letras no nome do filho Vitor.
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