Histórico

Aleitamento materno: uma história de amor

Adriano Justino
07/04/2013 03:11
Por duas vezes tive um grande privilégio em minha vida: amamentar meus filhos na ocasião de meus partos.
E como médica obstetra sei relatar com clareza a grande importância deste período, bem como seus mistérios e dúvidas.
Quando se descobre gestante,toda mulher imagina o momento da chegada do bebê.E certamente deseja que esta seja uma ocasião mágica, maravilhosa e que deixe somente boas recordações.Mas nem sempre isto acontece e o principal motivo é a dificuldade em amamentar.
O ser humano é um animal vivíparo e por natureza deve amamentar a sua prole.Há algumas décadas as mulheres amamentavam seus filhos naturalmente, pois os partos ocorriam de forma domiciliar, com as famosas parteiras e a intervenção médica acontecendo somente nos momentos de complicação.
Com o avanço tecnológico, os partos passaram a ocorrer em ambiente hospitalar,sob supervisão médica, o que diminuiu o número de complicações obstétricas e pós­-parto.
Em contrapartida, houve um crescimento concomitante do número de operações cesarianas, muitas delas sem indicações médicas e sem critérios.
Nos dias atuais, vivemos a época em que a paciente escolhe o dia em que seu bebê vai nascer, às vezes já na primeira consulta de pré-natal,desrespeitando a fisiologia gestacional.
Ao optar por interromper uma gestação por cesariana sem sequer aguardar o desencadear do trabalho de parto, a paciente está desrespeitando a cronologia e a fisiologia gestacional. E esta é a principal causa da demora na apojadura, que é o fenômeno da “descida do leite”.
Durante o trabalho de parto, a cada contração uterina, o próprio organismo materno está estimulando a descida e a ejeção do leite nas mamas. Parece difícil de acreditar, mas é isso mesmo e acontece por causa da ocitocina, um hormônio secretado durante a gestação e que age na contração do músculo uterino e na contração da célula mioepitelial que existe nas mamas e que fazem a ejeção do leite. E o processo é tão mágico que a cada mamada, enquanto o bebezinho está sugando e esvaziando a mama, a ocitocina secretada que permite que o leite seja ejetado, também está ao mesmo tempo, agindo na regressão uterina. É fantástico!
As primeiras 48 horas após o nascimento do bebê são para intensificar a relação mãe-filho. E a amamentação é fundamental neste processo, visto que o obstetra acabou de ”cortar o cordão umbilical”. Na sequência, a descida do leite – que foi estimulada pelo trabalho de parto – ocorre naturalmente, promovendo mamadas agradáveis e permitindo que o novo membro da família se socialize e conviva no leito familiar.
Relembrando meus momentos de lactante, recordo quando meu primeiro filho nasceu e da facilidade que era alimentá-lo pois não precisava esterilizar mamadeiras, bicos, ferver água e dissolver leite em pó. A malinha do bebê era carregada somente com fraldas e mudas para a troca e hoje fico deslumbrada quando vejo a troca dos dentinhos de leite pelos definitivos, tão perfeitinhos… quando minha filha nasceu, cinco anos mais tarde, tudo foi muito mais fácil, até porque geralmente as meninas mamam bem menos e hoje vejo como ela é forte, saudável,inteligente e afetuosa.
Além de todo o amor e carinho, o aleitamento materno promove saúde e inteligência, pois melhora a imunidade e traz ácidos graxos essenciais, não encontrados na maioria dos alimentos.
Não basta o médico e a enfermeira estimularem a amamentação. Não basta a paciente desejar amamentar.
É preciso respeitar a ordem cronológica e a fisiologia gestacional. Amamentar é realmente um ato de amor.