Histórico

Engravidar após a cirurgia bariátrica

Viviane Bassetti Prochmann*
14/07/2013 03:14
A obesidade é uma doença crônica de distribuição mundial com alta prevalência entre as mulheres jovens. Nos últimos anos, a cirurgia bariátrica surgiu e vem sendo adotada como uma forma eficaz e sustentada de perda de peso.
As mulheres jovens obesas estão adotando esse tipo de tratamento antes mesmo de engravidar, o que aumenta a frequên­cia de gestações após a cirurgia bariátrica. Para realizar um acompanhamento pré-natal adequado, o obstetra deve conhecer qual foi o tipo de procedimento ao qual a sua paciente foi submetida.
O tratamento da obesidade pelo método cirúrgico exige que a paciente não engravide por um período de 12 a 18 meses. Esse período varia conforme a perda de peso, que pode prejudicar o desenvolvimento normal do feto. Além disso, o tratamento pode ter a eficácia diminuída e a paciente perder menos peso do que o programado. Se possível, a paciente deverá programar muito bem a sua gestação, orientada para que aconteça num período de estabilidade do peso corporal e sem carências nutricionais.
Em alguns casos, a perda de peso promove um retorno à fertilidade e, em outros, a anticoncepção hormonal oral, que era utilizada antes do procedimento, teve sua eficácia reduzida pela diminuição da absorção do medicamento e redução dos níveis séricos eficazes.
É importante salientar que as necessidades nutricionais da gestante submetida a cirurgia bariátrica são diferentes e por isso, o pré-natal deverá ser especializado e direcionado para monitorar as deficiências dos micronutrientes.
Na primeira consulta de pré-natal, o obstetra deverá determinar o estado nutricional de base e corrigir as deficiências.
Além dos riscos maternos e fetais de uma gestação habitual, devemos monitorar com mais frequência a possibilidade de desenvolver doenças crônicas relacionadas à obesidade como hipertensão arterial, diabetes mellitus e doenças articulares.
Uma situação frequente é a litíase em vesícula biliar devido ao rápido e intenso emagrecimento e pelo colesterol elevado anteriormente.
O período entre a 24.ª e a 28.ª semana de gestação é ideal para a realização da curva glicêmica como diagnóstico do diabetes gestacional. As pacientes com cirurgia bariátrica podem apresentar Síndrome de Dumping (resposta fisiológica devido à presença de grandes quantidades de alimentos na região do intestino) ao ingerir o xarope de açúcar e hipoglicemia tardia.
Na gestante que apresenta vômitos frequentes e persistentes, é preciso diferenciar de complicações inerentes ao procedimento cirúrgico ou averiguar hábitos como falta de mastigação, comer muito rápido ou em grandes quantidades.
Se a paciente estiver suplementando vitaminas e minerais, esta medicação deverá ser complementada por suplementação gestacional. As principais deficiências a serem monitoradas são de ferro, cálcio, folatos, vitaminas A, D, E, K e vitamina B12. As alterações anatômicas promovidas pela cirurgia são responsáveis pelas deficiências, pois alguns minerais necessitam da acidez gástrica para sua absorção como o ferro e a vitamina B12.
A deficiência de ferro é a mais comum e geralmente acontece porque os alimentos ricos neste mineral são mal tolerados, como a carne. A vitamina B12 vem das proteínas de origem animal e precisa do fator intrínseco gástrico para ser absorvida no íleo terminal. Sua carência provoca anormalidades cardiovasculares e neurológicas.
Outros minerais têm sua absorção no nível duodenal – entre eles os folatos, o cálcio e as vitaminas lipossolúveis.
O folato é fundamental na formação e maturação das hemácias. Também é importante na formação dos neurônios fetais e por isso deverá ser reposto 30 dias antes da concepção. Suas fontes alimentares geralmente não são bem toleradas na gestação e também em pacientes bariátricas.
O cálcio também tem absorção duodenal e sua carência é muito insidiosa. A esqueletização fetal adequada depende de bons níveis de cálcio e a calcemia não revela com precisão a deficiência.
Quanto à avaliação fetal, é importante salientar a necessidade de monitorar o crescimento através da biometria pela ecografia obstétrica. A macrossomia fetal é frequente bem como a restrição de crescimento, em especial naquelas pacientes com perda de peso contínua durante a gestação.
A via de parto é de indicação obstétrica. No período de descida fetal, poderá haver episódios maiores de obstrução digestiva. A flacidez de parede abdominal anterior poderá dificultar o período expulsivo do parto normal e a ferida cirúrgica poderá apresentar dificuldade de cicatrização de acordo com o déficit nutricional materno.