Histórico

Escritório colaborativo

Daliane Nogueira, dalianen@gazetadopovo.com.br
04/09/2011 03:10
“O que norteia o trabalho é reunir profissionais (os chamados coworkers) que valorizem o compartilhamento de ideias e habilidades. O princípio é formar uma rede de inovação, que potencializa os projetos”, afirma o publicitário Ricardo Dó­­­ria, 26 anos, que co­­manda a Aldeia Cowor­­king, no Centro, pioneira em Curitiba.
Após 10 anos de trabalho formal em uma grande empresa, o engenheiro eletrônico Fábio Costa, 30 anos, investiu em voo solo, dando vazão a um sonho antigo, ter uma empresa de software. “Convivia com 12 engenheiros em uma sala onde rodava o mesmo conjunto de ideias. No Aldeia Coworking, o espírito de colaboração é motivador”, afirma. Ele conseguiu ainda am­­pliar o negócio ao conquistar clientes por meio de outros coworkers, como designers que precisavam de um engenheiro para desenvolver sites e programas.
Costa aponta ainda outra vantagem: a possibilidade de ter um escritório sem precisar pagar aluguel e outros custos. “Aqui posso receber clientes nas salas de reuniões e até divulgar o coworking como meu endereço comercial”, diz. Tudo isso pagando uma mensalidade que fica em torno de R$ 600 para uso ilimitado do espaço físico, com internet banda larga (cada um leva seu notebook ou negocia a instalação do próprio desktop), café e uma cozinha colaborativa, onde muitas conversas e contratos de trabalho acontecem.
Embora descontraído e moderno, há regras para o uso do espaço. Cada um lava a sua louça e é responsável por deixar a mesa de trabalho, que será usada por outro profissional em poucas horas, organizada e sem vestígios. “Quem vem para cá é profissional e trabalha sé­rio, apenas escolheu outra forma para fazer isso. O espírito de colaboração também está em respeitar o espaço do outro, procurando manter a organização”, completa Ricardo Dória.
O ambiente dinâmico e com mobiliário colorido do Aldeia fazem a ad­­vogada Alexandra Santos, 32 anos, “fugir” para um coworking ao menos uma vez por semana. “Tenho um escritório formal em Londrina, onde passo boa parte do tempo imersa em problemas burocráticos. Quando estou em Curitiba, no coworking, tenho mais liberdade e estímulo para inovar”, diz.
Adeus isolamento
Inevitável não perguntar se essas pessoas não pensaram em trabalhar no conforto do lar, sem precisar se deslocar até um espaço coletivo. Para o especialista em psicologia analítica Caetano Ranzi, trabalhar em casa cria a armadilha do isolamento, prejudicial para o crescimento profissional e pessoal. Além disso, demandas domésticas, como filhos chorando, ca­chorro latindo e gente tocando a campainha, desconcentram e geram desperdício de tempo.
A arquiteta Gláucia Dal­­mo­­lin conta que trabalhar em casa a fez perder o limite entre trabalho e descanso. “No começo (trabalhar em casa) foi interessante. Mas senti que o tempo que antes tinha para ler, tocar um instrumento ou conversar passou a não existir mais. E essa ausência de limite interferiu diretamente na vida social. No coworking meu humor e auto-estima melhoraram muito”, comemora a arquiteta que usa a Nex Coworking há dois meses.
Proprietário do espaço, o jornalista André Pegorer explica que quem vem ao coworking quer economia, flexibilidade e conexão. “Não somos locadores de mesas. Nós aproximamos pessoas em um ambiente dinâmico e multidisciplinar”, aponta.
Esses requisitos são apontados pela analista de tendências Andréa Greca, da Berlin Cool, co­­mo o futuro do trabalho. “Estar em contato com outras áreas e pessoas gera novos produtos e serviços e movimenta a economia.”
Mais do que fazer networking e realizar projetos em conjunto, os coworkers podem até não perceber, mas estão protestando contra a ordem corrente do mundo corporativo. “Eles abrem espaço para uma relação mais criativa e, por representarem um princípio que é inverso à visão de trabalho tradicional, que favorece a produção em detrimento da criatividade, precisam se unir a um grupo que tenha os mesmos valores”, completa Ranzi.
Serviço
Aldeia Coworking, R. Mal Deodoro, 262, Centro, fone (41) 3018-6003.
Nex Coworking, R. Comendador Araújo, 534, Batel, fone (41) 3023-7061.
WeShare Coworking, R. José Nicolau Abage, 210, Bigorrilho, fone (41) 4063-9119.