Histórico

Esse tal de ciúme

Carlos Esteves, psicólogo*
14/04/2013 03:11
“Tem alguma coisa estranha no meu relacionamento… Desconfio que exista outra pessoa nessa história”. Este tipo de fala é frequente quando percebemos o comportamento ciumento em uma relação amorosa. Às vezes, o sentimento de desconfiança se torna tão intenso a ponto de gerar uma distorção sobre a realidade. Muitas vezes duvidamos se há algo, de fato, ocorrendo ou se é uma coisa da imaginação.
Em primeiro lugar, é preciso entender que o ciúme é uma forma de expressão para lidar com a insegurança em relação ao comportamento do parceiro ou parceira. Ou seja, é um sentimento diante da ameaça da perda do “objeto” do amor. Mas de onde vem esse medo? Geralmente, desconfiamos de algo quando percebemos e sentimos alguns sinais no ambiente que, isoladamente, não são tão claros, mas em seu conjunto indicam alguma instabilidade. Um exemplo é quando o companheiro ou companheira chega em casa mais tarde do que o habitual e possui uma justificativa de difícil convencimento, como a clássica “fiquei preso no trânsito”.
Mas, sem provas concretas contra o parceiro (no caso de uma traição consumada ou mesmo de uma paquera), o leitor precisa entender que é impossível saber o quanto esta ameaça de fato procede ou mora apenas na imaginação da pessoa. O perigo do comportamento ciumento, no entanto, vai além das ideias fantasiosas, pois afeta a vida do casal quando se torna frequente, progressivo e prolongado. Claro, ninguém gosta de viver uma relação cheia de desconfianças, dúvidas, controle e vigilância. E a curto, médio ou longo prazo – dependendo da tolerância da outra pessoa – o ciúme tende a desgastar o relacionamento. E todos nós conhecemos casos de namoros ou casamentos que acabaram por conta do ciúme.
Se você vive uma relação amorosa permeada por um comportamento ciumento, saiba que é possível salvá-la. O melhor e mais óbvio caminho é o diálogo. O casal precisa conversar entre si, preenchendo as lacunas e tirando as dúvidas do ciumento. É necessário aprender que aquilo que fazemos, e não o que falamos, é o elemento chave para o resgate da confiança. Então, quando alguém diz que ama o parceiro, mas não lhe dá atenção nem carinho, certamente produz desconfiança e insegurança em relação ao amor.
Lembre-se: ciúme é sinal de insegurança. Se seu parceiro ou parceira é ciumento, você pode praticar algumas ações no dia a dia do casal para deixá-lo mais tranquilo: ligar mais frequentemente, demonstrar mais interesse por assuntos e acontecimentos da vida do outro, levantar suas qualidades. Ou seja, atenção, carinho e companheirismo são o antídoto para vencer o ciúme.
Um pouquinho de ciúme não faz bem?
O ciúme é um sentimento comum e todo mundo, alguma vez na vida, o sentirá. E há quem defenda que um pouquinho de ciúme faz bem para a relação, que ele é uma prova de amor. Mas é preciso lembrar que quando amamos alguém, amamos aquilo que o outro nos faz e fala. É isso que produz o amor. Então, se o ciúme lhe provoca sensações negativas, ele pode ser positivo para seu relacionamento?
E uma relação sem ciúme é uma relação de amor? Com certeza! O amor não se define em função do ciúme, mas representa o sentimento de segurança. Uma relação segura, com diálogos abertos e com confiança tem tudo para gerar um casal (quase) livre do ciúme.
*Carlos Esteves é psicólogo e especialista em análise do comportamento pelo Instituto de Terapia por Contingências de Reforçamento (ITCR-Campinas). É idealizador do Núcleo de Terapia por Contingências de Reforçamento de Curitiba (NTCR-Curitiba).