Saúde e Bem-Estar

Os velhos nunca foram tão bonitos

Camille Bropp Cardoso
30/03/2015 23:37
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Professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e colunista do jornal Folha de S. Paulo, a carioca Mirian Goldenberg, 58 anos, é especialista no tema velhice. Só que argumenta, com veemência, que essa fase da vida nada tem a ver com idade, mas com senso de liberdade e de escolha. No livro A Bela Velhice (Editora Record, 2013), ela defende que é possível experimentar o processo de envelhecimento com beleza e felicidade — basta ter um projeto de vida. E ela elogia a forma como as pessoas estão envelhecendo nos dias de hoje. “As novas gerações de velhos nunca foram tão saudáveis e tão bonitas”, diz.
Como anda a relação das mulheres com mais de 60 anos e as “regras” da moda?
Estamos em um momento positivo porque o Brasil está envelhecendo rapidamente, e as pessoas estão vivendo bem e melhor. As mulheres mais velhas estão se tornando visíveis e, por terem poder aquisitivo, são consumidoras que querem o melhor. Não querem mais roupas nem de velha nem de jovem, querem roupa para elas. Esta geração chamo de ageless, ou inclassificáveis, que não quer se enquadrar no modelo de velhice do século passado.
A transição do estilo de vestir para quem entra na maturidade tem sido algo difícil?
As mulheres terão de enfrentar essas regras e mostrar o que quiserem mostrar. Porque se deixarem que a cultura diga o que elas não podem, terá só o que elas não podem e elas não saberão o que podem. Esta geração está vencendo as regras limitadoras. Não tem nada que realmente diga “você não pode mostrar o braço até tal idade”.
O que diferencia uma pessoa ageless da que empreende uma busca eterna por juventude?
Os ageless são pessoas que não aceitam imposições, envelhecem do jeito deles. É uma mulher que não vai limitar a vida à idade dela. Ela é mais ampla do que a idade. Se sempre gostei de usar saia curta, não é porque envelheci que vou usar a saia [com a barra] no chão. Gosto do exemplo do Ney Matogrosso, que tem 73 anos e usa a mesma roupa de sempre, não mudou nada. Não se submete, continua respeitando a sua singularidade, não entra na manada. O ageless não fica paralisado, se comparando com os mais jovens ou com a sua versão jovem.
A moda tem acompanhado esse tipo de mudança social?
As pessoas não aguentam mais isso de “juventude”, que faz as pessoas buscarem o mesmo cabelo e a mesma boca. Isso está no limite, as pessoas estão cansadas. Por isso as marcas têm escolhido mulheres mais velhas para estrelar campanhas publicitárias de moda, como a Nars [britânica de maquiagem], que chamou a [atriz] Charlotte Rampling, que tem 68 anos, os olhos caidinhos, e é linda. São pessoas que estão envelhecendo em paz, com beleza. As campanhas publicitárias hoje têm buscado novos modelos de beleza. O problema não é colocar meninas magras nas campanhas, é só colocar meninas magras e lindas. Pode colocar todas, mas colocar só uma é que é o problema. Não defendo que o velhinho tem de ser “cool”. Ele tem que viajar ou ficar em casa, mas fazer o que quiser.