Aventuras de quem é motociclista e já passou dos 60 anos
Carolina Furquim e Vivian Faria, especial para a Gazeta do Povo
08/04/2016 22:00
Hermes Dalla Pria, o Karçuco, 64 anos; e o casal Ivonet e Nivaldo Cardozo, ambos 70 anos. Fotos: Arquivo pessoal.
As cenas do avô cuidando do jardim e da avó tricotando podem ainda habitar o imaginário de quem acha impensável a associação entre aventura e terceira idade. Mas muitos exemplos comprovam que este não passa de um julgamento etário, baseado tão somente na idade cronológica. Histórias como as dos motociclistasNivaldo Pereira Cardozo e Hermes Dalla Pria, que já passaram dos 60 anos, comprovam que não há idade para curtir a brisa no rosto em duas rodas.
Ávido por motos há mais de 50 anos, fruto de uma paixão que está no sangue desde criança, o funcionário público Nivaldo Pereira Cardozo, prestes a completar 71 anos, ingressou, em 2014, no “Ministério dos Motociclistas Adventistas”, a partir de uma amizade com o presidente do clube de Curitiba. Não demorou muito para que ele recebesse um convite do amigo para acompanhá-lo em uma viagem de motocicleta até a Bolívia. Aceitou, não sem escutar de muitas pessoas que ele não aguentaria a jornada.
“Nem a minha moto, que na época tinha 24 anos, mas apenas 10 mil quilômetros rodados, escapou do questionamento das pessoas. Eu comecei a ficar realmente preocupado, mas tive vergonha de voltar atrás no convite”, conta. Depois de um tempo de preparação, ele e o amigo colocaram o pé na estrada e, depois de cinco dias, encontraram suas esposas – que tinham viajado de avião – no destino. “Passamos por São Paulo, Goiás, Brasília, Acre e depois passeamos por um mês na Bolívia. Ao todo, foram 12 mil quilômetros, em uma experiência pra lá de gratificante”, orgulha-se.
Os benefícios foram sentidos não apenas no enfrentamento das próprias inseguranças, mas também na saúde. Com sete quilos a menos na balança, ele ainda viu a esposa, Ivonete, praticamente zerar as taxas de diabete. A empolgação foi tanta, que o resultado não poderia ser menos do que o planejamento de uma nova viagem, em março deste ano, para o Chile. “Foram 15 dias maravilhosos. Partimos de Curitiba rumo a Foz do Iguaçu e fomos costurando o caminho em diversas cidades até chegarmos ao Atacama, onde rodamos 400 quilômetros no deserto”.
Ele, que há poucos dias alcançou o topo das Américas, a Cordilheira dos Andes, a 6 mil metros de altura, já desenha o futuro. “Combinei com a minha esposa que passaríamos a velhice viajando, eu no guidão e ela na garupa, e estamos colocando o plano em prática. Pretendemos ir até o Peru, mas antes disso, provavelmente em setembro, queremos dar uma esticada até o Uruguai”, entrega. Para Cardozo, a conclusão de todas essas aventuras é de que ainda há muito para se viver. “Por incrível que pareça, ainda não conheço tudo de mim. Só precisamos de coragem,fé e uma saúde aceitável. De resto, é mais fácil do que se imagina”, decreta o veterano.
Afastando o tédio
Na sede do motoclube “Filhos da Liberdade”, na capital paranaense, o contador Hermes Dalla Pria, de 64 anos, está em casa. Tão em casa, aliás, que ali ele só atende pelo apelido de Karçudo e cumprimenta carinhosamente cada um dos irmãos de clube que chegam para o aguardado encontro de quinta-feira à noite. “Se você só fica em casa, morre mais cedo”, reflete o motociclista, logo depois de falar sobre o tédio das últimas férias passadas em casa.
Dalla Pria tornou-se membro do clube em 2003, logo após seu divórcio. O convite veio de um do três filhos, que também é um “Filhoda Liberdade”. Apesar de estar habilitado para pilotar motos desde os 18 anos, o contador conta que, depois de tirar a carteira, só voltou a pilotá-las quando resolveu se juntar ao grupo. “Não tenho tanta destreza quanto a piazada, mas não deixo a desejar também”, diz sobre suas habilidades em duas rodas.
Por ainda trabalhar, Karçudo não consegue acompanhar os companheiros em viagens mais longas, mas se diverte com os fins de semana em que vão para o interior do Paraná e de São Paulo ou para Santa Catarina. Para além do passeio de moto, as viagens servem para fazer e rever amigos. Socialização e amizade, aliás, são os grandes benefícios do grupo para Hermes, segundo ele. “Aqui dentro, tanto faz o cara ser rico ou pobre. Não tem distinção se você tem uma moto possante ou não. Temos um companheirismo mesmo”, diz, satisfeito. E complementa: “Enquanto o corpo aguentar, eu estarei aqui”.
SAIBA MAIS
Se você gosta de motos e viagens e se inspirou por essas histórias, confira algumas dicas para tornar os passeios mais agradáveis e seguros:
Reconheça os próprios limites sobre duas rodas e avalie suas condições físicas e reflexos necessários para dominar o veículo.
Faça visitas periódicas ao médico para averiguar a saúde do coração, pulmão e articulações. Cigarro e bebidas alcoólicas são itens a riscar da lista.
Haja com sabedoria. Não abuse da estrada, não se exponha ao risco e evite viajar à noite.
Procure um clube para ter a companhia de pessoas com interesses e gostos em comum.
Busque informações sobre climas hostis e intempéries. Dependendo do destino, estude sobre a fauna selvagem local, que muitas vezes faz parte da paisagem. Um bom planejamento também envolve conhecimento sobre os costumes locais e, é claro, alternativas de hospedagem.
Garanta combustível de reserva, caso vá cruzar áreas muito desertas.
Esteja com a documentação sempre em dia, para evitar problemas com guardas locais e fronteiras.
Fique atento aos equipamentos essenciais, tais como capacetes, luvas, roupas impermeáveis e itens de camping, se for o caso.