Saúde e Bem-Estar

Quando as filhas passam a entender o comportamento das mães

Eloá Cruz
06/05/2016 21:30
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Esther Cristina Pereira, 52 anos, é espelho para a filha Carolina Pereira Frizon, 24 anos, que se viu mais como a mãe após o nascimento de Mariana, de apenas dois meses. | Gazeta do Povo

Talvez a frase que uma filha mais tenham ouvido de sua mãe seja: “um dia você vai me entender”. E não é que esse momento realmente chega para muitas mulheres? A constatação (ou reafirmação!) pode ocorrer depois da chegada do primeiro filho, por conta da saudade devido à distância ou, infelizmente, em decorrência de uma perda.
A mãe era diretora da escola e apaixonada pela profissão de psicopedagoga. Desde pequena, a filha Carolina Pereira Frizon estava sempre junto dela. Estudou durante a vida toda na escola em que a mãe, Esther Cristina Pereira, 52 anos, trabalhava. Com o passar dos anos, um sentimento de admiração foi crescendo dentro da filha. “Desde pequena eu via que ela era sempre respeitada em tudo o que fazia”, comenta Carolina.
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A filha cresceu com o desejo de se tornar professora. Os anos passaram e, na escolha do vestibular, Carolina seguiu o caminho da mãe: a psicopedagogia. “Eu sempre tive a certeza da Educação. No último ano da escola eu já sabia que era isso, queria estar na sala de aula”, confessa.
Dito e feito. Carolina se formou e hoje trabalha junto com a mãe, na mesma instituição. Com 24 anos, a jovem vive pela primeira vez a experiência da maternidade. A pequena Mariana, com apenas três meses, veio para estreitar ainda mais a amizade entre gerações. “Minha mãe sempre falava que é preciso ter calma, porque o mundo é uma bola. Eu sempre fui muito agitada e hoje vejo que minha mãe tinha muita razão. A minha filha me exige calma o tempo todo”, explica a jovem mãe.
Carolina diz que é muito parecida com a mãe. “Acho que nós duas somos bem agitadas, comunicativas e bem emotivas. Quando eu escolhi o caminho da pedagogia via como minha mãe era feliz na profissão. Era isso que eu também queria para mim”.
A filha quis seguir o caminho da mãe. E para a mãe Esther Cristina, educar os filhos é uma tarefa constante, exige ser um exemplo para eles o tempo todo. “Eu sigo muito a premissa de que é preciso mostrar, não só dizer o que deve ser feito”, esclarece. Para Cris, toda mãe não pode deixar de passar aos filhos aquilo em que acredita, sempre.
De mãe para filhas
Mesmo longe, mãe e filhas não ficam mais de 15 dias sem se ver. As gêmeas Iorhana Maiara Aguilera Tozoni e Mariana Naiara Aguilera Tozoni, de 23 anos, cursam juntas a faculdade de Direito e moram em Curitiba. A mãe, a bancária Marina Aguilera, de 46 anos, vive na capital paulista.
Por viver em cidades diferentes, os abraços se encontram poucas vezes durante o mês. Na maioria dos dias, as tecnologias da comunicação a distância ajudam a suprir a falta do colo e dos abraços da mãe. Mensagens via Whattsapp e bate-papos por Skype são diários e necessários.
Mesmo com os quase 400 quilômetros de distância entre Curitiba e São Paulo, o afastamento não parece grande – tornou-se ainda menor depois da experiência de intercâmbio encarada pelas gêmeas. Iorhana e Mariana toparam a proposta de morar por seis meses em Braga, Portugal, incentivadas pela mãe.
Morando em Curitiba, as gêmeas Iorhana e Mariana Tozoni, 23 anos, passaram a entender melhor a mãe,  Marina Aguilera, 46 anos: a distância e a saudade fizeram toda diferença.<br>Fotos: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Morando em Curitiba, as gêmeas Iorhana e Mariana Tozoni, 23 anos, passaram a entender melhor a mãe, Marina Aguilera, 46 anos: a distância e a saudade fizeram toda diferença.<br>Fotos: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
“Ela sempre foi uma mãe liberal e queria muito ter feito um intercâmbio. A gente também queria fazer, mas nunca fomos atrás. Até que um dia, na PUC, ela resolveu inscreveu a gente e deu todo o apoio”, conta Iorhana. Então em fevereiro do ano passado, a mãe levou as duas filhas até Portugal e, antes de chegar ao destino do intercâmbio, as três aproveitaram para curtir Braga juntas por alguns dias.
Foram seis meses de contato intenso à distância. Por estar em um país novo, continente diferente, às vezes batia uma insegurança por parte das meninas. “A gente tinha uma liberdade maior e uma independência maior. A gente pagava as nossas contas e sabia que se tivesse algum problema, não teria como correr para a nossa mãe e pedir para ela resolver”, comenta Iorhana.
A saudade batia e com os problemas diários, as filhas descobriram o lado prático herdado da mãe. “Eu me espelhava nela [na mãe], tentava resolver tudo da forma mais simples possível. Eu voltei diferente, cresci muito”, diz a filha.
A mãe, assim que soube da data do intercâmbio, preparou uma surpresa para as filhas. Ela se programou, planejando o orçamento e suas férias, de que iria retornar a Europa na metade do período do intercâmbio das filhas sem que elas soubessem. “Foi como em um filme. Nos encontramos em Londres, numa estação de trem à meia-noite em ponto, só para se abraçar”, conta a mãe. Marina preferiu curtir a viagem sem estragar o planejamento das filhas. Enquanto a mãe fazia seu passeio de forma mais convencional, as filhas curtiam as mesmas cidades em um mochilão com os amigos.
Com a experiência, a mãe percebeu o quanto era importante para o crescimento delas que as filhas ganhassem o mundo com as próprias pernas, literalmente. “Elas tinham que tomar decisões por conta própria, aprender a conciliar o orçamento. Depois da experiência, eu recebi duas jovens muito mais preparas para o mundo”, comemora.
Mania de adolescente
A publicitária Luciana Wandscheer Pojda, de 28 anos, confessa que não tinha uma excelente relação com a mãe, Marilene Wandscheer, quando era adolescente. Para ela, era coisa da idade. “Eu reclamava de coisas bobas, como quando minha mãe passava aspirador de pó enquanto eu assistia tevê na sala. Ficava emburrada. Hoje eu percebo que é preciso passar o aspirador na hora que dá para passar (risos), sou bem igual a ela”.
Luciana Wandscheer Pojda, 28 anos, com a mãe Marilene Wandscheer, já falecida: desavenças na adolescência e inspiração até o fim.<br>Foto: arquivo pessoal
Luciana Wandscheer Pojda, 28 anos, com a mãe Marilene Wandscheer, já falecida: desavenças na adolescência e inspiração até o fim.<br>Foto: arquivo pessoal
Luciana casou-se aos 23 anos e, ao sair de casa, percebeu o quanto a mãe tinha razão em suas atitudes. Elas começaram a se ver muito mais, conversar mais, sair. “Eu sentia a falta dela e comecei a dar valor a várias coisinhas que ela fazia em casa e que eu nem me tocava, porque ela sempre fazia tudo e não pedia ajuda para nada”, conta.
Há mais ou menos dez meses, a mãe da estudante, com 60 anos na época, foi diagnosticada com um tumor maligno no endométrio, falecendo dois meses depois. E, para Luciana, a dolorida saudade se tornou em aprendizado. “Qualquer problema que eu tinha, ou qualquer coisa legal que me acontecia, eu ligava para ela e contava. Hoje eu não tenho isso, parece estranho. Muitas vezes eu penso em como ela iria se portar numa determinada situação e o que ela iria dizer, pois ela era mais calma e compreensiva do que eu”, desabafa.
Neste domingo (8), Luciana vai passar seu primeiro Dia das Mães sem o afago dela. A publicitária lamenta pela mãe não estar mais presente, mas tem consciência de que não deve ficar triste. “Como ela foi uma pessoa muito forte e dona de si, eu também tenho que ser”.