Saúde e Bem-Estar

O parto normal

Adriano Justino
01/10/2007 01:07
Intervenções
A Organização Mundial da Saúde condena a chamada “cascata de intervenções” no parto normal. Em 1998, recomendou “o mínimo possível de intervenção que seja compatível com a segurança”. Alguns procedimentos são necessários em certos casos, mas estão sendo usados como rotina na maioria dos partos.
Lavagem intestinal: não há benefício em usá-la de forma rotineira, além de ser desconfortável. A mulher pode optar por ela se estiver constipada.
Tricotomia: a raspagem dos pêlos pubianos não reduz a incidência de infecções e o crescimento dos pêlos pode ser bastante desconfortável.
Jejum: defendido por médicos e hospitais durante o trabalho de parto para a eventualidade de uma cesárea. Pode provocar fraqueza e desnutrição.
Posição: a mulher deve ter liberdade de movimentos. A posição deitada de costas aumenta a dor, desfavorece a descida do bebê – nas posições verticais, como de cócoras ou sentada, a gravidade ajuda – e aumenta a possibilidade de lesões na vagina. Monitoramento fetal constante e administração de soro são outros procediemntos dispensáveis em gestantes de baixo risco e que limitam os movimentos.
Ruptura artificial da bolsa: o objetivo é apressar o parto. Mas o líquido tem efeito protetor e o rompimento aumenta as chances de infecção e cria um limite de tempo para o parto.
Administração de ocitocina: drogas para acelerar o parto tornam as contrações mais dolorosas e difíceis de suportar para a mãe e para o bebê. Os riscos incluem restrição do suprimento de oxigênio para o bebê e uso de mais intervenções, aumentando a chance de uma cesárea.
Episiotomia: o corte na abertura da vagina para aumentar o canal de parto tem recuperação bastante desconfortável, pode inflamar e infeccionar. A cicatriz pode afetar o prazer sexual e provocar dor durante a penetração.
Manobra de Kristeller: quando a enfermeira ou anestesista faz força sobre a barriga da mulher, empurrando o bebê. É condenada em qualquer situação, mas ainda usada em alguns hospitais brasileiros.
Mitos e medos
Dor: a dor no parto é resultado da contração muscular do útero e da distenção de diversas estruturas no canal de parto. Mas ela pode ser intensificada por sentimentos como medo e estresse e pelo modelo de assistência. As intervenções acima podem explicar muito da dor. Há formas de aliviá-la, como banhos de imersão ou de chuveiro, massagens, liberdade de posição, presença de pessoas queridas e de confiança. Também há a analgesia de parto, que evoluiu muito nos últimos anos. Ela não é inócua, mas é uma alternativa. E a promessa de um parto sem dor no caso da cesárea é falsa, já que a cirurgia causa dor no pós-parto, período em que a mãe deveria estar disposta a “maternar” seu bebê.
Ficar com a vagina “larga”: a vagina é flexível e a única forma de aumentar sua força são exercícios específicos. Intervenções como a episiotomia, a posição deitada de costas e o puxo dirigido (a ordem para fazer força) são o que lesam o períneo.
Ficar com bexiga caída: o vilão não é o parto, mas a própria gravidez, a genética e a idade. Nesse caso, os exercícios também ajudam.
Parto normal após cesárea (PNAC): ao contrário da crença geral, é possível. O principal risco é de ruptura uterina (taxa de 0,2 a 0,5%). A ruptura também ocorre em mulheres que nunca tiveram filhos ou foram operadas, às vezes antes do trabalho de parto. O risco de uma cesária ainda pode ser maior.
Saiba mais
Internet:
www.doulas.com.br
www.partodoprincipio.com.br
www.amigasdoparto.com.br
www.rehuna.org.br
www.partohumanizado.com.br
www.institutoaurora.com.br
Livros:
Parto Normal ou Cesárea? O que Toda Mulher Deve Saber (e Todo Homem Também), Simone Grilo Diniz e Ana Cristina Duarte, Ed. Unesp / Humanizando Nascimentos e Partos, Daphne Rattner e Belkis Trench (oganizadoras), Ed. Senac / Quando o Corpo Consente, Marie Bertherat, Thérèse Bertherat e Paula Brune, Martins Fontes / Parto Ativo: Guia Prático para o Parto Natural, Janet Balaskas, Ed. Ground
Agradecimentos: Lorena Franco Dallalana, 7 anos; Thaís Cabral, 8, Isis Cabral, 9, e Dafyne Batista Basso, 8, que fizeram os desenhos desta reportagem.