Saúde e Bem-Estar

Parto domiciliar também pode ser fotografado

Carolina Kirchner Furquim, especial
29/03/2016 10:45
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Parto domiciliar pode levar horas e até mesmo mais que um dia inteiro. (Foto acima: Márcia Kohatsu)
Encontrar quem fotografe partos cesárea, boa parte deles programados, é fácil. Porém, achar quem registre partos normais, que dependem do andamento do processo natural de nascimento e podem levar muitas horas, é uma tarefa complicada. Esses partos têm menor número de intervenções técnicas e cirúrgicas possíveis, além da presença ativa de uma doula, de uma enfermeira obstetra, do pai do bebê e de outros familiares no momento do nascimento.
Assim como a doula, a enfermeira obstetra e o médico obstetra, o profissional de fotografia deve ser alguém que inspire confiança e tranquilidade para a gestante, diz a fotógrafa Márcia Kohatsu, uma das profissionais que apostou em ensaios de partos domiciliares. “Nos reunimos algumas vezes antes do parto, para que no dia a mulher não se sinta incomodada com a nossa presença”, explica. O ideal, diz ela, é que o fotógrafo passe despercebido durante o trabalho de parto, mas esteja atento aos momentos e às necessidades da gestante, da família e dos profissionais envolvidos.
Uma das características mais marcantes do profissional que optou por fotografar este tipo de parto é a disponibilidade. A fotógrafa Luciana Zenti, que trabalha em parceria com Márcia, conta que não existe tempo estimado para a sessão de fotos, pois tudo depende da duração do trabalho de parto. “É sempre uma surpresa. Pode ser algo relativamente rápido ou durar mais que um dia inteiro. Pedimos sempre que nos avisem logo no início do trabalho de parto, para que possamos retratar todas as fases deste dia, passando pelas contrações, pelo nascimento e pelos primeiros cuidados com o bebê”, detalha. As emoções de uma mulher que em breve se tornará mãe, segundo Luciana, são muito fortes e contam muito da história do parto. “Tudo o que antecede o nascimento é muito bonito. Depois que o bebê chega ao mundo, registramos os primeiros momentos, a primeira mamada e a família chegando para conhecê-lo”, completa.
O casal que se interessar pelo registro deverá investir, em média, R$ 1,3 mil, um valor que se equipara aos serviços de uma doula. “Este custo se justifica porque o trabalho de fotógrafos de parto humanizado começa muito antes do nascimento. Ficamos disponíveis 24 horas por dia no intervalo que vai da 37ª à 42ª semana de gestação. Neste período precisamos estar prontos a qualquer momento em que a gestante nos ligar, seja durante o dia ou na madrugada”, conta Márcia. Após todo o acompanhamento do evento, que pode durar horas, existe o período de edição das imagens, que demanda mais alguns dias de trabalho.
Muito além de fotos
Tanto é o desenvolvimento deste nicho, que no último ano Luciana esteve em Brasília participando de um curso com mulheres fotógrafas de todo o país, buscando se especializar nesta área. “Eu sempre digo que a fotografia de parto não é uma profissão, é um estilo de vida. A gente escolhe fazer parte de um dos momentos mais importantes na vida de uma mãe, de um casal. E esse amor pelo que a gente faz só existe porque acreditamos muito na essência do que fotografamos, que é o parto com amor e respeito”, analisa Luciana. Segundo ela, como ainda é grande o tabu em torno da questão, a fotografia ajuda a disseminar o conhecimento de que existe outras formas de nascer. “Não temos a menor pretensão de julgar o que é melhor ou não para cada um. O que queremos é levar informação às pessoas para que elas possam, de fato, fazer sua melhor escolha”.
Para Márcia, fotografar partos é mais do que um simples registro fotográfico. “Trata-se de uma oportunidade de entendermos nossa própria história e também de a família reviver e entender este momento, que pode ser uma das experiências mais profundas e transformadoras de suas vidas”, coloca.
Para ela, as fotos ainda têm uma importante função social, pois, além de divulgar, informar e esclarecer questões sobre o parto humanizado, colaboram para boas transformações nos padrões obstétricos atuais. “Estamos vivendo um período de mudanças profundas, com o combate à violência obstétrica e nascimentos cheios de intervenções desnecessárias, ao mesmo tempo em que se constrói um novo olhar baseado no protagonismo feminino, no direito à informação, na livre escolha e no atendimento respeitoso sem qualquer tipo de violência à mãe e ao bebê. E a fotografia há muito tempo se coloca como uma ótima forma de comunicar e inspirar essas transformações”, conclui.

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