
Loja Hermès Azabudai Hills em Toquio: exemplo de experiência 360º. Crédito: Reprodução/Hermès.
Entrar em uma loja e sentir o cheiro no ar. A música baixa que parece acompanhar os passos. A luz que bate de um jeito que valoriza não só a peça, mas o instante. O café servido no canto, quase como um convite para ficar mais tempo. Tudo isso é pensado para que a gente viva a moda — e não apenas a compre.
O chamado marketing sensorial transformou o ato de consumir em espetáculo. Se antes bastava ter uma vitrine bonita, hoje a loja virou cenário, o provador é palco e o cliente, protagonista. Marcas entendem que vender não é só entregar um produto: é criar memórias que tocam visão, olfato, tato, paladar e audição. Porque, no fim, a gente volta não apenas pela roupa, mas pela lembrança que ficou.
Mas até que ponto isso é sustentável? Encantar é fácil — difícil é transformar o encantamento em retorno. Marketing sensorial não pode ser só efeito especial: precisa ser estratégia. Para uma marca de luxo, oferecer um universo multissensorial é quase natural. Para uma rede popular, pode soar como gasto. A diferença está em como transformar atmosfera em fidelização. E é aqui que a experiência pode valer mais que o preço.
No fundo, não é diferente do que acontece quando nos vestimos. Moda não é só roupa — nunca foi. Ela é uma forma de comunicação, quase uma linguagem silenciosa. É identidade visual, presença, aquilo que nos antecede antes mesmo de falarmos qualquer palavra. Mais do que um cartão de visita (expressão burocrática demais para algo tão sutil), o que vestimos é uma narrativa. E, quando usamos a moda ao nosso favor, essa narrativa se transforma em poder.
Seja no provador de uma grande marca ou no armário de casa, vestir é também uma experiência. A peça que desliza macia no corpo, o som do salto batendo no chão, o perfume que fica no casaco. Pequenos detalhes que compõem lembranças e contam histórias. Talvez seja isso que faça com que a roupa que abraça valha mais do que a que apenas impressiona.
No fim, o marketing sensorial 360° é só uma tradução comercial desse instinto humano: a busca por sentir. Se a compra termina no caixa, a experiência continua ecoando na memória. É essa memória que fideliza, que nos faz voltar, que transforma o simples ato de vestir em algo muito maior.
Porque, no fim, não é só sobre moda. É sobre viver histórias em cada detalhe.
Colunistas
Agenda
Animal