Um cenário, quatro estações e dois anos de espera. A simplicidade dos números que envolvem o trabalho do fotógrafo Daniel Castelllano contrastam com seu esforço e com a complexidade da sua obra ao retratar uma das ruas mais populares em Curitiba, a Deputado Heitor Alencar Furtado, no Mossunguê. Conhecida como Rua do Outono, o endereço virou cartão-postal de Curitiba e invadiu as redes sociais neste outono pandêmico de 2021.
A ideia surgiu despretensiosamente, com uma foto clicada no outono de 2019 e publicada nas redes sociais de Castellano. “Depois de um tempo, uma médica que mora lá perto me mandou uma mensagem na primavera dizendo que as árvores que eu tinha fotografado estavam bem verdinhas. Foi então que tive a ideia”, conta o fotógrafo, que tem mais de 15 anos de experiência e começou seus cliques no fotojornalismo, na Gazeta do Povo.
Depois da ideia, Castellano partiu para o planejamento: como captar o melhor das estações em quatro cliques? Para começar, marcou exatamente o ponto da primeira foto. “Marquei uma árvore que está meio descascada como referência”, explica, e contou com a ajuda de amigos e conhecidos para acompanhar as mudanças da paisagem. “Como moro muito longe da região da foto, não conseguia estar lá sempre para ver. Mas meus contatos iam me avisando”, explica.
Além da paisagem, controlar a luz também foi parte do processo. “Existe toda uma questão de espera, programação, para que a luz não fique muito diferente entre as fotos. Em cada foto foi usada uma fotometria, mas optei por usar a lente 105mm para manter o mesmo ângulo em todas”, conta.
E o resultado compensou. O trabalho irretocável rendeu a Castellano não apenas uma satisfação pessoal, mas também o reconhecimento de milhares de pessoas. “Foi o trabalho de minha autoria mais visualizado e compartilhado até hoje”, comemora. Para se ter uma ideia, só no Facebook foram mais de 26 mil compartilhamentos. “As fotos são feitas para rodar, não adianta guardar com a gente, elas são feitas para visitar a casa das pessoas”, diz.
Toda esta fama e reconhecimento contrasta, porém, com o trabalho solitário do dia a dia, muitas vezes iniciado quando o sol ainda não se levantou. "Fotógrafo é uma profissão solitária, vou sozinho, tenho ideias, planejo, executo, tudo sozinho. Mas hoje, com as redes sociais temos um termômetro do nosso trabalho”, reflete Castellano, que atualmente direciona seu trabalho para a documentação e fotos institucionais, principalmente a fotografia urbana.
Sobre a comercialização dos seus trabalhos, Castellano diz que não os faz pensando nisso, mas que não descarta os pedidos de eventuais clientes interessados em levar mais da cidade para dentro de suas casas. “Para estes trabalhos, faço a impressão em fine-art, o mesmo material usado em exposições em galerias”, explica.
Para o futuro, o fotógrafo não descarta repetir o modelo de seguir as estações do ano ou documentar a passagem do tempo em seus trabalhos. “O que passa na minha cabeça é que tenho que continuar a fazer este tipo de documentação, seguir meu planejamento, porque as pessoas gostam. O caminho é esse, as pessoas gostam de um trabalho mais elaborado, mais pensado.”
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