Curitiba

Curitiba ganha novo mural com reverência ao modernismo

Por Yuri Casari, especial para Pinó
23/12/2022 15:35
A arte urbana é um processo em constante movimento. Muros e fachadas são transformados em tela e enriquecem visualmente as grandes cidades. Não seria um exagero dizer que Curitiba, que possui uma sintonia ímpar entre os belos e suntuosos monumentos públicos e os painéis e grafites espalhados em muros e paredes, é uma gigantesca galeria de arte.
O muralismo, aliás, merece sempre um destaque à parte na capital do estado. Terra de Poty Lazzarotto, Curitiba possui murais icônicos de diversos artistas locais, de outras regiões e até mesmo do exterior. Essas obras fazem parte da identidade curitibana. “Os murais tornam a arte muito palpável. É muito importante que você mostre a arte a céu aberto para que as pessoas tenham condições de visualizar, apreciar e conhecer”, opina Liliana Cabral, marchand da Artestil Galeria de Arte, local com mais de 40 anos de serviços prestados à arte paranaense.
Com base nessa opinião, e no desejo de homenagear o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 – um dos mais expressivos momentos da história da arte brasileira, a Artestil decidiu promover a produção de um mural em sua sede na Rua Carlos de Carvalho, no bairro Batel. A proposta de ter um painel já existia desde a inauguração do espaço em meados de 2021, e o projeto começou a se materializar com o convite feito ao artista piauiense Hudson Melo para a execução da peça.
Em quatro dias, justamente no período em que a Semana de Arte Moderna completava 100 anos, no mês de março, o mural foi concluído. “O Hudson é um artista que nós representamos e que faz murais no mundo todo, em cidades como Londres e Berlim. É um artista que apresenta um trabalho bem diferenciado e que aceitou o desafio. Ele conseguiu captar exatamente o que queríamos, usando a simbologia paranaense no mural”, conta Liliana.

Visibilidade

De acordo com Liliana, o painel de Hudson Melo consegue atingir o objetivo de toda arte urbana: alcançar o público em geral, do mais apaixonado pelas artes até aquele que se julga alheio a qualquer manifestação artística. “A arte dentro de museus e galerias, acaba tendo um público muito restrito. Quando expandimos para as ruas, a arte se multiplica. As pessoas criam um vínculo e se aprofundam, procuram conhecer. Quando nós lançamos o painel nós tínhamos visitas durante o dia todo, de pessoas perguntando quem havia feito, elogiando e postando nas redes sociais”, lembra. “A arte exposta externamente traz para dentro da galeria pessoas que talvez nunca entrassem aqui”, completa.
A arte dentro de museus e galerias, acaba tendo um público muito restrito. Quando expandimos para as ruas, a arte se multiplica.
Liliana Cabral, marchand da Artestil Galeria de Arte.
A visibilidade promovida pela obra, inclusive, proporcionou novas oportunidades à Artestil, que passou a ser consultada sobre a possibilidade de produção de novos painéis. “Já temos algumas pessoas nos procurando para fazer intervenções em edifícios e fachadas de residências, e isso veio em função desse mural. O muralismo tem que ser mais difundido pois embeleza nossa cidade e cria um prazer pela arte no público”, destaca.

Legado

Dono de um trabalho de cores vibrantes e expressivas, Hudson Melo aceitou prontamente a missão de homenagear a histórica mostra e, ainda, trazer uma relação com a cultura paranaense. O artista conseguiu imprimir na parede as características marcantes da região e do modernismo brasileiro, sem deixar sua própria identidade de lado. “Meu trabalho tem muita presença na figura humana e é muito figurativa, com elementos que trazem uma leitura direta. Não tem muita relação com a abstração, apesar de gostar muito. E então comecei a fazer relações com os símbolos de Curitiba e do Paraná”, detalha.
O painel apresenta a tradicional araucária, a gralha azul e o Museu Oscar Niemeyer, além de um homem e de uma mulher. Foi uma forma encontrada para personalizar os artistas do movimento artístico objeto da obra. “Tem essa relação também do homem e da mulher, tendo em vista figuras importantes da Semana de Arte Moderna. Eram poucas mulheres mas ali já se iniciava a ter uma visão sobre isso na época”, afirma, em referência às mulheres que participaram do movimento, como Anita Malfatti, Guiomar Novaes e Zina Aita.
Para Hudson, o principal legado deixado pela centenária exposição é a consolidação de uma identidade realmente brasileira das artes. “O modernismo exercita no artista brasileiro o fortalecimento do senso de originalidade. Você percebe que existe uma maneira de existir como pintor, mas falando da nossa amálgama, do que nos compõe. Temos uma maneira bem singular, nossa escola de pintura brasileira é muito original”, conclui.