Influência oriental

De arquitetura marcante, Memorial Árabe exalta a cultura dos imigrantes na capital paranaense

Yuri Casari, especial para Pinó
21/09/2022 20:21
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As colunas e vitrais são os principais elementos estéticos do memorial, lembrando a tradicional arquitetura árabe. | Leo Flores

A pluralidade de etnias não é uma exclusividade de Curitiba. Longe disso, qualquer cidade elevada ao posto de metrópole se torna um chamariz a pessoas de todos os lugares, que partem de seus locais de origem em busca de uma vida melhor. Mas é preciso reconhecer que a capital dos paranaenses tem uma relação especial com as culturas que passou a abrigar no decorrer da história.
A cidade foi fortemente influenciada pelos imigrantes na culinária, na política, na arquitetura, nas artes e há espalhados por aí monumentos e espaços públicos dedicados a etnias que fazem de Curitiba o que ela é. Do Memorial da Imigração Polonesa à Praça do Japão, as artes registram de maneira reflexiva a passagem dos diferentes povos por esta terra. Assim também é com os árabes. Grupo étnico predominante no Norte da África e no Oriente Médio, em Curitiba contou com maior presença de sírios e libaneses, que formaram uma relevante colônia por aqui e têm no Memorial Árabe merecida homenagem.
Inaugurado em 1996, o espaço fica no trecho inicial da Avenida João Gualberto, em uma localização privilegiada, rodeado por outros prédios, praças e instituições de grande valor social e cultural de Curitiba, como o Palacete Leão Júnior, o Colégio Estadual do Paraná, o Passeio Público e a Praça 19 de Dezembro. Apesar dessa atenção compartilhada, é impossível ficar alheio ao Memorial Árabe.

Detalhes

Misteriosa por fora, a edificação de características árabes abriga um Farol do Saber.
Misteriosa por fora, a edificação de características árabes abriga um Farol do Saber.
A edificação de cerca de 140m² em formato de cubo possui uma atrativa cor vermelha e características peculiares, como uma abóbada em vidro, discreta e dependendo do ângulo imperceptível para quem olha de fora, mas que vista da área interna se mostra fundamental para a beleza do monumento. Há também as imponentes colunas e vitrais coloridos com padrões mouriscos, além de um espelho d’água.
Outro detalhe que pode passar despercebido por quem ali passa de maneira desatenta é a faixa de azulejos azuis que está na parte superior das paredes externas. Nela está trechos da primeira surata (capítulo) do Corão, o livro sagrado do Islamismo. A maioria dos árabes que vieram a Curitiba depois da Segunda Guerra Mundial seguem a religião muçulmana, um contraponto aos imigrantes árabes que desembarcaram entre o final do século XIX e a década de 1940, de maioria cristã.
O memorial, assim como a praça que o abriga, recebeu oficialmente o nome do escritor Gibran Khalil Gibran, um dos mais proeminentes nomes da cultura libanesa, que também é lembrado em um busto de bronze. Mais do que a estética singular, o espaço serve aos curitibanos como um Farol do Saber, tradicional biblioteca pública com unidades espalhadas pela capital. Inclusive, há na biblioteca acervo específico de literatura árabe.

O olhar do fotógrafo

O busto de Gibran Khalil Gibran, o poeta libanês que dá nome à praça e à biblioteca do memorial, recebe a visita de um bem-te-vi.
O busto de Gibran Khalil Gibran, o poeta libanês que dá nome à praça e à biblioteca do memorial, recebe a visita de um bem-te-vi.
O fotógrafo curitibano Leo Flores mais uma vez entregou à Pinó a sua interpretação fotográfica de mais uma das diversas obras expostas no museu a céu aberto de Curitiba. E assim como para muitos curitibanos, conhecer o Memorial Árabe por dentro foi uma experiência inédita. “Para mim foi uma surpresa. Eu já havia passado milhares de vezes pela frente, mas nunca tinha entrado”, afirma.
Para Leo, o vitral é o principal destaque. “O vitral visto por dentro é muito bonito, foi um encanto. Diferente de um vitral de igreja, ele fica meio escondido atrás de uma parede grande. A abóbada no alto dá a luz, mas ela não atravessa. Tanto que quando está à noite, você não o vê de fora. Mas de dentro é um paredão imponente”, relata.
"O vitral visto por dentro é muito bonito, foi um encanto. Diferente de um vitral de igreja, ele fica meio escondido atrás de uma parede grande."
Leo Flores, fotógrafo.
Para as fotos que ilustram a Pinó deste mês, Leo utilizou uma lente 100mm para fotografar os detalhes, principalmente do vitral, e uma grande angular para destacar as dimensões da parte interna do Memorial Árabe.