Curitiba

Influência oriental: a história da estátua de Confúcio em Curitiba

Por Yuri Casari, especial para Pinó
23/02/2023 13:09
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A imponência dos 2,96 metros revestidos em bronze contrastam com uma expressão serena e reflexiva do rosto esculpido com traços chineses. Com 1,5 tonelada, repousa sobre a rotatória que conecta as ruas Marechal Hermes e Dep. Mário de Barros uma estátua que parece observar calmamente o Centro Cívico de Curitiba, região sede dos governos municipal e estadual, como se tivesse o poder de influenciar as decisões tomadas a poucos metros dali. Talvez, realmente o tenha, já que a figura representa um dos mais influentes pensadores da história.
A escultura é uma homenagem ao filósofo chinês Confúcio, que viveu entre os séculos V e VI antes de Cristo. Adepto de pensamentos centrados em um comportamento ético e moral, o pensador valorizava como pilares de uma sociedade harmoniosa a família, a tradição e o ritualismo, o que para ele fazia fortalecer as relações sociais. Mais do que um direcionamento para situações meramente cotidianas, Confúcio refletia sobre normas de conduta para uma organização social e política que trouxesse progresso e, assim, inspirou milhões de cidadãos e políticos mundo afora.
Muito antes da criação da internet, das redes sociais e do termo influencer, Confúcio usou de seu conhecimento e de seu poder de comunicação para influenciar. Os ensinamentos de Confúcio foram responsáveis por ditar o comportamento da sociedade chinesa por muito tempo, inseridos na cultura de outros países asiáticos, como a Coreia do Sul e o Vietnã, e espalhados também no Ocidente. No Brasil, por exemplo, há mais de uma dezena de publicações sobre o confucionismo disponíveis nas prateleiras das livrarias. Até hoje, o filósofo é celebrado em seu país. Todo dia 28 de setembro é comemorado o Dia de Confúcio na China. E estamos falando de uma personalidade que viveu há mais de 2,5 mil anos, com seus ideais resistindo a diferentes tipos de governos e dinastias.
Estátua de Confúcio feita em bronze é obra do renomado escultor chinês Wu Weishan.
Estátua de Confúcio feita em bronze é obra do renomado escultor chinês Wu Weishan.

Intercâmbio cultural

A escultura é considerada a primeira obra chinesa de grande porte a ser integrada ao patrimônio cultural brasileiro. Na época, o prefeito Rafael Greca afirmou que a peça era um elo cultural entre o país asiático e a capital paranaense.
A peça é obra de Wu Weishan, um dos mais renomados escultores do nosso tempo e representante máximo da arte chinesa contemporânea. O artista é um especialista em reproduzir chineses célebres. A instalação da obra contou, inclusive, com a presença do assistente de Weishan, o também artista Li Ji Fei.
A estátua desembarcou na cidade na semana de promoção da Bienal de Curitiba em 2017. A mostra, uma das mais relevantes do circuito artístico da América Latina, teve a China como país homenageado naquela ocasião. De início, a figura de Confúcio ficaria em exposição temporariamente, mas acabou sendo doada em definitivo pelo governo chinês, como forma de retribuição.
A escultura tem 2,96 metros e cerca de 1,5 toneladas.
A escultura tem 2,96 metros e cerca de 1,5 toneladas.

Sobre o artista

Formado em Artes nos anos 1980, Weishan recebeu diversas honrarias e distinções, como o prêmio Pangolin, em 2003, concedido pela Sociedade Real de Escultores da Grã-Bretanha, considerada a mais importante premiação da escultura mundial. Atualmente, Weishan é diretor do Museu Nacional de Arte da China, além de atuar em cargos diretivos de outras entidades artísticas chinesas.
Em sua trajetória, criou um estilo próprio que combina a tradição artística chinesa e o impressionismo ocidental. Sua obra se popularizou, principalmente, pela execução de estátuas de personalidades chinesas, como Confúcio. O filósofo, aliás, foi objeto da arte de Weishan inúmeras vezes, com exemplares espalhados por outras cidades do mundo. Para reproduzir o pensador chinês, ele buscou inspiração na clássica pintura de Wu Daozi, nas descrições do livro “Zuo Zhuan”, uma das mais importantes obras chinesas, e no livro “Os analectos”, principal obra com os ensinamentos de Confúcio.