Iniciativa ‘O Centro de Curitiba’ compartilha histórias da região central
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19/06/2023 23:41
Pessoa vestida de dinossauro caminhando pela Rua XV de Novembro. | Eduardo Aguiar/Divulgação
É improvável que qualquer pessoa que more em Curitiba não tenha ao menos uma história no centro da cidade. Seja uma visita à Rua XV de Novembro ou alguma questão burocrática, de saúde ou necessidade para resolver no bairro. O Centro, além de contar a história da ocupação urbana, é ponto de partida e de chegada das pessoas que a habitam. São esses deslocamentos no tempo, no espaço e nas memórias que a página do Instagram “O Centro de Curitiba” se propõe a narrar.
A iniciativa nasceu no final de 2021 da errância e curiosidade de dois viventes do bairro, os jornalistas Eduardo Aguiar e Heros Schwinden. Moradores do Centro há anos, um na região do Círculo Militar e outro próximo ao Bondinho da XV de Novembro, selam a parceria ao acaso de ocuparem posições estratégicas para realizar as pautas que aparecem.
O perfil no Instagram começou como um repositório de imagens do que chamava a atenção no dia a dia caminhando pela região. Mas logo o exercício chamou a atenção também do público. E foi assim que os jornalistas viram a oportunidade de ser porta-vozes daqueles que reconhecem no Centro alguma história para contar. “Começou a fazer muito sucesso. Porque o Centro da cidade é um sucesso. As pessoas têm um carinho, têm memória afetiva, ficam felizes em descobrir coisas novas”, conta Aguiar.
O movimento do Centro
Segundo o diagnóstico regional feito pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC) de 2021, a estimativa populacional para a Regional Matriz, que engloba o Centro, é de 209.807 habitantes. A quarta mais populosa do município. Mas a regional fica em primeiro lugar em número de estabelecimentos econômicos, mais de 112 mil. Essa quantidade corresponde a 25% do total de estabelecimentos de Curitiba.
Além disso, o Centro tem também a maior concentração de equipamentos relacionados ao lazer e ao meio ambiente, como parques e praças. Esses números demonstram que, além de ser uma das mais populosas, a Regional Matriz concentra o maior número de atividades econômicas e deslocamentos de pessoas para compras, lazer e outros assuntos.
Foi assim que O Centro de Curitiba se tornou uma iniciativa para estimular o comércio local, a circulação de pedestres, a preservação da história, da memória e da arquitetura da região. Deixou de ser um repositório de imagens para se tornar uma coleção de narrativas. “A gente vai se deparando com cenas, com imagens, com coisas inusitadas. E como andamos muito a pé, a gente vê as coisas acontecendo. Isso acaba gerando muito conteúdo”, explica Aguiar.
A área de cobertura com a qual se comprometem é clara: qualquer lugar, a partir do miolo da cidade, que possa ser feito à pé. Por isso, além do Centro, atuam também em parte dos bairros vizinhos, como Rebouças, São Francisco, Alto da Glória e Mercês.
Apareceu n’O Centro de Curitiba
N’O Centro de Curitiba se encontram desde publicações mais despretensiosas, como cenas feitas na rua em um domingo qualquer; a visão a partir de uma janela no 17º andar de um edifício na rua Nunes Machado; ou o registro de um dinossauro inflável caminhando pela Rua XV de Novembro; até apurações completas como a busca pelos PFs com melhor custo-benefício da região; ou uma série sobre os principais arquitetos do Centro e suas construções, como a lembrança do centenário de Elgson Ribeiro Gomes, que assinou a arquitetura de 18 edifícios no bairro. Muitas das informações históricas são localizadas em acervos digitais de jornais antigos, que trazem narrativas e imagens singulares sobre o Centro de décadas atrás.
Mas "O Centro de Curitiba", segundo seus criadores, não é apenas para falar sobre o passado. “A gente traz a história para discutir o presente e o futuro da cidade”, defende Aguiar. É com essa perspectiva que as pessoas que vivem e trabalham no Centro ganham destaque. Como a história de Noel Jardim de Almeida, o sapateiro que há 15 anos atende em uma portinha na rua Amintas de Barros; ou do Alcides, proprietário do Heris Bar, que existe desde 1999 e foi uma das locações do filme Estômago (2007).
Segundo Aguiar, o objetivo d’O Centro é ajudar a divulgar gratuitamente os pequenos comerciantes. “Muitos desses lugares não fazem marketing ou estão presentes nas redes sociais. Então, a gente gosta de mostrar pequenas iniciativas e comércios, tradicionais ou novos”, explica. É uma forma de adaptar o jornalismo da rua para o formato digital, e mostrar que quem faz o Centro de Curitiba são as pessoas e suas histórias.