De tirar o fôlego

Montanhismo é forma de desfrutar das belezas naturais do Paraná; dicas para começar

Monique Portela, especial para a Pinó
29/11/2022 12:11
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Ana Caroline Martinelli começou um cronograma de montanhas do Morro Pão de Loth ao Pico Paraná. | Acervo pessoal/Ana Caroline Martinelli

Com os dias mais quentes, parques e praças de Curitiba denunciam: queremos ficar ao ar livre. E muitas pessoas miram ir além. No horizonte da cidade, formações rochosas nos convidam a desbravar montanhas. É que Curitiba é uma cidade privilegiada – está localizada a poucos quilômetros de dezenas de morros tradicionais para práticas de montanhismo, que incluem caminhadas, trilhas e escaladas, fazendo a alegria de quem gosta de aventura.
Mas ao contrário do que pode parecer, a temporada de montanhismo acontece nos meses mais frios. Isso porque no verão as chuvas são mais intensas, favorecendo raios, deslizamentos e a aparição de animais peçonhentos, como serpentes, escorpiões e aranhas. Mas nem por isso a recomendação é deixar o programa de lado. “Dá para fazer montanha em toda época do ano, tudo depende do clima da semana”, explica Bruno Souza, guia de ecoturismo e proprietário da Trilha na Pegada, agência que organiza expedições às montanhas próximas de Curitiba. “Entre abril e setembro, a gente pode fazer qualquer trilha, das mais leves às mais pesadas. Quando saímos dessa janela, focamos em fazer trilhas mais leves, mais curtas.”
De acordo com André Caxeiro, presidente do Clube Paranaense de Montanhismo, a região mais visitada hoje é a do Pico Paraná, maior do Sul do Brasil, com 1.877 metros de altitude, rodeado por mais de 25 outros cumes, como Caratuva e Capuã. Mas, assim como Bruno, André não indica esses lugares para iniciar: “o ideal é começar gradualmente, dos menores até os maiores”, explica.
Esse foi o percurso da médica oftalmologista Ana Caroline Martinelli, natural de Sinop, Mato Grosso, e residente em Curitiba há 10 anos. Iniciante, mas com o objetivo de chegar ao topo da montanha mais alta do Sul do Brasil, ela procurou uma empresa de ecoturismo. “Me senti segura e amparada com guias que conheciam muito bem o trajeto, sempre dando dicas sobre o que levar em cada evento, e ainda pude estar em rede com outras pessoas que compartilham dessa mesma paixão comigo”, conta. Foram sete finais de semana subindo diferentes montanhas com graus de dificuldades crescentes, começando no Morro Pão de Loth e terminando no Pico Paraná. O cronograma foi montado justamente para que os montanhistas de primeira viagem pudessem, gradualmente, melhorar seu condicionamento e encarar cenários cada vez mais desafiadores.

Dicas para montanhistas de primeira viagem

“A primeira dica é: em hipótese alguma vá sozinho”, pontua André Caxeiro, que, além de presidente do Clube Paranaense de Montanhismo, é montanhista há quase 20 anos. “Temos celulares, mas eles podem falhar, acabar a bateria, molhar, quebrar. Então é importante ir com alguém que já conheça o lugar”. André pontua que o próprio CPM ministra uma série de formações para o público interessado em iniciar na atividade, como o Curso Básico de Montanhismo, que abarca temas como caminhada, acampamento e escalada.
Já Bruno Souza, guia de ecoturismo, indica usar vestimentas leves, mas evitar o algodão, seja em camisetas, calças ou meias. “Ele retém muita água, então se você suar ou pegar chuva, ele vai ficar o dia inteiro molhado”, conta. Um sapato de trilha seria o ideal, por conta das travas no solado que trazem mais segurança, mas um tênis de caminhada funciona para trilhas mais leves. Além disso, pelo menos 1,5 litro de água e lanches, como sanduíches naturais, frutas e doces no geral, que são carboidratos rápidos e energéticos. Depois, é só aproveitar o caminho.
“O montanhismo é um convite para deixar de lado o cotidiano, absorver as belezas que muitas vezes não prestamos atenção, reconhecer suas próprias limitações e medos e superá-los”, conta Ana. E aí, você aceita esse convite? Confira a seguir três morros e montanhas para começar!
Assistir ao nascer e pôr<br>do sol nas montanhas é um dos grandes atrativos da prática.
Assistir ao nascer e pôr
do sol nas montanhas é um dos grandes atrativos da prática.

Para passear: Morro do Cal

Localizado em Campo Largo, o Morro do Cal é um passeio para toda a família. A trilha tem duração entre 40 minutos e 1 hora, com três opções de caminho: nível fácil, médio e difícil, esta com auxílio de uma corda. Bruno afirma que já levou famílias com crianças a partir de 4 anos para a aventura. Com agendamento antecipado ou aos finais de semana, é possível subir e descer de trator, uma atividade lúdica e que também abarca no passeio pessoas com dificuldades de locomoção. O espaço conta ainda com restaurante, passeio a cavalo e camping, com a opção de acampar no alto do morro. Localizado em uma propriedade particular, o local é seguro e cobra R$ 10 pelo acesso, que dá direito a explorar as trilhas, além de usar o estacionamento e o banheiro.

Para começar: Morro Pão de Loth

O morro Pão de Loth é considerado uma trilha de nível fácil, mas já é mais desafiadora para quem está começando no montanhismo. Situada no Parque Estadual da Serra da Baitaca, no município de Quatro Barras, a trilha tem cerca de 9 km de ida e volta, mas com bastante caminhada plana na parte inicial. Cerca de 1 km da trilha inclui terrenos em ascensão, um pouco mais difíceis. “Aí a pessoa já pega um pouco mais de entendimento sobre montanhismo”, conta Bruno, da Pegada da Trilha. O pico fica no mesmo parque que o Caminho do Itupava e o Morro do Anhangava, nossa próxima dica para aqueles que desejam se desafiar um pouco mais e ir além de um passeio, mas efetivamente praticar atividades de montanha.

Para se desafiar: Morro do Anhangava

Ainda que seja mais curta do que a trilha do Pão de Loth, o Morro do Anhangava contém mais obstáculos. Íngreme, tem degraus de pedra, grampos e trechos de “escalaminhada”, termo que refere-se à necessidade de usar as mãos para escalar pequenas rochas ou partes com acesso um pouco mais difícil. A subida até o seu cume, que conta com 1.420 metros de altitude, pode levar mais de 1 hora, em um ritmo tranquilo. Além da trilha, o Anhangava é considerado um dos principais “campos-escolas” de escalada do Brasil. Isso se deve à quantidade e à qualidade das vias, que atendem desde escaladores iniciantes até os mais experientes. Mas, diferentemente de sua trilha, a escalada demanda equipamentos e conhecimentos específicos, que você pode começar a aprender aqui mesmo, em Curitiba.
O Anhangava é considerado um dos principais “campos-escolas” de escalada do Brasil.
O Anhangava é considerado um dos principais “campos-escolas” de escalada do Brasil.

Check-list

Já escolheu seu próximo destino? Então, antes de sair de casa, certifique-se de que você está levando todos os itens abaixo na mochila:
  • Pelo menos 1,5 litros de água;
  • Isotônico;
  • Lanches energéticos;
  • Lanterna de cabeça (headlamp);
  • Repelente contra insetos;
  • Apito, para emitir sons caso você se perca.
Quem chega ao cume de uma montanha deixa seu registro em um caderno. O gesto serve como memória, mas também auxilia equipes de resgate em casos de desaparecimentos e acidentes.
Quem chega ao cume de uma montanha deixa seu registro em um caderno. O gesto serve como memória, mas também auxilia equipes de resgate em casos de desaparecimentos e acidentes.

Atividade de montanha, só que na cidade

A escalada é uma das principais atividades de montanhismo, depois das trilhas. À primeira vista, parece intimidador, mas com conhecimento e prática, é possível transpor barreiras e se apaixonar por esse esporte que exercita corpo e mente. Quem mora em Curitiba, além dos setores de escalada em rocha nas cidades vizinhas, se beneficia de lugares para escalar indoor. Saiba onde:

Via Aventura

Espaço para escalada esportiva, com paredões altos que demandam uso de cadeirinha de escalada, cordas e demais equipamentos, todos fornecidos pelo espaço; e também tipo boulder, que são paredes mais baixas com agarras e colchões no chão que protegem em caso de queda. Professores ensinam quem quiser aprender a escalar. Fica nas Mercês, com diárias entre R$ 30 e R$ 45.
Onde: Av. Cândido Hartmann, 1377 - Mercês, Curitiba

Caverna

Ginásio de escalada voltado à prática de boulder para pessoas com diferentes níveis de experiência. Como nos demais lugares, é preciso usar um calçado específico para escalar, a sapatilha, que pode ser fornecida pelo espaço, bem como a bolsa de magnésio para melhorar a aderência das mãos nas agarras. A diária com equipamento custa R$ 38.
Onde: R. Treze de Maio, 102 - Centro, Curitiba

Campo Base

Tem a maior parede da América Latina para escalada esportiva. O espaço oferece minicursos de escalada indoor individual para iniciantes (R$ 45) e também outdoor – ou seja, para escalar na rocha – em grupos (valores sob consulta). Oferece, ainda, pacotes promocionais para festas de aniversário e eventos corporativos.
Onde: Avenida Presidente Kennedy, 35 - Rebouças, Curitiba

UBT

Em um espaço de 1200 m², é possível desfrutar de paredões de escalada tipo boulder, com os graus de dificuldade bem sinalizados para que você possa acompanhar a sua evolução. O minicurso de escalada com duas aulas e equipamento custa R$ 69. Vale a pena ficar de olho: o espaço costuma ser palco de diversos campeonatos de escalada abertos ao público.
Onde: Avenida Anita Garibaldi, 1874 - Ahú, Curitiba